O que é o Portunhol que já é "língua oficial"
em centenas de páginas na Internet?
São centenas as páginas na Internet onde o portunhol é "língua oficial", a maioria na América do Sul, e o ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, é ali comummente apontado como defensor deste como "língua em gestação".
Há inúmeros exemplos que podem ser encontrados online sobre este linguajar ibérico e latino-americano, mas, para conseguir expressar-se num portunhol básico, um madrileno ou um "alfacinha de gema", só têm, segundo se pode ler em portunholselvagem.blogspot.com, que trocar o "b" pelo "v" e o "o" por "lo" e o "a" por "la".
Já mais sérias são as citações de Gilberto Gil, quando o músico, autor, intérprete e ministro da Cultura brasileiro, no V Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, Brasil, em 2005, defendeu ser o portunhol "uma língua em gestação, que está nascendo".
E o próprio dá um exemplo, ainda citado por blogues brasileiros que debatem o tema, para a eficácia do portunhol, quando, em Xangai, China, num encontro entre ministros da Cultura de diversos países, falou nesta "língua" que emerge do português e do castelhano, e foi "plenamente compreendido tanto por aqueles que dominam a língua portuguesa, como também pelos nativos da língua espanhola".
"O portunhol é uma manifestação espontânea, natural, vinda dos corpos e das almas culturais dos nossos povos. Nós precisamos nos entender, não sabemos um a língua do outro e temos, ao mesmo tempo, certos resíduos das línguas do português entre eles e do espanhol entre nós, o que nos propicia falar palavras", defendia Gil em 2005.
Em Portugal os exemplos de portunhol podem facilmente ser escutados na boca de jogadores de futebol ou treinadores latino- americanos.
A época festiva da Páscoa, que leva milhares de portugueses a Espanha e vice-versa é também um momento único, em qualquer loja de artesanato ou de "recuerdos", para ouvir o portunhol em acção.
Exemplos que Fernando Paulo Baptista, linguista e autor de inúmeros ensaios sobre a matéria, enquadra numa dinâmica proporcionada por duas línguas "intercomunicantes", tendo em conta a necessidade de as pessoas poderem comunicar quando "não dominam totalmente a língua do outro".
O autor de "Tributo à Madre Língua", que é um conjunto de ensaios sobre a língua portuguesa, admite a possibilidade, como defende Gilberto Gil, de o portunhol poder evoluir para uma língua de facto, mas adverte para o risco de poder acontecer um "efeito de sucção" do português pelo castelhano, atendendo à dinâmica e ao maior peso social e económico do mundo hispano-falante.
Contudo, Paulo Baptista, lembra que na América Latina essa fusão é mais fácil porque, naquelas latitudes, tanto o português (Brasil) como o castelhano, não têm um sistema linguístico tão estruturado e cimentado na história dos povos que as falam, constituídos em "mosaico dinâmico", como acontece na Península Ibérica.
Perante isto, e perante o fenómeno da globalização, o portunhol pode ser uma resposta facilitadora das aproximações exigidas por essa realidade consubstanciada pela acelerada queda de barreiras e fronteiras, não só económicas, mas também culturais.
No entanto, o académico sublinha a importância de, para que não haja perdas de nenhum dos lados, a "singularidade de uma língua não entre em conflito com a singularidade da outra", no caso o castelhano e o português, passando esse objectivo por "uma política da língua eficaz" ditada pelas autoridades competentes.
E lembra que é à língua portuguesa que "nós" devemos "em primeiro lugar" aquilo que somos.
Entretanto, num claro exemplo de portunhol utilizado nos inúmeros sítios online latino-americanos, é possível encontrar esta "pérola" em portunhol: "Prefiro los poetas que tienen la sabiduria de non se levarem muito a sério. Também non gosto di certos malabarismos eruditos idiotas".
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