quarta-feira, novembro 16, 2005

Ovarense
Presidentes da Ovarense e do Sindicato
de Jogadores em rota de colisão


O presidente da Ovarense, Carlos Brás, acusou hoje o responsável máximo do Sindicato dos Jogadores de ser um "incendiário" na resolução do problema dos futebolistas com ordenados em atraso, "quando devia ser um agente de pacificação".
Num comunicado lido na sede da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), no Porto, fechado a qualquer interpelação por parte dos jornalistas, Carlos Brás acusou também Joaquim Evangelista de o ter ameaçado e tentado manobrar.
O presidente da Ovarense, da Liga de Honra, revelou ter sido abordado telefonicamente por Joaquim Evangelista, que alegadamente tentou "manobrar o conteúdo da conferência de imprensa" de hoje e o ameaçou caso pusesse em questão a dignidade do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF).
"Deixo já bem claro que não sou subornável e muito menos corruptível, não cedendo a ameaças, e todo o meu comportamento tem-se pautado pelo maior rigor, profissionalismo, isenção, honestidade e credibilidade", referiu.
Em declarações à Agência Lusa, Joaquim Evangelista desvalorizou as afirmações de Carlos Brás, considerando-as típicas de "quem está cercado e a disparar para todos os lados".
O presidente do SJPF lembrou que Carlos Brás tem "processos- crime a correr", um dos quais interposto pelo "próprio presidente da Assembleia Geral", além de "cheques devolvidos".
As acusações "revelam bem o carácter do dirigente", afirmou Evangelista, defendendo que o "sindicato tem sido bombeiro, mas que infelizmente não chega para todos os fogos".
A direcção da Ovarense acusa o sindicato, e concretamente o seu presidente, de estar por detrás do pré-aviso de rescisão colectiva apresentado pelos jogadores, de promover a insolvência dos clubes e o desemprego de futebolistas.
Carlos Brás referiu que Evangelista terá saído "agradado" de uma reunião com a Ovarense, realizada a 07 de Novembro, onde foi abordada a situação económica e o projecto da futura zona desportiva, mas que depois a direcção do clube foi confrontada com o pré-aviso de rescisão colectiva.
"Em todas as conversas ocorridas com o plantel nunca foi mencionado nada que nos fizesse encarar tal situação, até porque sabiam que tínhamos a receber dos patrocínios uma quantia, já vencida, que daria para pagar mês e meio de vencimentos", referiu.
O presidente da Ovarense concluiu que os jogadores, que reclamam o pagamento dos salários em atraso, só "poderiam ter alterado a sua forma de estar por influência do Sindicato" e que "não se terão apercebido das reais intenções" desse organismo.
Evangelista lamenta as afirmações de Carlos Brás e contrapõe com o facto de na reunião de 07 de Novembro o sindicato não se ter "comprometido nem condicionado", dado que "não se verga para ninguém e é a voz activa em defesa dos jogadores".
Para Joaquim Evangelista, o presidente da Ovarense teve uma atitude "oportunista", de um indivíduo de "enorme cinismo e irresponsabilidade, que tem um problema e que o esconde".
"(Como) Alguém que está à beira de um precipício e dá um passo em frente", acrescentou.
Carlos Brás referiu que a solução para os problemas do clube reside na criação da Sociedade Anónima Desportiva, que pressupõe a construção da sociedade "InvestOvarense SGPS, SA", que irá gerir toda a construção do complexo desportivo e o futebol profissional.
O presidente da Ovarense confirmou a existência de dívidas a quatro futebolistas (Marcelo Henriques, Eduardo Sousa, Paulo Moreira e Artur Marques), referentes à época passada, bem como o pagamento de mês e meio a cada jogador do actual plantel.
Brás contesta ainda o facto de "jogadores com vencimentos entre os 1.250 e 2.750 euros, correspondentes a cerca de sete salários mínimos nacionais líquidos de impostos, terem vindo para a comunicação social quase a equipararem-se a uns sem-abrigo".
Para o dirigente da Ovarense, os jogadores não se aperceberam ainda das intenções do sindicato, que, de acordo com Carlos Brás, defende a viabilidade dos campeonatos nacionais através da redução para 12 do número de clubes participantes em cada competição.
"Quando se fala tanto em jogadores desempregados, associado à limitação dos plantéis a 25 atletas, muito nos impressiona falar em rescisão colectiva. Extermina o clube e coloca mais 25 atletas no desemprego", referiu.
Carlos Brás questionou também a atitude do SJPF em relação, entre outros assuntos, "ao fluxo de jogadores estrangeiros de duvidosa qualidade e ao abandono do projecto de criação do Estatuto de Carreira do Jogador".
O dirigente da Ovarense questionou qual será o futuro profissional de Joaquim Evangelista e afirmou: "Parafraseando a jornalista Alexandra Tavares-Teles, Couceiro saiu do Sindicato para o Sporting, Carraça para o Benfica".
A direcção da Ovarense lembrou que, para inscrever os seus jogadores na Liga de Honra, teve que recorrer a investidores para pagar cerca de 150 mil euros, que foram direccionados para impostos e segurança social.
"Toda esta situação, e contrariamente ao que tanto se apregoa, não é culpa dos dirigentes, mas da actual conjuntura do futebol português", defendeu Brás, alertando o sindicato para a possibilidade de eliminação de quatro equipas e mais de 100 jogadores desempregados.

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