quarta-feira, maio 10, 2006

Futebol
1.150 meses de salários em atraso
nos campeonatos profissionais


O Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (SJPF) revelou hoje que o número de salários em atraso nas ligas profissionais ascende a 1.150 meses, dos quais 375 registados na Liga e 775 na Liga de Honra.
Na lista de cumpridores do escalão principal, segundo o sindicato, inscrevem-se FC Porto, Sporting, Benfica, Sporting de Braga, Nacional da Madeira, União de Leiria, Paços de Ferreira, Naval 1º de Maio, Académica e Vitória Guimarães, entretanto despromovido à Liga de Honra.
Na Liga de Honra, os clubes com salário em dia são Beira-Mar, Desportivo Aves, ambos promovidos à Liga principal, Leixões, Olhanense, Santa Clara, Feirense, Moreirense, Covilhã e Barreirense.
No caso do Desportivo das Aves, que por lei tinha de pagar o vencimento até ao dia 05, o clube fez um acordo com os jogadores para o liquidar até ao dia 20.
Em conferência de imprensa, o presidente do SJPF, Joaquim Evangelista, quis, esta tarde, "denunciar anomalias" para "conjugar esforços tendentes à erradicação dos males de que enferma o futebol português".
Entre essas "anomalias", o dirigente enumerou multas abusivas, jogadores impedidos de treinar ou relegados para a equipa B, processos disciplinares sem qualquer fundamento, "black out" e ausência de seguros desportivos e ameaças.
Mas, para o sindicato, o problema mais grave tem sido o incumprimento salarial, que afectou, nomeadamente, o Vitória de Setúbal, Ovarense, Maia, Estoril, Marco e Portimonense.
Pelas mesmas dificuldades financeiras, Alverca, Felgueiras e Académico de Viseu nem sequer chegaram a entrar em competição.
Actualmente, segundo o sindicato, oito clubes/SAD's do escalão principal registam atrasos, enquanto na segunda divisão esse número é de 10. No entanto, em ambos os casos a totalidade do plantel (25 jogadores) é atingida.
Fazendo a comparação com a classificação final, o primeiro terço da tabela (1º ao 6º) da Liga regista 50 salários em atraso contra 125 da Liga de Honra. Entre os sétimos e 12º lugares, existem em ambos os campeonatos um atraso de 175. Na base da tabela (13º-18º) os números são superiores: 375 na Liga e 775 na Liga de Honra.
Para tentar minimizar os efeitos dos atrasos salariais, o sindicato gastou ao longo da época 100.000 euros, "esgotando as suas disponibilidades e tendo dado conta às entidades responsáveis, no sentido da partilha da solidariedade o que, infelizmente, não sucedeu".
Reportando-se ao diagnóstico preocupante feito no relatório da Deloitte sobre as finanças do futebol português, referente à época 2004/05, e recentemente divulgado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, o sindicato criticou a falta de acção das autoridades oficiais: Federação, Liga e Secretário de Estado da Juventude e Desporto.
Com a aproximação de eleições nos órgãos dirigentes do futebol, eventos importantes desportivos e a anunciada reforma legislativa, o presidente do SJPF manifestou a sua apreensão pela eventual continuação da falta de acção das entidades.
Evangelista também instou directamente o Secretário de Estado, Laurentino Dias, a cumprir a sua palavra e a avançar o mais rapidamente possível para a promulgação da nova Lei de Bases, um documento "a quem ainda ninguém teve acesso".
"Eu ainda tenho confiança no secretário de Estado. Mas não basta parecer, tem de se ser", referiu.
Pela parte do sindicato, foi feita a defesa de uma "radical mudança de mentalidades e de práticas", onde se incluem rigor na exigência de garantias bancárias para assegurar o pagamento de salários e a criação de um órgão de fiscalização autónomo para acompanhar o cumprimento das regras económico-financeiras.
Outras medidas preconizadas são um regime sancionatório para os incumpridores e a responsabilização efectiva dos dirigentes que não respeitem as regras desportivas e financeiras.
O SJPF anunciou que irá apresentar o diagnóstico dos campeonatos não profissionais, onde a tendência é para desenhar um cenário ainda "mais grave".

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