terça-feira, dezembro 13, 2005

Egas Moniz: Único português Nobel
da Medicina morreu há 50 anos




Egas Moniz, o único português a ser galardoado com o prémio Nobel da Medicina, em 1949, pelo desenvolvimento de uma operação ao cérebro chamada lobotomia morreu há 50 anos, em Lisboa.
António Caetano de Abreu Freire nasceu em Avanca, concelho de Estarreja, a 29 de Novembro de 1874 e em honra do grande herói português, e suposto antepassado da família, o seu padrinho alterou- lhe o sobrenome Freire para Egas Moniz (nobre que teve a seu cargo a educação do rei D. Afonso Henriques).
Em 1949 recebeu o prémio Nobel de Medicina pelo desenvolvimento da lobotomia, mas por motivos de saúde não se deslocou à Suécia para receber o galardão, tendo a cerimónia decorrido, excepcionalmente, na sua casa de Lisboa, cidade onde morreu a 13 de Dezembro de 1955.
A técnica desenvolvida por Egas Moniz e que deixou de ser praticada pelos médicos há 30 anos tem sido alvo de polémica.
Em Julho deste ano, familiares de pacientes que sofreram esta intervenção exigiram que fosse anulado o Prémio Nobel atribuído em 1949 ao seu inventor.
Paralelamente, um novo livro e um historiador médico afirmam que esta intervenção cirúrgica, agora considerada "bárbara", só ajudou cerca de 10 por cento de 50.000 norte-americanos aos quais foi praticada entre meados dos anos 30 e os anos 70.
A lobotomia - usada para tratar doenças mentais, epilepsia e até dores de cabeça crónicas - foi desenvolvida em 1936 por Egas Moniz, que a praticou em pacientes com doenças psiquiátricas graves, como a esquizofrenia.
O processo consistia numa incisão em fibras nervosas que ligam o lobo frontal a outras regiões do cérebro, praticada através de orifícios feitos no crânio, daí resultando em teoria o fim do comportamento anormal do paciente.
Egas Moniz, muito respeitado a nível internacional por ter desenvolvido a angiografia cerebral (para detectar tumores), apresentou uma série de casos de sucesso em pacientes lobotomizados, o que lhe valeu a atribuição do Nobel da Medicina em 1949.
A intervenção esteve tão em voga que Rosemary Kennedy, uma irmã do antigo presidente norte-americano John F. Kennedy que sofria de ligeiro atraso mental, foi lobotomizada em 1940, com 23 anos.
Depois disso passou toda a vida numa instituição até à sua morte em Janeiro passado.
No final dos anos 30 os médicos tinham começado a relatar casos de muitos pacientes que ficaram como crianças, apáticos e ensimesmados depois da operação, e o seu uso começou a decair com o advento de medicamentos psiquiátricos eficazes em meados dos anos 50 e o uso crescente dos electrochoques.
A campanha em prol da revogação do prémio foi lançada por Christine Johnson, uma bibliotecária médica (de Levittown, Nova Iorque) e criou há vários anos um "site" na Internet (psychosurgery.org) para criar uma rede de apoio entre familiares de pacientes lobotomizados.
A avó de Johnson, que começou a sofrer alucinações em 1949, foi lobotomizada em 1954 depois de ser submetida sem êxito a tratamentos psiquiátricos e electrochoques, e passou o resto da vida em instituições.
A Carta Nobel não contém nenhuma cláusula que preveja a revogação de um prémio e a fundação ignora habitualmente as críticas, como aconteceu quando foi atribuído o Nobel da Paz ao falecido presidente palestiniano Yasser Arafat.
Egaz Moniz formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e depois de terminado o curso, em 1899, prosseguiu os seus estudos em neurologia nas Universidades de Bordeaux e Paris.
Mais tarde regressa a Portugal, torna-se professor na Universidade de Coimbra e posteriormente dedica-se à política durante alguns anos, primeiro como deputado no parlamento português (1903- 1917), depois como ministro das Relações Exteriores da Primeira República (1918) e finalmente como embaixador em Espanha (1918-1919).
Quando regressa à Medicina, dedica-se à Neurologia na Faculdade de Medicina de Lisboa, onde desenvolveu o método para diagnosticar tumores cerebrais (angiografia).
Em 1935, numa conferência internacional de Neurologia, ouviu uma palestra sobre os efeitos da leucotomia frontal (corte cirúrgico das fibras nervosas que ligam o lobo frontal às restantes partes do cérebro) no comportamento de chimpanzés.
A leucotomia foi, posteriormente, designada de lobotomia por Walter Freeman.
Em Novembro de 1935, Egas Moniz e Almeida Lima realizaram a primeira leucotomia e um ano depois são publicados os resultados das 20 primeiras operações.
No seu relatório afirmava que nenhum paciente tinha morrido durante a operação, e 14 dos 20 pacientes estavam curados ou tinham melhorado.
O médico português criou assim um interesse mundial sobre o assunto e nos Estados Unidos o neurologista Walter Freeman, influenciado por estes resultados, realizou várias cirurgias por todo o país.
A popularidade desta técnica diminuiu drasticamente nos anos 50, após ter sido provado que os efeitos secundários eram muito graves.

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