Reserva Natural São Jacinto
Biólogos minimizam riscos das aves
migratórias na transmissão da gripe aviária
Há cerca de três anos que o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) faz rastreios do vírus da gripe aviária, através de recolha de fezes, aproveitando as habituais campanhas de captura e marcação de aves para estudos científicos. Grande parte das amostras têm seguido da Reserva Natural de S. Jacinto, em Aveiro, onde existe uma elevada concentração de aves aquáticas migratórias, para analisar nos laboratórios a pedido da Direcção-Geral da Veterinária.
Vitor Encarnação, biólogo do ICN, que faz anilhagem de aves há 30 anos, minimiza os riscos de transmissão do vírus H5N1 pelas espécies migratórias que chegam a Portugal de outros pontos do mundo. “Temos grandes dúvidas. Os factos baseados em estudos europeus dizem-nos que não há qualquer registo de aves selvagens saudáveis contaminadas. Morrem da mesma forma que as domésticas, logo não podem transportar o vírus a grandes distâncias”, explicou aquele especialista. Só foi detectado o H5N1 em aves moribundas ou mortas. Também não se registou nenhum caso de transmissão do vírus ao homem pelas aves selvagens mas sim de infecções de aves domésticas que tiveram contacto “muito prologado” com as pessoas atingidas. Nos rastreios que está a fazer, o ICN conta com a colaboração de técnicos e vigilantes próprios, assim como de outros colaboradores que desenvolvem projectos de investigação.
Ave anilhada em Aveiro recuperada morta em zona com casos de H5N1
David Rodrigues, engenheiro florestal e docente da Escola Superior Agrária de Coimbra, passa várias temporadas na Reserva Natural de S. Jacinto a colocar anilhas em aves aquáticas ao abrigo de um projecto apoiado pela Fundação Ciência e Tecnologia. O que permite obter informação importante sobre os movimentos migratórios e taxas de sobrevivência, por exemplo. A população de aves aquáticas é composta, sobretudo, pelo pato-real, que vive na região. No Inverno chegam as migradoras, sendo a marrequinha a mais comum, vinda da Escandinávia e Rússia (ocidental) através da rota migratória atlântica. Em mais de 200 informações no estrangeiro, foi detectada apenas uma ave marcada em Aveiro há dois anos que apareceu morta na Croácia, região onde têm sido registados casos do H5N1. Mesmo assim, este especialista considera que dificilmente chegariam a Portugal aves contaminadas. “À partida poderia indicar que os casos de gripe viária poderiam chegar cá ”, admite David Rodrigues, embora considerando tratar-se de uma possibilidade remota. “Mesmo que os pássaros fossem os vectores principais da disseminação da doença, este Inverno não chegaria cá pelos patos. Só se houvesse uma vaga de frio muito rigorosa no Leste Europeu e atingisse também o Sul de França”, explica o estudioso. “Em anos normais, este trânsito em direcção à Península Ibérica não se verifica. E teria de acontecer até ao fim de Dezembro”, acrescenta. Apesar disso, David Rodrigues defende a constante monitorização das aves migratórias o que tornará possível detectar rapidamente casos anormais, por exemplo, de mortandade. O vírus pode ser transportado nas aves pela via digestiva. Os caçadores são um dos grupos que devem ter maiores cuidados a manusear as aves. Mais do que isso, para já, garantem os especialistas, não se justifica. (in «Noticias de Aveiro»)
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