Ramos Costa lançou obra e estreou peça inspirada em «D. Quixote»
O elogio de um «cavaleiro andante»
«O Cavaleiro da Utopia» é a mais recente criação do director da Companhia de Teatro Água Corrente de Ovar – Contacto, Manuel Ramos Costa. A cerimónia de lançamento da obra decorreu na sede da companhia, em Ovar, que foi pequena para albergar todos os admiradores e amigos que quiseram compartilhar mais este momento com o encenador.
A obra vertida da incontida força criativa deste vareiro nascido no lugar da Ribeira, em 1956, brota nas mais diversas formas, e não encontra paralelo na actualidade da região.
Poeta e dramaturgo, Manuel Ramos Costa é, nas palavras do escritor e teatrólogo Fernando Peixoto, «um fabricante de sonhos». «Textos, adaptações, encenações, cenografias, figurinos, coreografia, desenhos de luz e som, desenho e pintura, programas de rádio, palestras, colaboração na imprensa, director artístico da Contacto, onde acumula um outro encargo, o de director do boletim “Água Corrente”, encenador itinerante transportando a sua carroça de Téspis pelos mais recônditos lugares deste país». Fernando Peixoto, que escreveu também o prefácio de «O Cavaleiro da Utopia», confessa a sua admiração pelo artista vareiro que «depõe a sua arte nas mãos de gente que de súbito descobre a maravilhosa arte que transforma o sonho na realidade efémera que é sempre o teatro».
«Esteta viciado», Fernando Peixoto descreve Manuel Ramos Costa como «o invólucro de um ser de carne, de sangue, de suor, de nervos e de lágrimas que esculpe, nos corpos cansados da gente de trabalho, as personagens imortais de grandes obras dramáticas».
Amigo de longa data do autor, o Padre Manuel Pires Bastos recordou os tempos do Manuel Ramos Costa, acabado de sair do lugar onde nasceu. No entanto, ressalva o pároco, «foi neste ambiente fechado, de costumes e tradições ancestrais respeitosamente preservadas, que se desenvolveu o espírito irrequieto e criativo de Manuel António da Silva Costa – o seu nome de registo e de baptismo -, a criança que viria a desabrochar no escritor, no poeta, no pintor, no dramaturgo e no encenador que conhecemos hoje como Ramos Costa».
Depois de percorrer as várias etapas do percurso do autor, Pires Bastos terminou a sua intervenção com a quadra que fecha «O Cavaleiro da Utopia» e que pode muito bem ter laivos de autobiográfica: «Cavaleiro Andante/Não há tempo a perder/O caminho é adiante/Onde tudo pode ser».
A obra de Cervantes é conhecida, mas Ramos Costa imprimiu-lhe o seu cunho pessoal. «Dom Quixote é reprimido e humilhado por quem o rodeia, porque as pessoas não reconhecem a sua bondade infinita e o seu desejo extraordinário e incansável de salvar o mundo, onde ele próprio quer ser feliz com a sua adorada Dulcineia», sintetiza.
Tendo publicado em Dezembro do ano passado «Final Feliz», Manuel Ramos Costa lança agora «O Cavaleiro da Utopia». A estreia da respectiva peça teve lugar no passado domingo, na Casa da Contacto, a cargo da Oficina de Teatro, e foi dedicada pelo autor e encenador a todos os encenadores «construtores de sonhos» que foi conhecendo ao longo da sua vida. A plateia estava confinada a cerca de uma centena de pessoas, mas a peça decerto será repetida para chegar a todos os interessados que não poderam assistir à estreia.(in «Diário de Aveiro», de 20 de Novembro)
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