segunda-feira, novembro 20, 2006

Prof. Egas Moniz e Júlio Dinis



Foi à Ciência Médica que o Prof. Egas Moniz deu o máximo da sua vida e, altíssimo embaixador da cultura literária e científica de Portugal.
Natural de Avanca, obrigatoriamente passava por Ovar, a caminho do Furadouro, ou Torreira e, mo Lugar dos Campos o seu olhar ia precisamente para aquela casinha de linhas simples, onde em 1863, Joaquim Guilherme Coelho, esteve hospedado durante quatro meses.
Esta casa e Ovar tiveram um efeito positivo neste período difícil na vida de Júlio Dinis, na desolação pelo infortúnio que também lhe tinha batido à porta, até à ilusão das melhoras.
O Prof. Egas Moniz batalhou com bastante insistência, pela concretização desse “sonho” que tinha em vista, sugeriu às forças vivas de Ovar, mas com grande tristeza e mágoa viveu o resto da sua vida, ao reparar no desinteresse total por esse projecto. Essa ideia de que a casa se torna-se num espaço único para a comunidade ovarense, local de homenagem ao escritor Júlio Dinis, como fonte de memórias, desse Ovar que o prende e o encantou, um ponto de encontro de “tertúlias de cultura, não encontrou eco infelizmente.
Como diria o Prof. Egas Moniz (…) “Ligações de família o arrastaram até Ovar, paredes-meias da minha aldeia. Ali gisou dois dos seus mais belos romances: As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais… páginas escritas, por certo, num certo, num surto febril de tuberculose que o ia minando. Por elas se vê que a actividade literária no curto período que esteve em Ovar onde tanto escreveu, andava aguilhada por forças imperiosas. Assim pôde trazer daquelas paragens, bastos elementos para a obra que conseguiu levar a bom termo”.
Ao recordar estas duas figuras de enorme estatura, é um dever, no momento de mais uma passagem do 167º Anivº. do nascimento de Júlio Dinis, e não vem a despropósito também aqui e agora de fazermos uma vénia a um ovarense, recentemente falecido, um dinisiano de coração, que conviveu de perto com o Prof. Egas Moniz, pela concretização desses “sonhos” e das decepções. Falo do ovarense Manuel Cascais de Pinho que só em 1996 pôde assistir, em parte, da concretização da abertura da casa do Largo dos Campos, num espaço dinisiano, mas já com a perda irremediável da maior parte do espólio.
Passados quase três anos, do encerramento da Casa Museu Júlio Dinis, para obras de recuperação, que se encontrava num avançado estado de degradação, é caso para ficarmos preocupados por toda esta demora. Tomara que a C.M.O. tome em mãos para o inicio das obras da casa e, acção imediata de evitar a eminente derrocada do telheiro, que a acontecer causará irreparáveis danos às lajes do tanque a preservar como elemento museológico.
Com este apelo, vou terminar citando um enxerto do poema do grande Guerra Junqueiro:

«A vida é uma farsada!
Por conseguinte é rir, até que um dia o nada
Venha tapar com terra, a vossa boca impura!
É voar, é voar, na asa da loucura».

António Valente

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