segunda-feira, agosto 22, 2005

A Calamidade do Estado

Afinal, parece que não estava tudo controlado. Ou, melhor, estava, apesar dos 10 (dez!) bombeiros mortos até este momento (o maior número de vítimas dos últimos vinte anos). Agora, depois das férias do primeiro-ministro e das férias do Presidente, deixou de estar. Depois de uma semana de incêndio em Pampilhosa da Serra, de 3/4 do concelho queimado, lá se pediu ajuda internacional.
Com aspecto preocupado, Jorge-Golfe-Sampaio sacode o problema para os patrões que, recomenda, precisam de libertar os seus empregados bombeiros para combater os fogos. José-Safari-Sócrates explica que só neste fim-de-semana os meios se revelaram insuficientes... António-Não-Há-Falta-De-Meios-Costa largou a arrogância das aparições nos rescaldos e apareceu com ar compungido, a dizer, agora, que há carência de meios... humanos!... Em vez dos três pelotões (cerca de 100 homens) de militares que tinham sido empenhados na vigilância e auxílio das populações, subiram o número para 500, mas a esmagadora maioria dos bombeiros profissionais continuam nas cidades...
Nem os anteriores governos, nem este, cuidaram de executar uma medida básica: custear integralmente o equipamento individual de protecção de cada bombeiro para que estes possam combater o fogo com outra segurança em vez das ordinárias t-shirts. A maioria das corporações não dispõe deste equipamento para os seus bombeiros. Como o equipamento custa cerca de 1250 euros por pessoa (capacete, máscara, luvas, fato, calçado), seriam precisos 42,5 milhões de euros para pagar o equipamento individual de cada voluntário (cerca de 34 mil).
Vamos, então, andando. O excelente Dragoscópio exagera. Não há calamidade pública. E, como não há calamidade, não é preciso decretá-la. Assim, sem o decreto de estado de calamidade pública, as celuloses recebem as suas indemnizações das companhias seguradoras e o País tranquiliza-se. E o primeiro-ministro pôde continuar de férias, telefonando duas vezes por semana a perguntar pelo País...
O cúmulo do abuso deste povo e desta terra é o desprezo dos governantes gerirem as crises em função das suas férias de luxo. Como é possível um Presidente e um primeiro-ministro, sabendo da situação de seca grave do País, conhecendo as previsões de temperatura, manterem as férias?... Como é possível não interromperem as férias para vir gerir a crise e tomarem medidas de excepção, como o empenhamento dos 6000 bombeiros profissionais, o reforço dos meios, o empenhamento dos militares na vigilância, o pedido de ajuda internacional?

Portanto, não há estado de calamidade!... Há a calamidade do Estado.(«Portugal profundo»)

3 comentários:

Alfredo de Sousa disse...

A este propósito, é sempre interessante evocar as sapientíssimas palavras do nosso caro Ministro António Costa, a propósito da vaga de incêndios:

«6. Os diversos serviços e organismos do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, do Ministério da Agricultura Desenvolvimento Rural e das Pescas, do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional dispõem dos mecanismos necessários para acorrer às necessidades das populações afectadas e estão já a fazê-lo no terreno, tentando repor o mais rapidamente possível a normalidade, sem necessidade da declaração de calamidade pública, tal como já ocorreu em anos anteriores, e respeitando as competências próprias dos Municípios.»

«8. O Governo continua a acompanhar a situação, garantindo a satisfação das necessidades das populações atingidas.»

(http://www.mai.gov.pt)

Será caso para dizer «Olha para o que eu digo e não para o que eu faço»????

Só em Portugal!

António Balbino Caldeira disse...

Grato pela citação. Deu-me a oportunidade de conhecer este óptimo blogue que linkarei na próxima actualização. Parabéns. E a luta continua.

Alfredo de Sousa disse...

Ainda a propósito desta verdadeira calamidade nacional, há questões que se impõem e para as quais há uma resposta que todos conhecem: o país está a arder porque alguns querem que ele arda pura e simplesmente. Não podemos ignorar que existe em Portugal uma verdadeira indústria dos incêndios e com eles todos "comem" (exceptuando, claramente, o Zé Povo que perde o pouco que tem), apesar de o Governo jurar que não há motivações económicas para a grande parte dos fogos florestais e quando algum incendiário é detido (apenas durante algumas horas), é-lhe imputada debilidade mental.
Mas todos sabemos que as evidências são mais que muitas para não acreditarmos nas historinhas que os nossos governantes contam à hora de jantar:
- todos sabemos que o combate aéreo aos incêndios é, apenas em Portugal, entregue a empresas privadas que obtêm lucros inimagináveis;
- investe o Governo 700 milhões de euros em submarinos, mas é incapaz de adquirir um avião Cannadair;
- há pilotos da Força Aérea que recebem formação específica para combater incêndios, mas passam o Verão de férias;
- a madeira queimada pode ser utilizada nas celuloses sem que a qualidade do papel seja alterada, mas é comprada a um terço do valor; quem ganha com isso?
Se não actuarmos atempadamente, a breve prazo Portugal terá uma paisagem semelhante à de Marrocos e andaremos todos a vender tapetes na Galiza.