quinta-feira, novembro 19, 2009

A viabilização da Aerosoles

A estratégia da administração está bem clara, reforçar a mensagem de que a empresa é viável, em todas as notícias isso está expresso. A equipe de comunicação empresarial, montada há uns anos, ainda mostra o que vale e as boas relações que conseguiu com os meios de comunicação. Tem mérito! Está a trabalhar, talvez goste do que faz e o faça sem grande esforço.

Faço a pergunta: - Quais são os pressupostos de que a empresa é mesmo viável? O tipo de produto? A rede de retalho/franchise? A substituição de uma marca não se faz de um dia para outro. Quantos milhões serão necessários para lançar a marca ao nível de notoriedade que a Aerosoles atingiu? O consumidor compra marcas e não somente em lojas. Em locais(lojas indiferenciadas) compra-se produtos de baixo valor acrescentado. Dizem que tem garantidas vendas de um milhão de pares, volume não é sinônimo de rentabilidade. O recurso a horas extra e subcontratação também não. Como estarão a reagir as vendas na rede de retalho? As vendedoras estão motivadas e confiantes? O cliente que vai comprar um par de sapatos de uma empresa em dificuldades, decide pela compra? A GM depois que anunciou concordata as vendas caíram a pique. Porque os consumidores perderam a confiança de que as garantias dadas seriam honradas. Nos sapatos deve ser diferente. Se a estratégia for competir no preço, então a viabilidade vai ser conseguida com cortes brutais na estrutura e recurso a importação de produtos de baixo custo da Ásia. Então já estão a criar condições para negociar melhor com os trabalhadores. Uma conta interessante para apurar é ver quanto custaria indeminizar toda a estrutura com os direitos devidos. Ou seja, o potencial passivo com os trabalhadores do grupo. Esse número é muito importante que se conheça. Neste momento mais de metade já deve aceitar qualquer indeminização que lhes derem. Vai-se ver qual o potencial ganho administrativo. Exemplo: 400 pessoas, 10 anos de serviço, 800 € -> indeminização 1,5 salário por ano trabalhado (tanto quanto pagou Yasaki, Clarks, Ecco, Phillips, empresas criticadas mas honradas) 4 800 000 €. Em dinheiro vivo. Se pagarem 50% é muito ganho. E as indeminizações dos administradores passivos? Distribuição de "lucros" presumidos, encontrem-nos pelo mundo fora...

Outro ponto interessante é o posicionamento de que o estado é o maior accionista, o estado representa o interesse público. Estão a pressionar o governo, e conhecendo o histórico do Sócrates, ele não vai gostar muito que o problema passe para a esfera dele. Vai saltar fora e talvez fazer de conta que ajuda com um paliativo. Na verdade já enviou socorro várias vezes este ano e está no direito de não querer adoptar o filho dos outros. (Como dizem em Válega o Dono da Vaca é Dono da Cria). O discurso com a banca é simpático, se o governo ajudar, a banca ajuda, onde estarão essas garantias?

As palavras aos funcionários também, afinal estamos todos empenhados em viabilizar... (é uma questão de fé ou café)

Lembro-me do programa dos -ãos do Artur Duarte, Organização e Responsabilização. Os ãos eram só para baixo? Onde está a Administração? Já começaram a andar de transporte público? Acredito que a chefia directa e intermédia tem um papel fundamental na revitalização da empresa. Quando vier o dinheiro vão fazer de conta que está tudo bem, e que o problema era do estado que não ajudou a tempo? Recomendo-vos uma conversa franca e sincera com cada um. Os trabalhadores são credores, merecem a mesma atenção que a banca. Digam-lhes em que dia pagam e com que juros. E o que estão a fazer em concreto para viabilizar. Ir fazer uma manifestação na Câmara Municipal de Ovar e Castelo de Paiva!? Quem se lembrou disso? Porque não nas juntas de freguesia, na porta da casa dos administradores? Porque não fazem um autocolante dizendo "Sou credor da Investvar" ? No dia em que a sua chefia o pressionar para fazer hora extra gratuita, vai pensar muito bem no tom que vai usar.

Muito curioso o tipo de discurso do Artur Duarte, com forte apelo emocional, falando de pessoas concretas e vitórias passadas. Pelo menos alguém tem espírito de humor e frieza nisso tudo. O homem é muito bom!

Aos que estão a fazer tese de mestrado/doutoramento sobre o caso Investvar, coloquem as suas questões, o circo já começou!

No final alguém vai pagar O PATO.
(Recebido via e-mail)

Sem comentários: