The Show Must Go On...
Este foi mais um ano de triste show de votações nos grupos de passerelle.
De facto, urge a necessidade de alterar o sistema de votação actual. Não porque o mais importante seja ganhar, mas porque há que contornar os vícios do sistema e melhorar o Carnaval.
No que respeita à categoria de passerelle, as vencedoras já nem comemoram abertamente há dois anos e realmente parece sintomático o recolher à base, após a vitória, longe dos olhares furiosos das pessoas que viram de facto o cortejo passar.
Sim, porque o júri foi o único que não viu, o único que não percebeu e provavelmente o único que não conhece Cervantes. É triste perceber a inutilidade de um júri que não percebe a história que se conta, que não sente a vibração do público e que não privilegia a originalidade e a riqueza das maquetas.
E aqui chegamos a um ponto essencial. Acima de tudo, o júri deveria ser previamente e devidamente esclarecido relativamente aos temas dos grupos. Isto, porque se verificou mais uma vez este ano, que o júri desconhece muitas vezes os pormenores dos temas, que desconhece as histórias que se contam e que muitas vezes nem sabem do que se trata. E obviamente que, para alguém que avalia, é extremamente desagradável não saber o que está a avaliar. A avaliação torna-se superficial, tendenciosa e corruptível.
Em segundo lugar, está mais que na hora de sairmos do provincianismo de querermos que os júris sejam da terra, quando estamos fartos de saber que são parentes de A, B ou C, que preferem o grupo X, Y ou Z, e que votam, não de acordo com o que vêem, mas de acordo com que o têm que ver para que ganhe o grupo que querem que ganhe.
Por isso, evoluamos, façamos a experiência, não tenhamos medo da opinião daqueles que realmente percebem o que significa isso do Brilho, da Cor, da Confecção, da Animação, do Conjunto, da Alegoria.
Se continuarmos a insistir nesta fachada, penso que nem valerá a pena haver votações, uma vez que já sabemos que a vitória tende sempre para o mesmo lado.
Seria com certeza um sinal de evolução num Carnaval cada vez mais profissionalizado. A tradição já não é o que era. O Carnaval já não é feito no centro, a passagem do Carnaval já não se faz em frente à Câmara Municipal, e no meio destas mutações, parece que a única evolução necessária – que é aquela da escolha dos júris – não se altera. Porquê?
Porque se defende que as pessoas de fora não entendem nada de Carnaval? Pelo contrário, quem vem de fora, está longe das preferências e terá uma opinião muito mais conscienciosa e profissional, muito mais concreta e real. Porque o Carnaval de Ovar não é só das pessoas da Ovar, mas de todas as pessoas que o vivem e que contribuem para ele, que vêm assistir e que têm curiosidade por ele.
Há que abrir os horizontes, ou as palas, conforme os casos, e aceitar a evolução, como quem abre uma janela sobre o mar.
O que me parece é que muito provavelmente isso iria incomodar muitas alminhas, especialmente aquelas que percebem mais de cabaret do que de Cervantes.
Ana Isabel Almeida (daqui)
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