quinta-feira, maio 11, 2006

A palavra ao leitor
Quadras de Soares de Passos



A José Joaquim Gomes Coelho

Vinte anos! Ai, bem cedo arrebatado,/O guardaste no seio, oh campa fria!
Flor passageira, sucumbiste ao fado,/E seus perfumes, exalou num dia.

Quanta ilusão desfeita em seu transporte,/Sonhou glórias talvez! Sonhou amores!
Tudo, tudo aqui jaz!/ Carpi-lhe a sorte, /Derramai-lhe na tumba algumas flores.

De seguida as mesmas quadras depois da última e infeliz intervenção:

Ver o amor arder cedo arrebatado/O perdes-te do seio. Ó campa fria:
Flor passageira. Sucumbem ao fado/E seus perfumes egualou n’um dia

Quanta ilusão desfeita em seu transporte/Sonhou glórias talvez sonhou adores
Tudo tudo aqui jaz carrilhe a sorte:/Derramae lhe na tumba algumas flores:


Além desta falta de atenção, ainda podemos reparar outro erro grosseiro na sepultura onde se encontra um dos maiores valores da literatura do Porto e do país, o poeta e romancista Júlio Dinis. O falecimento do irmão de Júlio Dinis, ocorreu a 30 de Dezembro de 1855, mas na pintura dos caracteres recentemente realizado colocam 30 de Dezembro de 1885. este espaço, um “Memorial” da cidade do Porto, fica situado no cemitério de Agramonte, era merecedor de uma maior atenção, e ficaria bem, se procedessem á correcção desta lamentável situação.
A título de comentário, na campa do poeta Soares de Passos, autor do “Noivado do Sepulcro”, no cemitério da Lapa, também podemos verificar que dificilmente qualquer pessoa anónima que lhe pretenda prestar homenagem localizará este espaço, pelo quase desaparecimento dos caracteres do mesmo e quadra nem inserida. Realmente estas duas figuras Júlio Dinis e Soares de Passos já tiveram melhor atenção e carinho pela cidade que ambos tanto amaram.
Nós por Ovar também temos algumas situações incompreensíveis. Desde o dia 19 de Dezembro de 2003, que a Casa Museu Júlio Dinis está encerrada, deixou de estar acessível ao público em geral, a cidade ficou mais pobre na oferta.
Como devem imaginar uma casa fechada demasiado tempo, trás danos irreparáveis, ainda mais como é do conhecimento de quem a visitava, de que o Museu se encontrava com graves problemas de humidade e, apodrecimento das madeiras.
Aqui também dirijo um apelo aos responsáveis da nossa autarquia que desbloqueiem as causas, e intervenham o mais célere possível, no início das obras.
Lembro que este humilde espaço, é um espaço único, que permite ser o “gaudião” de memórias deste grande romancista, poeta e dramaturgo. Perante a sua precária saúde, a razão da sua estadia, Ovar proporcionou-lhe belos momentos, numa acalmia do seu estado de espírito, que o leva ilusoriamente pensar sentir-se curado.

António Ferreira Valente (in «O primeiro de Janeiro»)

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