quarta-feira, outubro 15, 2008

Duas faces

Discografia Duran Duran - 28
'Big Thing' (álbum), 1988

Depois de terminada a digressão que acompanhou o álbum Notorious (com registo em vídeo em Working For The Skin Trade), os Duran Duran regressaram a estúdio para imediatamente gravar um novo disco. O panorama musical mostrava sinais da chegada ao quotidiano da edição discográfica, às rádios e mesmo ao grande mercado, das sugestões que nos últimos meses davam conta de uma “revolução” na club culture e música de dança. A house de Chicago e o acid house (por Londres, via Ibiza) estavam na ordem do dia. E os Duran Duran optaram por um flirt com as novas tendências. Afinal, desde os primeiros tempos, havia uma relação de proximidade com a música de dança nos seus discos. Big Thing, que a banda co-produziu na companhia de Jonathan Elias (parceiro de John Taylor nas suas primeiras experiências a solo) e Daniel Abrahams, é um álbum com (literalmente) duas faces. Na primeira mostra-se esta relação de proximidade pop com os novos códigos da música de dança, sobretudo visível em temas como I Dont’ Want Your Love, All She Wants Is ou Drug (It’s Just A State Of Mind). Nos antípodas, baladas como Land, Palomino ou Do You Believe In Shame acolhiam heranças directas de um registo de sofisticação sugerido em Seven and The Ragged Tiger e depois aprofundado por Nick Rhodes em So Red The Rose, dos Arcadia. Dois interlúdios instrumentais abriam espaço inédito a caminhos de experimentação. E Lake Shore Driving sublinhava a face rock mais angulosa do guitarrista convidado Warren Cuccurullo que, meses depois, seria integrado como elemento de pleno direito do grupo. Big Thing é, apesar de não atingir nunca o patamar do ainda mais interessante Medazzaland (1997), um dos discos mais injustamente “esquecidos” na obra dos Duran Duran. Os dois primeiros singles (I Don’t Want Your Love e All She Wants Is) atingiram posições de destaque em vários países. O álbum chegou contudo num tempo em que a popularidade da banda estava em queda, mas revela, apesar da duplicidade de sentidos, uma coerência na relação com o historial da banda e com o contexto em que surge, assim como guarda em si uma boa mão cheia de canções (The Edge Of America sendo uma delas). Em busca de reconhecimento crítico, chegaram mesmo a editar um promo como The Krush Brothers e até mesmo a dar pequenos concertos sob este pseudónimo. Há também um máxi promocional para Too Late Marlene. Assim como um promo de sete polegadas para Big Thing. Este último resultou, contudo, de um erro na fábrica quando, na verdade, se procuravam fazer picture discs de I Don’t Want Your Love. No picture disc de Big Thing não surge nome da banda nem título da faixa; apenas a imagem do coração e da cruz, da capa do single I Don’t Want Your Love. Chegou a ser pensado um quarto single. A escolha teria recaído sobre Drug. Mas os maus resultados de Do You Believe In Shame travaram a sua edição.
(in «Sound + Vision»)

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