terça-feira, novembro 19, 2024
“Observar o movimento de uma pequena cobra-de-água-de-colar atravessando um regato a nado, ou a calma de uma grande cobra-rateira a apanhar sol refugiada num silvado”, é uma possibilidade para quem visita o BioRia em Estarreja. E, sublinhe-se, sem representar qualquer perigo. Os anfíbios e os répteis são as estrelas do novo guia que o BioRia, projeto ambiental da Câmara Municipal de Estarreja, vai lançar este mês, em colaboração com a Universidade de Aveiro (UA).
Após a publicação dos guias de campo dos mamíferos e da flora do Baixo Vouga Lagunar, o foco centra-se agora nos anfíbios e répteis que ocorrem na região. A publicação visa facilitar a identificação das espécies, mas também desmistificar crenças negativas associadas a estes animais. Entre as espécies descritas encontram-se, por exemplo, o tritão-de-ventre-laranja e a salamandra-lusitânica, anfíbios ameaçados e endémicos (exclusivos) da Península Ibérica, ou seja, não podem ser observados em mais nenhum país do mundo, para além de Portugal e Espanha.
Além de descrever características e habitats, o novo guia conta com fotografias, ilustrações e mapas de distribuição para cada espécie, contribuindo para o conhecimento científico e a conservação do património natural da região.
Ecossistemas raros e paisagens únicas
O BioRia destaca-se como um importante elo entre os visitantes e a biodiversidade da região, onde é possível observar ecossistemas raros, paisagens únicas e animais ameaçados que aqui encontram refúgio e alimento.
Para o presidente da Câmara Municipal, Diamantino Sabina, o "projeto BioRia tem sido um marco significativo para a nossa região, não apenas na promoção do Município de Estarreja como um destino turístico de natureza, mas também na contribuição para a conservação da nossa fauna local. Cada espécie catalogada neste guia é uma peça fundamental do nosso ecossistema, e conhecer a sua importância é essencial para a sua proteção."
Convite à descoberta das espécies
“Este verdadeiro convite à descoberta dos répteis e anfíbios e da diversidade da fauna da região do Baixo Vouga Lagunar” foi produzido em colaboração com vários especialistas da UA.
O reitor da instituição, Paulo Jorge Ferreira, assina o prefácio da obra e explica que “os répteis e os anfíbios de que trata têm um impacto significativo na sustentabilidade dos ecossistemas e no equilíbrio ecológico. Para além de contribuírem para o controlo da população de algumas espécies e de algumas pragas, são fundamentais no equilíbrio das cadeias alimentares. Atuam como polinizadores e dispersores de sementes, contribuindo para a reprodução e diversidade das plantas, e intervêm na reciclagem de nutrientes no solo, tornando-os disponíveis para outros organismos”.
Além do mais, sublinha Paulo Jorge Ferreira, “os anfíbios são excelentes indicadores ambientais, porque são altamente sensíveis a mudanças na qualidade da água e na saúde dos ecossistemas aquáticos. A sua biologia única, incluindo a capacidade de metamorfose e a pele permeável, têm contribuído para importantes avanços nas áreas do ambiente e da saúde.”
“Era ela! Estava à nossa frente!”
Os autores que somaram horas de trabalho no terreno para trazer este livro à luz do dia contam uma história sobre o encontro inesperado com a salamandra-de-costelas-salientes, uma espécie difícil de encontrar e muito rara na região.
“Era uma hora da madrugada e do céu caía uma chuva miudinha. Numa pequena linha de água, a lanterna que usamos para procurar ao longe a pele brilhante dos anfíbios fez refletir umas protuberâncias alaranjadas. Era ela! Estava à nossa frente! Mas não ficava por aí: este exemplar era diferente, tinha na fronte uma banda que fazia lembrar uma ferradura. Um animal de uma espécie difícil de encontrar, e ainda por cima um indivíduo diferente, único! Ganhámos a noite!”
Preservação dos ecossistemas é o objetivo
Não faltam histórias como esta de momentos incomparáveis sobre descobertas e de contacto com espécies raras que serão partilhadas na sessão de apresentação aberta a todos os interessados.
Com este guia, concluem os autores, “queremos abrir uma pequena janela para que todos vivam um pouco do que nós vivemos, e sejam contagiados como nós fomos, para que juntos trabalhemos para um futuro melhor, preservando estes maravilhosos animais e os seus habitats. Afinal, não queremos que a janela se feche para os nossos filhos e netos”.
A apresentação pública do Guia de Anfíbios e Répteis terá lugar no dia 25 de novembro, às 21h00, na Biblioteca Municipal de Estarreja, com a presença dos autores Ivo Santos, Alexandre Azevedo, Fernando Correia e Victor Bandeira. https://www.ovarnews.pt/bioria-apresenta-guia-de-campo-de-anfibios-e-repteis/
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