quarta-feira, agosto 23, 2006

Roteiro Turístico de Ovar (1940)

Nos finais dos anos de 1940, a ROTEP (de: Roteiro Turístico e Económico de Portugal), com sede na Av. da Boavista, 1424, no Porto, editaria desdobráveis de papel forte com indicações geográficas e económicas dos concelhos do país (fechados mediam 16,8 x 22,4 centímetros; abertos oito vezes aquela dimensão). Não sei se foram editados todos os concelhos, mas tenho indicações de, pelo menos, 229 o terem sido.
Como se pode observar (...), as capas representavam espaços paisagísticos ou edifícios facilmente reconhecíveis dos concelhos, como a Câmara Municipal. No interior, havia uma pequena história do concelho.

Respigo algumas linhas do desdobrável de Ovar: «As antigas indústrias - fabrico de louças de barro sem vidrar [...] - desapareceram, suplantadas pelo aparecimento dos esmaltes e pela construção de paredões onde os grandes navios, que vêm ao Tejo, acostam comodamente. Oleiros e calafates são, em Ovar, figuras da tradição. As duas olarias sobrevivas dedicam-se, apenas, ao fabrico de vasos para jardim e algumas vasilhas para líquidos. Em sua substituição, todavia, temos uma importante fábrica de telha do tipo de marselha, tijolos e tubagem de grés e botijas. Tiveram larga fama de mestras de bordados a branco e de flores artificiais as mulheres que viveram em Ovar por todo o século passado [leia-se XIX]. Para as pessoas de bom paladar, subsiste a indústria do pão de ló, célebre entre as celebridades das gulodices nacionais».

E, durante parte do século XX, a fábrica de motores Rabor deu fama ao concelho, como numa das imagens mais pequenas abaixo se consegue descobrir.


Estas imagens, como se descobre facilmente, eram os mapas com apontamentos económicos, de trajes e tradições, num exemplo perfeito da ideologia do Estado Novo: a ruralidade, a auto-suficiência, a distinção de especificidades: as praias na Barrinha de Esmoriz, em Cortegaça e no Furadouro; as romarias em S. Vicente de Jusã, Senhora de Entre-Águas ou Senhora do Desterro; o chapéu vareiro, a nora, as fábricas.

Na última página do desdobrável, identificavam-se outros dados do concelho, como população e área do concelho. Em 1949, Ovar tinha estação telégrafo-postal de segunda classe, com horário para o público das 8:00 às 20:00 e serviço permanente de telefones. Então, publicavam-se dois semanários: João Semana e Notícias de Ovar.


À falta de um termo melhor, cunho como regionalista esta estética numa indústria cultural incipiente - o turismo. A segunda guerra mundial acabara pouco antes, vivia-se por toda a Europa um período de reconstrução e Portugal, apesar de não ter entrado directamente na guerra, procurava reorientar-se económica e politicamente (o que não aconteceu). A estética saída da Exposição nacionalista dos centenários (1940, em que se comemoravam a independência do século XII e a restauração de 1640) vincar-se-ia oficialmente, deixando outras estéticas (como o surrealismo e o neo-realismo) para outros agentes sociais e culturais.

(Texto e imagens fruto de pesquisa de «Indústrias Culturais»)

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