sexta-feira, abril 06, 2007

Palheiros



Dá-se o nome de palheiro a uma casa de madeira tradicional portuguesa que é construída sobre estacas. As estacas tanto podem ser de madeira como podem ser pilares de pedra. Os palheiros mais recentes até já chegaram a ser erguidos sobre pilares de cimento. Apesar do nome, estes palheiros não servem para guardar palha, mas sim para habitação.

Os palheiros foram um tipo de edificação típica da Ria de Aveiro, onde o terreno arenoso e alagadiço não permitia que se construissem casas assentes no solo. As construções palafíticas possibilitavam que as águas da ria pudessem subir, inundando o terreno, sem que atingissem a habitação propriamente dita. Permitiam também que a areia, arrastada pelo vento, passasse livremente por baixo das casas, sem que se acumulasse de encontro às suas paredes.

Os pescadores da região da Ria, sobretudo os que eram oriundos da zona de Ovar (os vareiros e as varinas), ergueram construções deste tipo em muitas praias situadas ao longo da costa continental portuguesa. Nelas habitavam durante alguns meses por ano, tempo durante o qual se entregavam à faina piscatória e vendiam o pescado nas povoações mais próximas.

Alguns destes pescadores deslocados acabaram por ficar a residir permanentemente em algumas destas praias, dando origem a novas povoações. Foi com palheiros habitados por pescadores que nasceram várias localidades costeiras, como Espinho e a Costa de Caparica.

Quando eram apenas habitações temporárias, os palheiros pouco mais eram do que casebres. Mas quando se tornavam habitações permanentes, eles já tomavam o aspecto de casas de madeira bem construídas. Sempre sobre estacas, bem entendido.



Actualmente, contam-se pelos dedos os palheiros que ainda conservam intactas as suas características originais. Infelizmente, estão quase todos em muito mau estado. Em Esmoriz e nas suas imediações, por exemplo, encontram-se três ou quatro palheiros que ainda apresentam a sua traça de origem. Dois deles ilustram este artigo e é provável que ainda exista mais um ou mesmo dois.

De resto, quase todos os palheiros que existiam ao longo da costa foram sendo deixados ao abandono e à ruína total, excepto alguns que foram progressivamente convertidos em casas de aspecto convencional. Em muitas destas casas, até a madeira original acabou por ser substituída por tijolo e cimento.

Muitos dos palheiros reconvertidos não merecem o mínimo interesse, mas há um caso em que eles acabaram por se tornar verdadeiras atracções turísticas. É o que acontece com os antigos palheiros da Costa Nova (de seu nome completo Costa Nova do Prado), no concelho de Ílhavo, que apresentam riscas pintadas de cores vivas produzindo um belo efeito e de que mostro três exemplares na fotografia reproduzida em baixo.



(Magnífico trabalho do «Matéria do tempo» com fotos do «Taxonomista»)

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