Hipotecar o futuro
Quando me desloco para a praia sinto sentimentos de tristeza, de impotência, de revolta e de vergonha.
Sinto tristeza e uma mágoa que nunca ninguém vai conseguir apagar por ver a construção de prédios nas dunas e florestas junto à praia. Ao nos deslocarmos para as praias do concelho de Ovar e o mesmo se continuarmos o caminho para Norte ou para Sul junto à costa vemos de ano para ano os pinheiros e mimosas entre outra imponente vegetação ser devastada e o ferro e betão serem cravados na inocente areia que ficará privada dos raios solares e da água das chuvas até sabe-se lá quando. E onde iremos nós efectuar os piqueniques e as sonecas que tão bem sabem no Verão? Onde irão chilrear e construir os seus ninhos as aves que mal imaginam que os homens malévolos se preparam para acabar com um Mundo que também devia ser delas?
Sinto impotência por saber que não consigo lutar contra os interesses mesquinhos e egoístas de pessoas que querem ter a sua mansão em plenas areias e floresta protegidas. Sinto impotência por saber que não consigo lutar contra os políticos corruptos, bem como os funcionários do Ministério do Ambiente que permitem revisões de PDM e pactuam com empreendedores imobiliários na alienação e exploração de áreas que devem ser património de toda a Humanidade.
Sinto revolta por saber que perante o galgar do nível da água do Mar e perante a destruição da floresta se está a pôr em causa a existência de praias, bem como da flora e fauna típica das zonas costeiras.
Sinto vergonha, porque os meus filhos e netos me irão perguntar porque os meus amigos destruíram as árvores que deveriam ser a sombra dos nossos passeios de bicicleta ou a pé ou a sombra dos nossos piqueniques e sonecas na rede amarrada já não em duas árvores e quais piqueniques e sestas?
Que haja uma verdadeira política nacional ou até mesmo da União Europeia que defina regras claras para as zonas costeiras, quanto a áreas de construção de prédios de baixa altura e de infra-estruturas turísticas e de toda a área que deve ser intocável, de acesso público e devidamente protegida.
Galopim Botelho in «Lápis de Minas»
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