quarta-feira, agosto 02, 2006


José Cid
«Novas gerações vão-me tolerando»


Há cerca de dois anos, quando encontrei o José Cid no Furadouro, já ele falava no disco das baladas. O que ele não esperava era o movimento em que se vê envolvido de revivalismo em torno da sua carreira, por ocasião do lançamento CD «Baladas da Minha Vida».

Eu : É costume ter muitos espectáculos marcados na época do Verão?
José Cid: Por acaso é, porque não tenho nível para ir ao Centros Cultural de Belém ou ao Coliseu…

Eu: Não tem?! Porque é que um artista como você nunca tocou num sítio desses?
JC: Olha, porque não tenho managements em Lisboa, não faço parte de nenhum «lobby», não estou para isso. Eu sou da província, vivo aqui no distrito de Aveiro e o que eu gosto é de cantar e de surpreender e, por isso, é que faço isto. Tenho um belíssimo grupo a cantar comigo, em que figura o guitarrista Mike Sargeant, e adapto o meu espectáculo ao público que está à minha frente e vou cantando por aí.

Eu: Mas para além deste, sei que tem um espectáculo mais intimista…
JC: Sim, tenho uma cena mais cultural que se chama “Sons do Centro” e que se baseia na poesia dos grandes poetas do centro, como Miguel Torga, Manuel Alegre, Mota Tavares e José Afonso. Este concerto é acústico, com guitarras de Coimbra, gaitas de foles, percussão de pés e mãos e comigo ao piano. É uma cena diferente. Faço uma ou duas coisas dessas por mês. O que o público português quer é isto mas tenho o meu lado mais cultural.

Eu: Se o Rui Veloso é o “pai” do rock português, o José Cid o que é?
JC: Sou a mãe! (risos) Eu gerei-o. O Rui Veloso aceita essa designação porque está numa editora enorme e tem os tais managements que eu não tenho e provavelmente alguns lobbies de imprensa que eu não tenho. Eu sou muito mais franco e sonhador, enquanto que o Rui é muito mais politicamente correcto. Mas eu tenho muito mais voz que ele… Eu sou dois em um e não tenho o Carlos T, como ele. Eu gostaria de ter cantado um “Porto Sentido” ou coisa assim.

Eu: E ele será que não gostaria de ter cantado algo seu, como os “A cabana junto à praia”?
JC: Ele não conseguia no meu tom, talvez noutra expressão vocal.

Eu: Gosta que alguns grupos da nova geração regravem alguns temas seus, como aconteceu com “Coração de Papelão”?
JC: Acho imensa piada e há uma geração nova que me anda a descobrir, mas eu sou um dinossauro sem jardim zoológico. Prefiro tomar banho na Ria. As novas gerações têm outras opções mas vão-me tolerando, porque estão muito desenraízadas e eu sou muito português e o mais novos não são. Já não há portuguesidade…

Eu: E projectos para o futuro?

JC: Vou lançar um “best of” com as minhas baladas todas com tratamento acústicoto, num label chamado “Saudades do Vinil”. Vou aproveitar enquanto ainda tenho voz. Ninguém é eterno. Deve sair lá para Março do ano que vem.


O José Cid actua no relvado da Costa Nova, em Ílhavo, no dia 17, às 22h

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