terça-feira, dezembro 16, 2025



PS: A distância cada vez maior entre o discurso e a realidade
Para nós, vereadores eleitos pelo partido socialista, Emanuel Oliveira, Fernando Camelo de Almeida e Eva Oliveira, o orçamento municipal não é um simples documento contabilístico. É, antes de tudo, uma ferramenta de gestão estratégica, capaz de refletir a visão e a projeção, para construir o futuro. Cada escolha inscrita no orçamento funciona como um verdadeiro descodificador de políticas e prioridades, revelando o que é essencial para o desenvolvimento sustentável do concelho. É nesta dimensão, a da política e das políticas, que reside o compromisso: usar o orçamento como instrumento de mudança, de visão e de afirmação do futuro do nosso conselho.

“Município de bem-estar, cultura, inovação, natureza; um concelho moderno, dinâmico e capaz de atrair oportunidades.”, pág. 6, GOP.


Esta descrição é, no mínimo, desconectada da realidade: Educação a precisar de fortes investimentos na qualidade dos equipamentos, na qualidade do ensino e na diferenciação nos diferentes níveis de ensino;


Equipamentos culturais por concluir ou encerrados, como o Esmoriztur ou Cineteatro, sem horizonte realista de abertura;


Zonas de Acolhimento Empresarial obsoletas ou que continuam por criar; Unidades de Saúde Familiar fechadas, o contrário de um concelho que garante “bem-estar”; Respostas sociais gravemente insuficientes: creches, lares, centros de dia, apoio à população idosa,


quase tudo por fazer; Infraestruturas desportivas degradadas ou inexistentes em algumas freguesias, com a requalificação do pavilhão de Válega a arrancar 12 anos depois, é irónico um sinal de evolução a cada década.

Quando o texto introdutório não encaixa na realidade do território que governamos, não estamos perante uma visão: estamos perante marketing político. A narrativa promocional tornou-se impertinente porque descola completamente da realidade que os munícipes vivem.

O saldo entre a despesa e a receita corrente ultrapassa 1,25 milhões de euros. À primeira vista parece positivo. Mas, sabendo nós que estas despesas são permanentes e incompressíveis, como pessoal, bens e serviços, contratos, apoios, importa perguntar: até quando?


Se a despesa corrente continuar a ser alimentada desta forma, ficamos dependentes de uma almofada temporária para suportar custos definitivos.


Isto é estruturalmente perigoso. Não se cria futuro com despesas permanentes sustentadas em receitas incertas.

Temos uma margem de endividamento de 40,5 milhões. Poderíamos interpretar isto como virtude se o concelho estivesse equipado, modernizado e resolvido nas suas necessidades principais.


Não está.


A verdade é que Ovar está subalavancado em termos estratégicos. A Câmara tem margem para investir transformadoramente, mas não o faz. E quando um concelho com equipamentos por concluir e necessidades gritantes mantém esta margem intacta, o problema já não é financeiro. O problema é político. Falta visão, falta coragem, falta prioridade.


Se a dívida não é usada convenientemente e se o orçamento não suporta investimentos, significa que o problema não é financeiro, é de prioridade política, de ausência de futuro.

O orçamento global sobe apenas de 60 para 62 milhões, crescimento marginal, apoiado sobretudo em obras não realizadas nos anos anteriores.


O que verdadeiramente sobe é a despesa corrente. O que desce é o investimento de capital.

Resultado:


O município gasta cada vez mais para manter o que tem e investe cada vez menos para criar o


que falta.

Temos cerca de 15 milhões em transferências de capital, dos quais perto de 10 milhões vêm do


PRR. Estes fundos são extraordinários e temporários.


Pergunto, portanto: Sem esta receita externa, a capacidade de investimento cai abruptamente, enquanto a despesa corrente continua a subir. Isto coloca o concelho perante três riscos óbvios:


Necessidade futura de endividamento elevado;


Aumento de impostos municipais;


Ou cortes em serviços essenciais.

A despesa com pessoal atinge 19 milhões de euros, 30% do orçamento. É muito.


Especialmente quando não estamos a expandir equipamentos, nem a reforçar serviços essenciais e já não dá para estar sempre a justificar com a transferência de competências.


O aumento continuado desta rubrica gera uma máquina pesada e pouco flexível, que consome


recursos escassos e reduz a margem de investimento.

A receita corrente sobe sobretudo via IMI e IMT. A receita de capital desce.


A despesa corrente sobe. A despesa de capital desce. Este duplo movimento define um município estagnado. É o caminho para um orçamento cada vez mais engessado, com pouca estratégia e incapacidade de lançar projetos estruturantes.

74% despesa corrente, 26% investimento.

Este é dos indicadores mais preocupantes do orçamento:


74% do orçamento é despesa corrente;


Apenas 26% é investimento.

Perfil típico de municípios estagnados:


Muito gasto para manter funcionamento;


Pouco para desenvolver o futuro;

E sem estratégia clara de contenção, o desequilíbrio tenderá a agravar-se nos próximos anos; Mantém-se o funcionamento, mas não se constrói o futuro.

Para um concelho que se quer moderno, inovador e competitivo, ter a Educação como 8.ª maior rubrica é indefensável. Os municípios que lideram em qualidade de vida têm a Educação no topo das prioridades. Ovar não tem.

O Município conta hoje com 685 trabalhadores, número que não inclui prestadores de serviços.


Temos um trabalhador por cada 80 habitantes longe do rácio de referência, que aponta para 1 por cada 100 ou mais habitantes.


Mais preocupante: serviços operacionais fundamentais, como a Divisão de Conservação e Serviços Urbanos, têm falta crónica de pessoal. Ou seja, recrutamos muito, mas nem sempre para onde faz falta. Talvez a aposta em indiferenciados e fazer escola interna seja uma solução a considerar.

A estrutura orgânica, tem mais de uma década, é vertical, pesada e pouco ágil. O Município precisa de uma orgânica moderna, horizontal, funcional e mais eficiente.

O Orçamento Municipal de 2026 revela:


Um discurso político totalmente desalinhado com a realidade do concelho.


Um orçamento rígido, dominado pela despesa corrente.


Baixo investimento estrutural.


Dependência excessiva de receitas extraordinárias, como o PRR.


Prioridades invertidas em áreas essenciais como a educação e os equipamentos sociais.


Uma estrutura financeira que não está em colapso, parece claro, mas é estruturalmente frágil.

Ovar, 4 de dezembro de 2025

Emanuel Oliveira


Fernando Camelo de Almeida


Eva Oliveira https://www.ovarnews.pt/ps-a-distancia-cada-vez-maior-entre-o-discurso-e-a-realidade/

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