quarta-feira, dezembro 10, 2025

O Barco Moliceiro, símbolo maior da Ria de Aveiro e expressão singular da carpintaria naval tradicional, passou a integrar a Lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente da UNESCO. A decisão foi anunciada esta terça-feira, em Nova Deli, durante a 20.ª Sessão do Comité Intergovernamental.

A candidatura “Barco Moliceiro: Arte da Carpintaria Naval da Região de Aveiro”, apresentada pela Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA), mereceu aprovação após um processo que envolveu mestres carpinteiros, associações, investigadores e comunidades locais, num esforço conjunto para garantir a continuidade deste saber ancestral.

Este reconhecimento internacional sublinha a importância histórica, cultural e identitária do Barco Moliceiro e das técnicas de construção naval que lhe dão forma, hoje consideradas em risco de transmissão.

A distinção envolve diretamente os municípios que integram a CIRA — Águeda, Albergaria-a-Velha, Anadia, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos — reforçando o papel conjunto destas autarquias na preservação da herança cultural da Ria de Aveiro.

O Barco Moliceiro havia já sido inscrito em 2022 no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por iniciativa da Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA).

Na documentação patente no site da UNESCO é lembrado que, apesar de ser considerada uma prática representativa da identidade regional, apenas cinco Mestres construtores de moliceiros estão no ativo, quatro dos quais com mais de 60 anos de idade.

Com a inscrição na lista da UNESCO, abre-se um novo ciclo de valorização e projeção internacional, sustentado por políticas reforçadas de salvaguarda e pela promoção ativa dos mestres e oficinas que mantêm viva esta arte única da carpintaria naval portuguesa.

Um dos aspetos singulares dos barcos moliceiros são as pinturas da popa e da ré: "a proa é a parte monumental do moliceiro, em que figuras, desenhos e legendas são exclusivos, sem igual em qualquer tipo de navegação conhecido", escreveu Jaime Vilar, em livro dedicado àquela embarcação.

Nesse trabalho, o autor classificava as legendas da proa em "satíricas, humorísticas e eróticas", "religiosas", "românticas, brejeiras e pícaras", "profissionais, morais e históricas".

O mesmo autor, baseando-se em dados colhidos junto dos artífices, descrevia que um moliceiro mede, em média, "15 metros de comprimento, desloca cerca de cinco toneladas e tem o fundo plano e de pouco calado, pormenor que lhe permite navegar por onde barcos de quilha não passam".

Na década de 70 do século XX estavam registados três mil barcos moliceiros a operar na Ria de Aveiro, mas estima-se que subsistam pouco mais de 50 embarcações, metade das quais afetas à exploração turística nos canais urbanos da Ria.

De acordo com o instituto público Património Cultural, Portugal tem oito manifestações inscritas na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade, duas na lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente e um registo das Boas Práticas de Salvaguarda.

As duas outras inscrições portuguesas na lista de salvaguarda urgente são o barro negro de Bisalhães e a manufatura de chocalhos. https://www.ovarnews.pt/barco-moliceiro-inscrito-na-lista-de-salvaguarda-urgente-da-unesco/

Sem comentários: