terça-feira, junho 06, 2006

«É crucial aumentar exportações
para viabilizar a fábrica de Ovar»


José Ramos, em entrevista ao «JN», espera conseguir passar a produzir cerca de 70 mil unidades por ano em Ovar

A Salvador Caetano está a tentar expandir a sua fábrica de Ovar, que ontem comemorou o 35.º aniversário, com a presença do primeiro-ministro, José Sócrates, e o chairman da Toyota, Hiroshi Okuda. A cerimónia mostrou a vitalidade dos variados negócios do importador nacional da Toyota, que se estendem a cada vez mais áreas. Mas, José Ramos, vice-presidente do Conselho de Administração, revela que o tema forte será o crescimento desta fábrica, emblemática para o grupo.

JN:Há projectos de expansão, apesar de a conjuntura parecer pouco propícia?
José Ramos:Em termos de Salvador Caetano IMVT, que é uma sub-holding da empresa-mãe, a Fogeca, continuamos com a Toyota a querer potenciar cada vez mais a nível industrial a nossa fábrica de Ovar. Produzimos lá a Toyota Dina e a Hi-Ace e actualmente mais de 50% da produção da Dina é para exportação. Estamos, com a ajuda da Toyota e através dos seus distribuidores em toda a Europa, a expandir essa actividade.

Quer dizer que a fábrica vai crescer?
Temos esperanças de poder crescer ainda mais. A marca sempre mostrou grande consideração por nós, como prova a presença do chairman nas cerimónias de aniversário. De resto, a nossa estratégia é de continuidade e de procurarmos lutar para que Portugal não seja só um país de serviços. Acho que a indústria é que contribui mais para o Produto Interno Bruto e também enquanto portugueses queremos continuar com a fábrica de Ovar. É claro que não é fácil, precisamos da colaboração de todos. Devo dizer que temos tido algumas ajudas, especialmente dos nossos trabalhadores.

Qual poderá ser o crescimento em Ovar?
Com a Hi-Ace ou outra viatura comercial, se ganharmos essa aposta, poderíamos chegar a uma unidade muito maior que teria de produzir anualmente entre 70 a 100 mil viaturas. A maioria teria de ser para exportação e seria uma aposta muito maior do que actual, pois apesar de já exportarmos mais de 50% da Dina, trata-se de um mercado mais pequeno do que o previsível se a Hi-Ace aumentasse a sua quota. Esta aposta é importante e crucial porque, mesmo no caso da Dina, não podemos ficar por aqui, temos de crescer para cerca de 80% de exportação para podermos rentabilizar o projecto.

A exportação é, aliás, uma aposta clara da empresa...
Sim. Na CaetanoBus, por exemplo, fizemos a parceria com a Evobus, e depois um plano de reestruturação de que resultou uma renovação profunda da unidade, quer em termos de organização quer a nível do quadro de trabalhadores e estamos, por isso, agora numa fase de crescimento. Esta fábrica exporta 90% da sua produção. É claro que também aqui continuamos a lutar com algumas dificuldades, nomeadamente a nível de custos laborais.

Concretamente...
Concorremos com outros países e não podemos falar só nos de Leste, como é habitual e, em minha opinião um erro. Outros países europeus, nomeadamente a Espanha e a Alemanha são nossos adversários e somos confrontados com situações de concorrência mais vantajosa pela parte deles, graças à legislação laboral que têm. A nossa está, quanto a mim, completamente desenquadradas necessidades. Continuamos a não ter flexibilidade, que é uma coisa fundamental para podermos competir. Isto não são conceitos vagos, mas sim realidades perfeitamente comparáveis, como por exemplo, no que diz respeito às horas extraordinárias. Em Portugal, uma empresa que precise fazer horas extraordinárias poderá atingir num sábado 200% e depois o trabalhador ainda tem que ficar em casa, quando na Alemanha uma situação dessas não ultrapassa os 50% em termos de custos e em Espanha varia entre 30 e 60%. Por aqui se conclui claramente que o problema não é somente os países de Leste.

Temos, portanto, mão-de-obra demasiado cara...
E não só. Outro factor desfavorável é a quantidade de feriados e férias. Outra coisa que nos preocupa e penso que também é uma questão nacional é que as empresas precisam de melhorar a sua competitividade. Esta palavra pode soar como um chavão, mas a verdade é que é necessária. E para se conseguir melhorar a competitividade temos que pôr em prática nas empresas novas tecnologias e novos processos. Ora se não houver meios ou incentivos para as empresas renovarem os seus quadros e admitirem jovens com qualificações académicas para pôr em prática essas novas tecnologias e processos não adianta nada tentar. Isto acaba por funcionar como um círculo vicioso. Portanto, quando se fala em planos tecnológicos, acho que um factor importante seria criar incentivos e condições para que as empresas possam pôr em prática todas as suas melhorias tecnológicas que existem. Isto para, muito provavelmente, podermos, depois, aumentar o número de postos de trabalho.

Que incentivos?
Respondo com o exemplo da CaetanoBus, onde fizemos um plano de reestruturação, reduzimos, por negociação, alguns postos de trabalho e neste momento já estamos a admitir mais trabalhadores. Julgo que é assim que as coisas têm que acontecer para nos mantermos altamente competitivos. Neste contexto era importante que os dirigentes sindicais compreendessem que é preciso colaborar com o Governo e com os empresários para em conjunto levarmos este país a ser mais competitivo e criar mais postos de trabalho. Não podemos fazer as comparações com a Alemanha só para aquilo que nos interessa...

Podemos concluir que considera que a vida dos empresários continua difícil em Portugal.
Continua porque um empresário hoje em dia não pode deixar fugir as oportunidades de negócio. Aparece-lhe uma e admite pessoas. Depois, se não tiver flexibilidade está perdido. Mas não é só nas questões laborais da indústria que a flexibilidade emperra. No sector do comércio automóvel, por exemplo, o anúncio precipitado ou a demora na entrada em vigor de nova legislação causa enormes prejuízos, porque as empresas não podem trabalhar para stocks, pois os custos são muito grandes. Paramos agora mas para se trabalhar no fim do ano?É muito difícil aguentar isso.

Apesar de todas essas dificuldades, a Salvador Caetano continua a a diversificar as suas áreas de negócio...
Sim, a holding familiar, que é a Fogeca, diversificou de facto a sua actividade e tem uma estratégia multimarca, quer em Portugal quer em Espanha. Mas com a sub-holding Salvador Caetano IMVT as coisas restringem-se à Toyota e à Lexus. A família tem outras actividades, mas através de outras empresas que pertencem ao grupo liderado pela Fogeca.

No ano passado, o grupo comercializou cerca de 50 mil carros no mercado ibérico. A aposta multimarca é obrigatória actualmente?
A legislação passou a permiti-lo e, a partir daí, tudo passa a ir de encontro à questão da competitividade. As empresas têm os seus investimentos na área do após-venda e as oficinas para melhorar a sua eficácia estão preparadas para poderem dar assistência a várias marcas e é nessa perspectiva se vê o negócio multimarca. Quando a vendas é mais uma oportunidade de negócio. Ou seja quando surgiu a regulamentação do sector automóvel, quem tem uma só marca poderia ficar prejudicado. Mas como em tudo há vantagens e inconvenientes. Acho que um verdadeiro empresário deve procurar sempre potenciar as vantagens e resolver os inconvenientes. Foi isso que a família fez. Julgo que não era obrigatório, mas a família viu ali uma oportunidade de negócio e resolveu enveredar por aí.

Com bons resultados...
O mercado no ano passado cresceu meio ponto percentual, depois de no primeiro semestre ter mostrado melhores indicações com um aumento de vendas que chegou a atingir os 5%, mas depois o aumento do IVA traduziu-se por uma forte queda. Este ano as perspectivas também não são animadoras e pensamos que apresentará valores idênticos aos de 2005. No que diz respeito à Toyota, o facto de estarmos a introduzir novos modelos e novas motorizações faz com que tenhamos crescido mais do que a média, enquadrados, aliás, numa estratégia que já está estabelecida até 2010, em paralelo com o que o construtor tem definido a nível europeu.

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