Ovarense: Artur ilustra drama do plantel
«Choro diariamente a pensar na família»
Artur decidiu não ser mais o menino do coro. O amor à camisola fê-lo sonhar e acreditar nas promessas vãs dos dirigentes vareiros, mas agora tem nove meses de salários em atraso e, pior do que isso, não sabe como vai ser o seu futuro.
“Choro diariamente a pensar na família e no seu sustento. Vivo da ajuda dos nossos familiares e amigos. Nunca pensei chegar a esta situação”, revela o jogador, que já se viu forçado a falhar o pagamento de uma prestação da sua casa.
O capitão da Ovarense, há 17 anos no clube, reconhece que foi um erro quando, juntamente com outros colegas de equipa, aceitou na época passada declarações de dívida da entidade patronal, quando a rescisão por justa causa garantiria o reembolso dessas verbas.
Para já, Artur tem em dívida nove meses relativos à última época e mais dois da temporada em curso.
O recurso ao fundo de solidariedade do Sindicato dos Jogadores é apenas um balão de oxigénio para quem acumulou dívidas atrás de dívidas. Para além de Artur, existem outros casos como os de Marcelo, Paulinho, Eduardo Sousa e João Oliveira. Ou seja, todos os jogadores que permaneceram da época passada, já que os restantes processaram o emblema vareiro.
A situação é tão dramática que nem sequer se perspectiva uma saída para a crise que assola a Ovarense. Alguns jogadores estão instalados numa unidade hoteleira da cidade e já foram ameaçados com o despejo.
O proprietário reclama o pagamento de 20 mil euros. O projecto da formação da SAD ainda não deu frutos e os investidores tardam em aparecer. Enquanto isso vai valendo o brio dos atletas face a tantas adversidades. A Ovarense venceu na última jornada a equipa do Barreirense por 1-0 e prepara-se para dar boa réplica ao Leixões na próxima ronda. O estofo de quem já deu tanto ao clube não esmorece como nos relata Artur: “Temos o exemplo digno do Vitória de Setúbal. Na época passada foi ainda maior o nosso sofrimento e nunca deixámos de lutar com toda a galhardia para garantirmos a manutenção. A instituição e a cidade merecem todo o nosso respeito”.
Resta esperar pela próxima sexta-feira, na qual expira o prazo de pré-aviso de rescisão contratual. Carlos Brás, presidente da colectividade vareira, esteve incontactável.
MASSAGISTA SAI
O massagista cansou-se das promessas e bateu com a porta. Há sete anos e meio no clube, Valdemar Cabral saiu. “Não quero mais nada com essa gente”, referiu, criticando o presidente Carlos Brás. “Esse senhor mentiu-me e não deu provas da sua inocência”. E conclui: “A Ovarense não tem médico e agora fica sem massagista. Não tem medicamentos, ligaduras e adesivos. É muito triste viver com isto”.
SOFRÍVEL
O guardião internacional, Rui Correia, não envereda pelo discurso inflamado, tanto mais que só tem dois meses de salários em atraso. “No contexto do futebol português não é uma situação alarmante”.
EXPECTANTE
O caso muda de figura se a situação se mantiver. “Acredito no presidente quando este invoca a morosidade de soluções. Mas fico preocupado e apreensivo se a situação se prolongar. Somos profissionais com obrigações e direitos. Quem trabalha como nós trabalhámos merece respeito e credibilidade”, diz Rui Correia.(«Correio da Manhã»)
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