A antiga Capela do Senhor da Piedade
TEXTO: Mário Miranda
O nosso amigo António Valente de Almeida, conhecedor de muitos factos passados no Furadouro, entregou-nos, a este respeito, alguns apontamentos de interesse que os seus antepassados lhe deixaram e que procuramos divulgar no nosso jornal.
Perde-se no tempo a devoção dos vareiros ao orago do Furadouro, Senhor da Piedade, em cuja honra foi erguida, no século XVII, uma capela, que foi o ex-libris da nossa terra, a qual saudosamente recordamos e que está documentada em fotografias de várias épocas.
Situava-se na parte mais alta do Furadouro, no cimo de uma duna, frente à que é hoje a Avenida Central [ver foto], num largo que se chamou D. Maria Pia e, depois da República, Largo Machado Santos.
O pequeno templo tinha a forma de um cubo, e era encimado por uma abóbada, toda pintada de branco, com uma porta ogival voltada para o mar.
Dizia-se que neste mesmo sítio – ou mais dentro do areal – existiu uma outra ermida, mas em madeira.
O Senhor da Piedade era representado pelo Cristo Crucificado, em pedra, com 1,20 m, e metido na própria parede, formando um nicho.
Em 1882 foi-lhe acrescentada uma sacristia a sul e feitas obras de restauro, a expensas dos beneméritos Manuel Oliveira Manarte e Joaquim Valente de Almeida, ambos proprietários da Empresa de Pesca Senhora do Socorro.
Era um marco para a navegação. À noite, uma grande lamparina fazia sair a luz através de dois grandes orifícios que existiam na porta, funcionando como farol.
Em 1924, a Câmara mandou arrasar a duna, com o fim de fazer um adro e, ao mesmo tempo, construir um miradouro. Só que as obras não passaram das intenções. E a falta de areia deu origem a que tivessem de mandar fazer uma escada de madeira de emergência, com dois metros de altura, para acesso à capela…
Nova decisão errada tomou a Câmara em 1935, da Presidência de Pacheco Polónia, ao mandar fazer um enorme varandim, em cimento armado, com suportes apoiados na capela…
Todas as previsões técnicas admitiram que a derrocada podia acontecer a qualquer momento. Esse era, aliás, o vaticínio da maioria do povo, que se apercebia de que a ermida não tinha resistência suficiente para aguentar tamanha carga.
Tal como se previa, na manhã de 1 de Fevereiro de 1939, à vista de muita gente, a capela desmoronou-se, não aguentando a fúria das vagas. Da hecatombe salvou-se apenas a imagem de São Sebastião, hoje na capela nova, e a fotografia de uma Comissão das Festas do Mar de 1917, que se encontra no Museu de Ovar.
Da imagem do Senhor da Piedade não houve mais notícia. Mas é certo que não anda longe, sepultada na praia que todos pisamos.
Era o Senhor da Piedade lugar de peregrinações quando havia secas, epidemias, naufrágios, nevoeiros, etc. O seu sino avisava os pescadores que labutavam no “nosso” mar quando se dava a aproximação de temporais ou a alteração repentina de ondulação, ou quando o espesso nevoeiro lhes escondia a terra.
O constante badalar despertava a atenção dos habitantes do Furadouro, que iam, aflitos, ao “Alto”, como então se chamava ao local, para saber o que se estava a passar.
Do templo, e para além das recordações daqueles que, como nós, ainda o viram, restam fotografias como a que reproduzimos.
Antes de terminar, queremos deixar aqui a discordância de António Valente de Almeida em terem dado à Paróquia o nome de S. Pedro, quando deveria ter sido o de Paróquia do Senhor da Piedade. Era uma justa homenagem ao antigo titular da Capela e a única maneira de não se esquecer o venerável monumento que o mar, infelizmente, tragou para sempre, e que veio a ter, como substituto, um pouco a norte, a Capela da Senhora da Piedade ("Capela Nova"), também desaparecida nas águas do mar.
Artigo publicado no quinzenário ovarense
JOÃO SEMANA (1 de Agosto de 1994) in «artigosjornaljoaosemana»
quarta-feira, julho 30, 2008
terça-feira, julho 29, 2008
O disco ao vivo que calou a plateia
Duran Duran - 19
'Arena', álbum ao vivo (1984)
Os Duran Duran passaram os últimos meses de 1983 e os primeiros de 1984 na estrada. A Sing Blue Silver Tour assinalava o seu estatuto de protagonismo no panorama pop da época, assim como vincava a sua relação com novas ferramentas visuais, nomeadamente a utilização de ecrãs vídeo em concerto, o que nunca antes havia acontecido a toda a extensão de uma digressão. Esta seria, até à digressão de reencontro da banda, já na presente década, a sua mais bem sucedida e mediatizada aventura na estrada, gerando um filme, vários documentários, lados B, um single e um álbum. Este último, com o título Arena, foi editado em Novembro de 1984, sob cerrada crítica, em grande parte centrada na quase inexistência da presença do público na mistura final do álbum... Basta ouvir os bootlegs da época para recordar como os fãs se faziam notar de forma bem evidente durante os concertos, reeditando a gritaria característica dos dias da Beatlemania... A opção da produção, assumida pelo grupo, foi a de abafar, quase ao ponto de suprimir, a presença de sons provindos da plateia, mostrando o álbum uma banda que quase parece entregue ao trabalho de estúdio, mínimas sendo as diferenças face ao que se conhecia das versões em disco. Uma das razões para esta “rigidez” pode dever-se ao facto do uso do vídeo em cena os ter obrigado ao cumprimento de um programa sem espaço para manobras inesperadas... O alinhamento centra-se numa colheita dos êxitos do grupo, juntando-lhes The Chauffeur (de Rio) e The Seventh Stranger (de Seven and The Ragged Tiger). The Wild Boys, em versão de estúdio é o único inédito. Uma reedição, em CD, de 2004, junta ao alinhamento Girls On Film e Rio. Apesar do sucesso que o álbum então viveu (vendendo smais de dez milhões de cópias em todo o mundo), é inconsequente enquanto registo ao vivo. Como documento live desta época é mais recomendado o visionamento de As The Lights Go Down, emissão televisiva que juntou as sequências de palco do documentário Sing Blue Silver.
Estas são imagens de The Chauffeur, um dos dois temas não editados antes como single no alinhamento de Arena. A encenação em palco foi expressamente pensada para as filmagens de Russel Mulcahy, mais tarde integradas no filme Arena: An Absurd Notion e o documentário Sing Blue Silver, editados em vídeo em 1994 e já disponíveis em DVD.
(in «Sound + Vision»)
'Arena', álbum ao vivo (1984)
Os Duran Duran passaram os últimos meses de 1983 e os primeiros de 1984 na estrada. A Sing Blue Silver Tour assinalava o seu estatuto de protagonismo no panorama pop da época, assim como vincava a sua relação com novas ferramentas visuais, nomeadamente a utilização de ecrãs vídeo em concerto, o que nunca antes havia acontecido a toda a extensão de uma digressão. Esta seria, até à digressão de reencontro da banda, já na presente década, a sua mais bem sucedida e mediatizada aventura na estrada, gerando um filme, vários documentários, lados B, um single e um álbum. Este último, com o título Arena, foi editado em Novembro de 1984, sob cerrada crítica, em grande parte centrada na quase inexistência da presença do público na mistura final do álbum... Basta ouvir os bootlegs da época para recordar como os fãs se faziam notar de forma bem evidente durante os concertos, reeditando a gritaria característica dos dias da Beatlemania... A opção da produção, assumida pelo grupo, foi a de abafar, quase ao ponto de suprimir, a presença de sons provindos da plateia, mostrando o álbum uma banda que quase parece entregue ao trabalho de estúdio, mínimas sendo as diferenças face ao que se conhecia das versões em disco. Uma das razões para esta “rigidez” pode dever-se ao facto do uso do vídeo em cena os ter obrigado ao cumprimento de um programa sem espaço para manobras inesperadas... O alinhamento centra-se numa colheita dos êxitos do grupo, juntando-lhes The Chauffeur (de Rio) e The Seventh Stranger (de Seven and The Ragged Tiger). The Wild Boys, em versão de estúdio é o único inédito. Uma reedição, em CD, de 2004, junta ao alinhamento Girls On Film e Rio. Apesar do sucesso que o álbum então viveu (vendendo smais de dez milhões de cópias em todo o mundo), é inconsequente enquanto registo ao vivo. Como documento live desta época é mais recomendado o visionamento de As The Lights Go Down, emissão televisiva que juntou as sequências de palco do documentário Sing Blue Silver.
Estas são imagens de The Chauffeur, um dos dois temas não editados antes como single no alinhamento de Arena. A encenação em palco foi expressamente pensada para as filmagens de Russel Mulcahy, mais tarde integradas no filme Arena: An Absurd Notion e o documentário Sing Blue Silver, editados em vídeo em 1994 e já disponíveis em DVD.
(in «Sound + Vision»)
segunda-feira, julho 28, 2008
Benfica - Ovarense de 1994 na «RTP Memória»
Depois de vibrarmos com a vitória da nossa Ovarense, a «RTP Memória» oferece uma oportunidade de recordarmos uma grande equipa vareira de basquetebol.
Esta quarta-feira, dia 30, esse canal transmite, às 1h00, o jogo Benfica - Ovarense de 1994, disputado no antigo pavilhão da Luz.
Os intervenientes mudam um pouco, mas de certeza que vamos assistir a um grande jogo. Além do mais, é sempre um documento histórico. Para gravar.
Depois de vibrarmos com a vitória da nossa Ovarense, a «RTP Memória» oferece uma oportunidade de recordarmos uma grande equipa vareira de basquetebol.
Esta quarta-feira, dia 30, esse canal transmite, às 1h00, o jogo Benfica - Ovarense de 1994, disputado no antigo pavilhão da Luz.
Os intervenientes mudam um pouco, mas de certeza que vamos assistir a um grande jogo. Além do mais, é sempre um documento histórico. Para gravar.
domingo, julho 27, 2008
Xutos em Ovar
Eis o alinhamento:
NÃO SOU O ÚNICO
DADOS VICIADOS
GRITOS MUDOS
LONGA SE TORNA A ESPERA
JOGO DO EMPURRA
MUNDO AO CONTRÁRIO
FIM DE SEMANA
PRIVACIDADE
DOÇURAS
REMAR REMAR
ESTA CIDADE
N'AMÉRICA
À MINHA MANEIRA
VIDA MALVADA
CIRCO DE FERAS
HOMEM DO LEME
PARA TI MARIA
Encore
A MINHA AVENTURA HOMOSSEXUAL COM O GENERAL CUSTER
SOU BOM
DIA DE S. RECEBER
CONTENTORES
PARA SEMPRE
MINHA CASINHA
(Fotos: Ferreira e Atomainos in «Blogue das Futilidades»)
sexta-feira, julho 25, 2008
TopFM Beach Party
A Positiva Eventos - a mesma que organiza a beach party do Furadouro - estende o seu raio de acção até Ílhavo. Habilita-te a ganhar aqui uma entrada grátis.
A Positiva Eventos - a mesma que organiza a beach party do Furadouro - estende o seu raio de acção até Ílhavo. Habilita-te a ganhar aqui uma entrada grátis.
quinta-feira, julho 24, 2008
Quando um livro dá uma canção...
Discografia Duran Duran - 17
'The Wild Boys' (single), 1984
Regular colaborador dos Duran Duran desde bem cedo, o realizdor Russel Mulcahy conquistou muita da sua notoriedade através dos telediscos que rodou com a banda, entre os quais os que foram filmados em 1982 no Sri Lanka e em Antígua. A sua relação de proximidade com o grupo levou-o a desafiar os Duran Duran a criar música para um sonho seu de transformar o livro The Wild Boys (1971) de William S. Burroughs num filme... A ideia começou a ganhar forma numa canção invulgarmente angulosa, inquieta e cantada no limite, que na verdade acabou por ser a única materialização real de um projecto cinematogtáfico que acabou na gaveta. Com Nile Rodgers (que recentemente havia colaborado na remistura de The Reflex) na cadeira da produção, The Wild Boys surge em finais de 1984 como um estranho one-off na carreira do grupo. Um single sem afinidade directa com qualquer outro momento da sua discografia. E que acabaria por ser a única faixa de estúdio no álbum ao vivo Arena editado na mesma altura. The Wild Boys foi contudo um caso de sucesso global, dando aos Duran Duran o número um na Alemanha e Canadá e número dois numa série de mercados, entre os quais o britânico e o norte-americano. No lado B, e anunciando um álbum ao vivo por perto, surge uma versão live de (I’m Looking For) Cracks In The Pavement, gravada em Toronto durante a última digressão do grupo.
O teledisco de The Wild Boys, uma vez mais assinado por Russel Mulcahy, é um dos mais célebres da obra em vídeo dos Duran Duran. Com orçamento milionário, que envolveu a ocupação de parte do estúdio em Pinewood que habitualmente acolhe os filmes de 007 e um elaborado trabalho de coreografia, o teledisco serviu de mote para o filme Arena, usando imagens da recente digressão, que seria editado em vídeo pouco depois. Resta saber se no teledisco de The Wild Boys moram algumas das visões pensadas para o filme nunca concretizado de Russel Mulcahy.
(in «Sound + Vision»)
'The Wild Boys' (single), 1984
Regular colaborador dos Duran Duran desde bem cedo, o realizdor Russel Mulcahy conquistou muita da sua notoriedade através dos telediscos que rodou com a banda, entre os quais os que foram filmados em 1982 no Sri Lanka e em Antígua. A sua relação de proximidade com o grupo levou-o a desafiar os Duran Duran a criar música para um sonho seu de transformar o livro The Wild Boys (1971) de William S. Burroughs num filme... A ideia começou a ganhar forma numa canção invulgarmente angulosa, inquieta e cantada no limite, que na verdade acabou por ser a única materialização real de um projecto cinematogtáfico que acabou na gaveta. Com Nile Rodgers (que recentemente havia colaborado na remistura de The Reflex) na cadeira da produção, The Wild Boys surge em finais de 1984 como um estranho one-off na carreira do grupo. Um single sem afinidade directa com qualquer outro momento da sua discografia. E que acabaria por ser a única faixa de estúdio no álbum ao vivo Arena editado na mesma altura. The Wild Boys foi contudo um caso de sucesso global, dando aos Duran Duran o número um na Alemanha e Canadá e número dois numa série de mercados, entre os quais o britânico e o norte-americano. No lado B, e anunciando um álbum ao vivo por perto, surge uma versão live de (I’m Looking For) Cracks In The Pavement, gravada em Toronto durante a última digressão do grupo.
O teledisco de The Wild Boys, uma vez mais assinado por Russel Mulcahy, é um dos mais célebres da obra em vídeo dos Duran Duran. Com orçamento milionário, que envolveu a ocupação de parte do estúdio em Pinewood que habitualmente acolhe os filmes de 007 e um elaborado trabalho de coreografia, o teledisco serviu de mote para o filme Arena, usando imagens da recente digressão, que seria editado em vídeo pouco depois. Resta saber se no teledisco de The Wild Boys moram algumas das visões pensadas para o filme nunca concretizado de Russel Mulcahy.
(in «Sound + Vision»)
Xutos & Pontapés amanhã em Ovar
É na Arena Dolce Vita, no âmbito das comemorações do Dia do Município.
Os bilhetes estão à venda na Rede Concelhia de Bibliotecas (Biblioteca Municipal de Ovar e Pólos de Esmoriz, Cortegaça, Maceda, Arada, Válega e S. Vicente Pereira), nos Postos de Turismo de Ovar e Furadouro e no Centro Comercial Dolce Vita Ovar. De referir que os bilhetes estão à venda por 7,5 euros (geral) e 5 euros (com Cartão Jovem ou Cartão de Estudante e Cartão Municipal do Idoso), sendo que a entrada para crianças até aos seis anos é gratuita.
terça-feira, julho 22, 2008
Não era de ponderar uma
adesão à rede Turel?
Eis o mote desta organização de turismo religioso:
«Convidámo-lo a descobrir Monumentos que revelam séculos de história e devoção.....
a maravilhar-se com paisagens únicas e deslumbrantes....
a descobrir a alma de um povo, nos valores e nas tradições, nas festas e romarias.....
a saborear a gastronomia típica de cada região....
Para si...a pensar em si.....preparamos estes roteiros....»
Nós achamos que sim. O nosso património cultural e religioso, - quer edificado, quer artístico -, merece toda a divulgação possível. Aliás, ontem já era tarde.
O «Turel» fica aqui.
adesão à rede Turel?
Eis o mote desta organização de turismo religioso:
«Convidámo-lo a descobrir Monumentos que revelam séculos de história e devoção.....
a maravilhar-se com paisagens únicas e deslumbrantes....
a descobrir a alma de um povo, nos valores e nas tradições, nas festas e romarias.....
a saborear a gastronomia típica de cada região....
Para si...a pensar em si.....preparamos estes roteiros....»
Nós achamos que sim. O nosso património cultural e religioso, - quer edificado, quer artístico -, merece toda a divulgação possível. Aliás, ontem já era tarde.
O «Turel» fica aqui.
segunda-feira, julho 21, 2008
Visita aos «Anexos»
Os «Anexos» são uma banda de Ovar que toca sobretudo, pop-rock, desde os anos 60 até à actualidade, embora também percorra outros géneros e estilos musicais, além de temas originais.
Podem vê-los aqui bem perto, brevemente:
- 26/07/2008 - 22h00m, na Bowling House do Dolce Vita (Ovar)
- 31/07/2008 - 21h30m, no Pé de Vento (Furadouro, Ovar)
Os «Anexos» são uma banda de Ovar que toca sobretudo, pop-rock, desde os anos 60 até à actualidade, embora também percorra outros géneros e estilos musicais, além de temas originais.
Podem vê-los aqui bem perto, brevemente:
- 26/07/2008 - 22h00m, na Bowling House do Dolce Vita (Ovar)
- 31/07/2008 - 21h30m, no Pé de Vento (Furadouro, Ovar)
sábado, julho 19, 2008
CCO vai a Cacia
Realiza-se este fim-de-semana, em Cacia, mais precisamente no domingo dia 20 de Julho, o Campeonato Regional de Velocidade e a Fase Regional de Torneios Abertos, respectivamente às 9 e 12 horas.
Pelo desempenho do CCO demonstrado esta época a nível regional, onde já obteu 2 títulos regionais colectivos (Esperanças e Taça de Maratonas), e com um recorde de 16atletas em representação do clube nas diversas categorias e distâncias, é de esperar a obtenção de diversos títulos individuais e colectivos.
Realiza-se este fim-de-semana, em Cacia, mais precisamente no domingo dia 20 de Julho, o Campeonato Regional de Velocidade e a Fase Regional de Torneios Abertos, respectivamente às 9 e 12 horas.
Pelo desempenho do CCO demonstrado esta época a nível regional, onde já obteu 2 títulos regionais colectivos (Esperanças e Taça de Maratonas), e com um recorde de 16atletas em representação do clube nas diversas categorias e distâncias, é de esperar a obtenção de diversos títulos individuais e colectivos.
sexta-feira, julho 18, 2008
Café Contacto 2008 em cena
As noites de 11 e 12 de Julho ficaram marcadas na memória de todos os que vieram
à esplanada da Casa da Contacto para assistir ao espectáculo "Soltar As Palavras" integrado na edição número 3 do Café Contacto.
"uma grande gargalhada", "não me lembro de rir assim há muito tempo", "excelente", foram algumas das frases ouvidas...
A música, o teatro, a poesia vão voltar ao pátio da Casa da Contacto... Por isso
não chegue tarde pois pode já não haver lugar. Reserve o seu lugar aqui, ou através do 917458619 ou em www.contactovar.com
- Espectáculos nos dias 18 e 19 pelas 21H45, na Casa da Contacto
Entretanto, no Domingo, dia 20, às 16H00 a Contacto vai repôr a peça "A Floresta
Cinzenta" interpretada pelo núcleo infantil da Oficina da Contacto e que
constituiu o exercício final da formação ministrada de Janeiro a Junho do
presente ano.
Trata-se de um espectáculo destinado essencialmente ao público infantil e que aborda a questão da poluição ambiental e todos os problemas daí decorrentes.
Leve os seus filhos ao teatro no próximo Domingo às 4 da tarde.
Reservas aqui, no 917458619 ou em www.contactovar.com
As noites de 11 e 12 de Julho ficaram marcadas na memória de todos os que vieram
à esplanada da Casa da Contacto para assistir ao espectáculo "Soltar As Palavras" integrado na edição número 3 do Café Contacto.
"uma grande gargalhada", "não me lembro de rir assim há muito tempo", "excelente", foram algumas das frases ouvidas...
A música, o teatro, a poesia vão voltar ao pátio da Casa da Contacto... Por isso
não chegue tarde pois pode já não haver lugar. Reserve o seu lugar aqui, ou através do 917458619 ou em www.contactovar.com
- Espectáculos nos dias 18 e 19 pelas 21H45, na Casa da Contacto
Entretanto, no Domingo, dia 20, às 16H00 a Contacto vai repôr a peça "A Floresta
Cinzenta" interpretada pelo núcleo infantil da Oficina da Contacto e que
constituiu o exercício final da formação ministrada de Janeiro a Junho do
presente ano.
Trata-se de um espectáculo destinado essencialmente ao público infantil e que aborda a questão da poluição ambiental e todos os problemas daí decorrentes.
Leve os seus filhos ao teatro no próximo Domingo às 4 da tarde.
Reservas aqui, no 917458619 ou em www.contactovar.com
Ecos da estreia de "Acesso Reservado"
«O vereador da Câmara Municipal de S. João da Madeira, Paulo Cavaleiro, marcou presença no primeiro dia desta mostra, felicitando a associação pela iniciativa “inovadora e interessante”. O autarca deixou votos para que o “objectivo tenha sucesso”, uma vez que considera tratar-se de uma “boa ideia” e é “algo que não existe na cidade”. Salientou o facto da “Teia dos Sentidos” ter um âmbito regional ao nível do Entre Douro e Vouga, região que “queremos impulsionar”.
Paulo Cavaleiro destacou ainda o facto da mostra arrancar com uma curta filmada em S. João da Madeira. “É uma interessante e feliz coincidência abrir com essa curta”, disse, concluindo a sua intervenção com o pensamento de que o “culto do cinema e das curtas seja uma ideia crescente e florescente na região e no concelho”. O vereador referia-se à curta de 25 minutos intitulada “Acesso Reservado”, realizada por Pedro Lemos e Gustavo Ribeiro, da Universidade Católica do Porto, e filmada nos espaços técnicos não acessíveis ao público do centro comercial 8.ª Avenida, em S. João da Madeira, película que abriu a mostra».
in «O Regional»
«O vereador da Câmara Municipal de S. João da Madeira, Paulo Cavaleiro, marcou presença no primeiro dia desta mostra, felicitando a associação pela iniciativa “inovadora e interessante”. O autarca deixou votos para que o “objectivo tenha sucesso”, uma vez que considera tratar-se de uma “boa ideia” e é “algo que não existe na cidade”. Salientou o facto da “Teia dos Sentidos” ter um âmbito regional ao nível do Entre Douro e Vouga, região que “queremos impulsionar”.
Paulo Cavaleiro destacou ainda o facto da mostra arrancar com uma curta filmada em S. João da Madeira. “É uma interessante e feliz coincidência abrir com essa curta”, disse, concluindo a sua intervenção com o pensamento de que o “culto do cinema e das curtas seja uma ideia crescente e florescente na região e no concelho”. O vereador referia-se à curta de 25 minutos intitulada “Acesso Reservado”, realizada por Pedro Lemos e Gustavo Ribeiro, da Universidade Católica do Porto, e filmada nos espaços técnicos não acessíveis ao público do centro comercial 8.ª Avenida, em S. João da Madeira, película que abriu a mostra».
in «O Regional»
quinta-feira, julho 17, 2008
Workshop “Como promover uma Ideia, um Produto e uma Região? A visão do Operador Turístico”
A Região de Turismo Rota da Luz e a Associação da Hotelaria Regional do Distrito de Aveiro – AHRDA, organizam amanhã dia 18 de Julho/08, pelas 14h00, no Hotel Meliá Ria em Aveiro, o workshop: Como promover uma ideia, um produto e uma região? A visão do operador turístico.
Esta acção destinada exclusivamente ao público profissional procura analisar de forma proactiva o nível de atractividade do destino Regional de Aveiro, entender os mecanismos da procura turística nacional e internacional. Neste contexto, a partilha de experiências, de conhecimento e de know-how representa uma oportunidade de crescimento para os responsáveis pelos equipamentos de uso turístico, e para as entidades públicas com responsabilidade na organização do território local e regional.
O workshop conta com a presença de operadores turísticos espanhóis e nacionais e observa um formato participativo mais informal, em que os diversos intervenientes - agentes com importante acção na cadeia do negócio turístico, partilham a sua visão e debatem a melhor estratégia para a afirmação da Marca Aveiro.
Segundo Pedro Ribeiro da Silva, presidente da Região de Turismo Rota da Luz, “a sessão de trabalho reveste-se da maior importância, dado que conta com a participação dos operadores turísticos de maior dimensão, e virá identificar o ambiente interno e externo – forças e fraquezas, oportunidades e ameaças, que rodeia e condiciona o destino regional de Aveiro. Do mesmo modo e a curto prazo, o trabalho de proximidade com os operadores turísticos irá permitir agilizar novas propostas de negócio para Aveiro, com acção positiva no fluxo dos turistas ibéricos, perspectivando-se um acréscimo de aproximadamente 50.000 turistas no território regional”.
A Região de Turismo Rota da Luz e a Associação da Hotelaria Regional do Distrito de Aveiro – AHRDA, organizam amanhã dia 18 de Julho/08, pelas 14h00, no Hotel Meliá Ria em Aveiro, o workshop: Como promover uma ideia, um produto e uma região? A visão do operador turístico.
Esta acção destinada exclusivamente ao público profissional procura analisar de forma proactiva o nível de atractividade do destino Regional de Aveiro, entender os mecanismos da procura turística nacional e internacional. Neste contexto, a partilha de experiências, de conhecimento e de know-how representa uma oportunidade de crescimento para os responsáveis pelos equipamentos de uso turístico, e para as entidades públicas com responsabilidade na organização do território local e regional.
O workshop conta com a presença de operadores turísticos espanhóis e nacionais e observa um formato participativo mais informal, em que os diversos intervenientes - agentes com importante acção na cadeia do negócio turístico, partilham a sua visão e debatem a melhor estratégia para a afirmação da Marca Aveiro.
Segundo Pedro Ribeiro da Silva, presidente da Região de Turismo Rota da Luz, “a sessão de trabalho reveste-se da maior importância, dado que conta com a participação dos operadores turísticos de maior dimensão, e virá identificar o ambiente interno e externo – forças e fraquezas, oportunidades e ameaças, que rodeia e condiciona o destino regional de Aveiro. Do mesmo modo e a curto prazo, o trabalho de proximidade com os operadores turísticos irá permitir agilizar novas propostas de negócio para Aveiro, com acção positiva no fluxo dos turistas ibéricos, perspectivando-se um acréscimo de aproximadamente 50.000 turistas no território regional”.
quarta-feira, julho 16, 2008
Queen levam a Taça
O que faz de uma música a melhor de todos os tempos? O ritmo, a importância da banda ou somente o gosto pessoal? Para os britânicos, parece que todos os requisitos contam.
Numa pesquisa feita com 10 mil pessoas no Reino Unido, a ópera rock dos Queen, "Bohemian Rhapsody", foi eleita a melhor canção pop de todos os tempos.
A música da banda inglesa alcançou o top duas vezes: em 1975, quando foi lançada no álbum "A Night at the Opera", e em 1991, quando o vocalista Freddie Mercury morreu. A canção chegou a ficar 14 semanas em primeiro lugar.
O segundo lugar, de acordo com a escolha dos britânicos, ficou para o hit "Y.M.C.A", do grupo Village People. Em seguida, vem a balada "(Everything I Do) I Do It for You", do cantor Bryan Adams, que fez parte da trilha sonora do filme "Robin Hood - O Príncipe dos Ladrões", de 1991.
Confira as dez melhores músicas pop de todos os tempos segundo os britânicos:
1. Bohemian Rhapsody - Queen
2. Y.M.C.A. - Village People
3. (Everything I Do) I Do It for You - Bryan Adams
4. Angels - Robbie Williams
5. Red, Red Wine - UB40
6. Imagine - John Lennon
7. Sweet Child O' Mine - Guns N' Roses
8. Billie Jean - Michael Jackson
9. Dancing Queen - Abba
10. Can't Get You out of My Head - Kylie Minogue
E se esta pesquisa fosse feita aqui, qual seria a melhor música pop nacional de todos os tempos?
terça-feira, julho 15, 2008
O Barco de Mar – Arte de Xávega.
A arte de xávega, do árabe “xabaka”, é um aparelho de pesca de arrasto demersal que, na nossa costa é lançado pelo barco de mar. Partindo da praia, desloca-se até à distância consentida pelo aparelho e à praia regressa, iniciando-se então o arrasto propriamente dito.
A xávega é portanto uma arte envolvente de arrastar pelo fundo e alar para a praia, constando o aparelho, ou arte, de um saco prolongado por duas asas ou mangas, nos extremos das quais se amarram os cabos de alagem ou calas.
É constituído por um extenso pano de rede de malha quadrangular, interceptado ao centro por um saco do mesmo género: o espaço da intercepção corresponde à boca do saco e designa-se pelo nome de bocada: às duas fracções do pano, que se desenvolvem para cada lado desta, dá-se o nome de mangas, que, desde a junção à bocada, decrescem em largura até à extremidade oposta, que tem o nome de calão, ponta da manga onde se prendem as calas. que são os cabos de alagem deste sistema de aparelho de pesca.
Esta é a descrição da arte, como nos é dada pelo etnógrafo Domingos José de Castro, na sua obra "AVEIRO – Pescadores", editada pelo Instituto para a Alta Cultura em 1943.
Por essa altura, o saco, de forma trapezoidal, andava pelos 70 metros de circunferência, 40 de profundidade e 8 de largura, na cuada ou fundo do saco. A malhagem era somente de 1 cm na cuada, até atingir 6,5 cm na bocada, que era guarnecida na sua parte superior por uma cortiçada – flutuadores de cortiça – e, na sua parte inferior era lastrada por tijolos.
Cada uma das mangas tinha 230 metros de comprimento, começando por uma largura de 25 metros na parte do saco e decrescendo até 20 metros no calão. As mangas eram constituídas por panos de fio singelo de malha, que só era dobrado junto à bocada.
Ao longo das mangas, pela parte de cima e por um e outro lados, corriam paralelamente duas linhas a uma distância de 35 cm e guarnecidas com pandas, bocados de cortiça que suspendiam o aparelho a uma altura de água que nunca deveria exceder a da bocada. Pelo lado de baixo, mais duas linhas guarnecidas de discos de barro cozido – pandulhos ou bolos – lastravam as mangas, de forma a que o aparelho arrastasse mesmo pelo fundo. Nas extremidades de cada uma das mangas, eram presos por uma corda barris estanques, chamados balizas ou arinques. Um outro barril – o clime – era colocado na cuada do saco.
O aparelho era feito, nesses tempos, de fio de linho, que era depois posto numa infusão de casca de salgueiro, ficando com uma cor acastanhada, para não assustar o peixe. As mangas, para além do encasque, eram passadas por um banho de alcatrão.
As calas de alar o aparelho podiam ser de linho ou de esparto e eram divididas em rolos, partes que se emendavam umas nas outras. Estes rolos chamavam-se cordas, quando eram singelos; cabos, quando eram dobrados; e olras, quando eram triplos.
O número de rolos, que constituíam as calas, variava de praia para praia, podendo ir de 160 rolos de 60 metros cada, até 29 rolos de 99 metros cada. Isto define que os barcos de mar se poderiam afastar da praia, de 2.800 até 9.600 metros, para lançar o aparelho de pesca.
As calas eram transportadas do palheiro da praia até ao barco, rolo a rolo por vários grupos de 2 homens munidos de um bordão colocado ao ombro. A rede era levada em procissão pelos tripulantes, colocando-se no barco primeiro a manga inicial, depois o saco seguido da segunda manga; por fim colocava-se a bordo o reçoeiro – isto é: a cala de recolha da arte para terra. Esta é uma descrição sumária dos elementos físicos que constituíam o aparelho da xávega propriamente dito.
Hoje em dia, as artes de xávega, em esquema, são muito semelhantes às dos tempos recuados, diferindo somente nas suas dimensões e nos materiais de que são feitos os aparelhos ou redes. Ao linho sucederam os nylons, os polipropilenos e os polietilenos.
Com efeito, as maiores redes de xávega da nossa costa vão agora somente até cerca de 200 metros. Mas há xávegas mais pequenas que não ultrapassam os 100 metros, se bem que todas mantenham a mesma estrutura básica de outros tempos, quando a arte propriamente dita chegava a ultrapassar os 300 metros.
Em 1993 ainda não havia enquadramento legal da arte de xávega que estava em uso. Nesse mesmo ano, surgiu um projecto de portaria com esse objectivo, da autoria do ex-deputado pelo Distrito de Aveiro, Dr. Olinto Ravara, congeminado a partir da realidade então verificável na arte e de pareceres científicos emitidos pelo Instituto Português de Investigação Marítima. Tal projecto procurava definir as características e dimensões do aparelho ou arte de xávega, de acordo com um mínimo de exigências que já se impunham.
Assim, teríamos que o saco não poderia ter um comprimento superior a 50 m; que a sua largura máxima na boca não poderia exceder os 20 m e na cuada 10 m. A malhagem do saco deveria ter o tamanho mínimo de 20 mm. As mangas ou asas da arte não poderiam exceder o comprimento de 300 m; e a sua largura máxima, nos miúdos, seria de 80 m e, nos claros, 40 m. Os cabos de alagem da arte deveriam ter o comprimento máximo de 3 000 m.
As artes que se usavam efectivamente, nesses não recuados tempos, atraiçoariam porém estas bitolas, particularmente no concernente à malhagem do saco. O que pauta, hoje em dia, a arte de xávega é o Regulamento da Pesca por Arte Envolvente-Arrastante, constante da Portaria n.º 1102-F/2000 de 22 de Novembro, a qual expressamente revogou a Portaria n.º 488/96, de 13 de Setembro.
Conforme aquela Portaria, por “pesca por arte envolvente-arrastante entende-se qualquer método de pesca que utiliza estruturas de rede, com frequência dotadas de bolsa central e grandes “asas” laterais que arrastam e, prévia ou simultaneamente, envolvem ou cercam». Ainda de acordo com a mesma Portaria, esta pesca só pode ser exercida com a chamada arte de xávega, a qual é uma arte de alar para terra. O esforço de tracção necessário à alagem da arte pode ter origem mecânica ou animal, incluindo-se nesta a força braçal humana. A xávega só pode ser largada por embarcações licenciadas para o efeito e estas só podem operar na área da jurisdição da capitania de porto do seu registo”.
Julgamos que já se descreveu de forma bastante pormenorizada este aparelho de pesca, o qual se distingue de outros tipos de artes envolventes arrastantes, como a bujiganga, o chinchorro, etc., pelo facto de a xávega ser de maiores dimensões e apresentar malhagens diferentes nas mangas e no saco, malhagens essas que nas asas, aumentam da boca do saco para as extremidades, onde prendem os cabos de alagem e no saco aumentam do fundo para a boca.
O Barco de Mar ou Xávega
Fácil se torna entender que a arte de pesca empreste o seu nome ao barco com que ela se exercita. Com efeito, assim acontece no caso do barco de mar, que é utilizado na xávega na nossa costa ocidental atlântica desde Espinho até Vieira de Leiria, ao qual os pescadores também chamam tão simplesmente de “o xávega”.
Difícil se me torna, todavia, chamar ao nosso barco de mar de saveiro, como vejo acontecer, por exemplo, no DICIONÁRIO DA LINGUAGEM DE MARINHA ANTIGA E ACTUAL, obra rigorosa do comandante Humberto Leitão e que constitui o mais completo elucidário da especialidade existente em Portugal. Com efeito, nele se define saveiro como embarcação de fundo chato, com as formas semelhantes às do meia-lua, havendo por diferença principal ter a proa mais erguida que a popa.
Os saveiros /.../ não se afastam da costa e servem, especialmente, para conduzir as redes, que são lançadas em frente da praia.
Saveiro também chama ao barco de mar o arqueólogo Octávio Lixa Filgueiras, no seu trabalho THE XAVEGA BOAT – A Case Study in the integration of Archaeological and Ethnological Data, apresentado, em Setembro de 1976, num simpósio levado a cabo no Museu Marítimo Nacional, em Greenwich-Inglaterra, subordinado ao terra genérico de, traduzo, Origens e Técnicas na Arqueologia de Barcos.
Mas saveiro será já tão somente, a nossa bateira de mar, bem distinta do barco de mar na sua forma, se bem que não totalmente na sua função e uso aos olhos dos especialistas, Dr. Manuel de Castelo Branco (EMBARCAÇÕES E ARTES DE PESCA, Lxª, 1981) e Domingos José de Castro, na obra que já citámos no início.
Este etnógrafo define o barco de mar como "aparentemente desprovido de solidez /.../, de bicas exageradamente alteadas /.../, mas que, na realidade, possui um jogo de características especiais que parece explicar as condições que o apropriam à função marítima que lhe é atribuída.
Precisamente porque tem de oferecer às ondas a menor resistência para as galgar de pronto, mal assente na água, como o descreve Raul Brandão, este barco conjuga o seu formato, semelhante a um crescente, com o sistema planiforme de fundo, condições estas que lhe permitem, pela falta de portos de abrigo, o acesso directamente do areal para o mar e vice-versa, e suportar com mais facilidade, pela elevação pronunciada dos castelos da proa e da ré, a violência da pancada do mar, ou quebra das ondas, na manobra arriscada da travessia da faixa de rebentação geralmente forte no litoral de areia que se delimita a Norte, nas primeiras rochas de Miramar e a Sul ultrapassando o Cabo Mondego, nas areias da praia de Vieira de Leiria. Raul Brandão compara-o com "o feitio côncavo do espaço que vai de vaga a vaga" – o seio da vaga, acrescentamos nós.
O barco grande de xávega é ainda hoje, como sempre foi, construído de madeira de pinheiro e tinha nas construções em uso nos meados deste século, 16,5 m de fora a fora, 4,2 m de boca, 3,5 m de largura máxima de fundo entre costados e um pontal de 1,3 m. Deslocava cerca de 15,5 toneladas, calava cerca de 1 metro e tinha um esqueleto de 27 cavernas. O período de vida útil dum barco deste tipo era de cerca de 8 anos, desde que submetido a regulares tarefas de manutenção.
Desde os seus alvores, foi sempre um barco a remos, com grupos de 2 ou de 4 remos. No primeiro caso, os remos chamam-se: o de vante, remo-maião; o outro, remo-proa. Nos barcos de 4 remos, estes chamavam-se, de proa para a ré: remo-castelo-da-proa, remo-maião, remo-proa e remo-castelo-da-ré.
No caso dos barcos de dois remos, a tripulação era de 34 homens e nos de 4 remos, 46 homens. Actualmente a grande maioria, se não a totalidade dos barcos de mar, só tem 2 remos, usados nas manobras de largada e de chegada à praia. São mais pequenos de porte e a sua propulsão, no lance da arte é garantida por motores fora-de-borda da ordem dos 40 cavalos, enxertados na rabada dos barcos.
Quanto à origem destes barcos únicos na nossa costa, muito há que esclarecer.
Rocha Madahil, no seu trabalho “BARCOS DE PORTUGAL”, escreveu: "Na Costa baixa entre Espinho e Mira fixou-se há muitos séculos outro tipo de barco de pesca, graciosíssimo, perfilado em crescente de lua, que mal aflora a vaga e vai a grandes distâncias, sem leme sequer, levado sempre pelos possantes remadores, que o empregam principalmente na pesca da sardinha. Por comparação da sua silhueta com o petróglifo de Häggeby, conseguimos determinar-lhe a ascendência normanda, dos Vikings, que utilizavam barcos assim para viagens de longo curso; do conhecimento da nossa costa por esses povos do Báltico não é lícito duvidar: documentos portugueses do século XI referem algumas das piratarias desses Laudomanes, e aprisionamento de populações das vizinhanças de Ovar, resgatadas, depois, por cabeças de gado, artefactos e moios de sal. Cerca de dois séculos duraram essas piratarias dos normandos nas costas da Península, e nos nossos barcos do litoral vareiro ficou até ao presente a imagem viva dos seus transportes marítimos, que fizeram o terror dos nossos antepassados, mas que ofereciam notáveis condições de navegabilidade, ainda hoje não excedidas para as fainas da pesca local. Esse mesmo tipo de barco, que supera em elegância qualquer outro da costa portuguesa, encontra-se em Lavos, ao sul do Mondego e na Caparica, onde o conhecem por saveiro ou meia-lua; ao norte, irradiou também para a Afurada e Lavadores. Poucos mais anos durará."
Como se enganou Rocha Madahil neste vaticínio, como muito bem se prova com o renascer actual da arte de xávega, por razões que adiante aflorarei.
Rocha Madahil não se terá enganado, somente, neste seu antever das coisas futuras. É que as origens normandas, que ele procurou justificar, são totalmente contrariadas pelo arqueólogo naval Lixa Filgueiras, no trabalho que já atrás mencionei. Com efeito, este Professor Arquitecto tão dado às coisas da arqueologia, à luz de conhecimentos muito mais recentes e profundos, divide o nosso país em duas zonas. E o que o divide é o Douro, afirmando que a Norte deste se verificam influências primevas escandinavo/germânicas nas embarcações de rio e bretãs, nas embarcações da costa. Como exemplo acabado das primeiras, aponta o rabelo do Douro: e das segundas, a lancha da Póvoa, que aquele cientista compara, de forma evidente, com o sinagot bretão.
Para sul do Douro, e em toda a nossa costa, Lixa Filgueiras afirma que o saveiro, para ele o nosso barco de mar, é o tipo de barco mais significativo e o vector principal da mais antiga influência mediterrânica. Referindo-se a uma origem mesopotâmica, ele realça a identidade espantosa – técnica e formal – entre o nosso barco de mar e um barco da antiga cidade babilónica de UR (foto à esquerda), que ainda sobrevive no baixo Eufrates e que, pela rota comercial até Ugarit (via Eufrates, Aleppo, Alalakh), terá chegado até ao Mediterrâneo.
Avança ainda com evidências iconográficas: selos cretenses reproduzindo barcos do mesmo tipo, pinturas da tumba de Hagia Tríada e possivelmente. os murais de Thera, que garantem a presença de barcos idênticos no mar Egeu numa progressão para ocidente devidamente documentada.
Mais procura alicerçar a sua tese, verdadeiramente enriquecedora do nosso imaginário histórico recuado, avançando com o problema da origem étnica das comunidades piscatórias, que praticam a xávega com o nosso barco de mar, fundamentando-se com as suas peculiaridades, na coincidência das áreas de distribuição destes barcos, com as principais áreas de refúgio dos povos do sul da Ibéria, depois da queda de Tartesso. Tudo isto, repondo a questão em aberto da influência cretense na desaparecida Tartesso.
Não resisto a citar, recorrendo ao texto inglês, de Lixa Filgueiras, já citado: "Acredito que será muito mais gratificante rever a teoria de Schulten quanto à origem cretense dos povoamentos pré-tartessianos do sul de Espanha, desde os primeiros passos da metalúrgica local, cerca de 2700 a.C., até à chegada cerca de 1 100 antes de Cristo, dos fenícios a Cádis, capital proposta por Schulten para Tartesso, período em que se verificaram importantes acontecimentos na zona do mar Egeu e que, por certo, se reflectiram na costa mediterrânica ibérica. Os selos cretenses com barcos de meia-lua, datados de cerca 2.200 a 2.000 a. C., coincidem com a emergência da talassocracia cretense e subsequente estabelecimento do seu comércio nas praias peninsulares. A rota do estanho e da prata funcionou e é o arqueólogo Schulten, a quem se recorre mais uma vez, que afirma que há vasos, colares e braceletes encontrados no SE da península e que são de origem cretense: assim como adagas de cobre peninsulares datadas do III milénio a. C. foram também encontradas naquela ilha de Creta. Tudo isto mercê do tráfego dos barcos de meia-lua, antepassados dos saveiros, nossos barcos-de-mar. A frota, em que assentava a talassocracia cretense, terá chegado a Tartesso, e daqui até à nossa costa, como já veremos.
Recorrendo a Fernando de Almeida (in Enciclopédia Verbo), Tartesso terá sido um lendário estado monárquico peninsular, que abrangia uma vasta área, que iria desde a actual Cartagena até à foz do Tejo e cuja capital, possivelmente do mesmo nome, se localizaria em Cádis ou Sevilha. Tartesso manteve vastos contactos com os povos do oriente mediterrânico, por força dos quais terá surgido uma escrita semi-silábica, de que são conhecidas inúmeras inscrições, encontradas no Algarve e no Alentejo.
Mercê das suas riquezas mineiras, manteve este reino contactos com fenícios, etruscos, cartagineses, gregos, celtas e romanos. Tartesso entrou em decadência e sucessores do seu último rei, Theron, terão sido os turdetanos e depois, os túrdulos. E terá sido um grupo de túrdulos que, segundo Estrabão, acompanhou um bando de "célticos", numa campanha em direcção ao norte da Península. Conforme Matoso, terão sido os Túrdulos Velhos (Turduliveteres), citados por Mela e Plínio, que ocuparam as regiões do Vouga e do Mondego, alastrando até junto do Tejo.
Entre as suas cidades, contavam-se entre outras, Aeminium (Coimbra), Conímbriga e Talábriga. A nossa Talábriga, topónimo formado por TALA + BRIGA, tendo o primeiro elemento, possivelmente, origem na lingua tartéssica e que significa "barro", "argila”; o segundo, "briga", é de origem céltica e quer dizer “monte".
Ora, Talábriga ficaria, segundo o itinerário de Antonino, a 40.000 passos de Aeminium, (Coimbra), na estrada romana que iria desta até "Cale", hoje Gaia: mais ou menos a 59 Km por norte de Coimbra, aqui mesmo, na Branca, ao lado de Albergaria, onde ainda se vêem restos de via romana. Concluindo-se, para incitar a novas buscas: a dispersão das populações do sul peninsular, depois da queda de Tartesso, pode-se comparar com as rotas de unificação dos barcos de meia-lua, os nossos barcos-de-mar, que se orientaram em primeiro lugar, para a nossa região e depois, refluíram, por razões bem diferentes e em épocas bem posteriores, para as várias praias de areia da nossa costa ocidental e do Algarve.
Homens da xávega
A história da arte de xávega é em larga medida, a história do povoamento das areias litorâneas portuguesas do Atlântico ocidental e algarvio, particularmente no grande areal da costa norte de Espinho, até Vieira de Leiria e mais para baixo, na Costa da Caparica, Santo André e Monte Gordo.
Habitando em precários palheiros construídos na praia ou até sob os seus próprios barcos ao longo dos séculos, começando muito antes até da constituição da nossa nacionalidade, há provas do uso de redes lançadas desde terra e recolhidas, também para terra, só à força de braços; com barcos e com ajuda de braços e com juntas de bois ou, como acontece hoje, com tractores.
Os discípulos de Jesus, pescadores da Galileia, praticaram esta pescaria. Assim como os fenícios, os gregos e os romanos; os árabes, os catalães, os franceses e espanhóis e os andaluzes, também.
Contudo, as redes de xávega, tais como as descrevemos, terão sido trazidas para Portugal, por catalães, tanto do lado da França como do lado de Espanha, que aperfeiçoaram a arte nas águas mediterrânicas.
Nós estamos numa terra que se pode também considerar o centro de irradiação da xávega. Possivelmente, e já agora invocando Jaime de Magalhães Lima, por causa da influência tartéssica. Por volta de 1925, Magalhães Lima, com efeito, já sugeria que os pescadores de Ílhavo, uma das mais importantes comunidades piscatórias da Ria de Aveiro, descenderiam do povo de Tartesso.
No século XI, já se amanhavam marinhas de sal na nossa Ria. Ovar, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira já tinham deixado de ser povoações bordejando o Atlântico, para passarem a ser terras da Ria.
No século XII, a nossa barra estava na Torreira; e só séculos mais tarde é que a restinga de areia, crescendo do norte, a empurra até Mira. Os nossos pescadores são pescadores-camponeses e os palheiros da nossa costa só os abrigam nos períodos da safra. No século XII, há provas de que já havia pescadores de Ovar a fazer pesca de mar, assim como em Buarcos, Lavos e Mira.
À medida que a Barra avança para sul, deixa de haver marinhas de sal em Ovar; as espécies de água salgada começam a rarear na laguna e a sua pesca começa a empobrecer. Os homens de Cabanões, Ovar, no século XVI, começam a trabalhar no Furadouro, pois que era a praia mais próxima. Depois, avançam para a Torreira e São Jacinto. A capela da Nossa Senhora das Areias é anterior a 1549. Por essas alturas, usam o chinchorro, uma arte mais pequena que a xávega e cujo pescado mais significativo era a sardinha. No século XVIII, Aveiro não teria mais de 1 400 casas em ruinoso estado, e a população morria de fome e de febres.
Mas, antes, no século XVI, Aveiro, no seu apogeu, armava mais de 150 barcos para o comércio do sal e para a pesca do bacalhau e não há notícia de emigração de pescadores. Já não assim no século XVIII, século da miséria das nossas terras, com a Barra praticamente fechada. Os Ílhavos fundam, em 1770, uma colónia na Caparica. O século XIX é um período mau para a economia da Ria. A barra está má e dá-se a migração dos nossos pescadores. Formam-se mais companhas ao longo da nossa costa: na Costa Nova, na Vagueira, no Areão; os palheiros de Mira começam a ser construídos por pescadores de Ílhavo, no princípio desse século; e depois, surge a Tocha.
É um Ílhavo de nome Barreto que leva para a Cova, a sul do Mondego, em 1808, a sua companha. Um outro Ílhavo, logo de seguida, funda a companha de Lavos. E um outro, seu neto, chega à Leirosa. Na mesma levada, é gente de Lavos e de Mira que começa a trabalhar com a xávega, em Pedrógão. Em Vieira de Leiria, a xávega também surge no princípio do séc. XIX. Nos meados do século, a Costa da Caparica surge como colónia de ílhavos e de algarvios. No virar para o século XX, há lá 10 companhas com mais de 700 pessoas. Depois, é a Fonte da Telha, a Costa da Galé, a lagoa de Santo André, sempre com gente da mesma origem: Ílhavo. Quando o mar não deixa, os pescadores de Ovar e de Aveiro ficam-se por Cascais e, mais adentro no Tejo, nas águas de Vila-Franca: são os avieiros.
Mas a verdade é que, no século XIX, as capturas feitas pelas companhas de entre Espinho e Mira representam, grosso-modo, 1/6 do total das pescas de Portugal. Mais de 5.000 pessoas empregam-se em 90 companhas, que se espalham por 25 praias da nossa costa ocidental. Os barcos e as xávegas aumentam de tamanho e começam a ser utilizados bois na faina. Uma companha, que chegava a empregar 200 pessoas, entre tripulantes e pessoal de terra, com a utilização dos animais, passa para de 80 a 100 pessoas, como consequência do uso das juntas de bois.
As redes chegam a atingir os 700 metros, com lanços que chegam também a afastar-se da costa 6 Km, usando, em cada manga, cordão de alagem que atinge os 10 Km. Os barcos de mar chegam a medir, de fora-a-fora, 16 metros, e os de 4 remos levam a bordo 46 homens, aos remos e aos cambões. Até meados do século XIX, as companhas tinham uma natureza cooperativista, repartindo-se o resultado da pesca em quinhões, uma vez deduzidas as despesas.
Depois, surgem empresas dominadas pelos grandes proprietários, comerciantes e conserveiros, pois que o espírito de companha se perdeu, em consequência de abusos dos arrais, que tinham deixado de ser eleitos e começaram a aparecer como patrões. Os pescadores passam a assalariados, recebendo um salário em dinheiro – a soldada –, mais uma pequena caldeirada e algum vinho. Com o relançamento da pesca longínqua e do arrasto costeiro, em meados do século XX e primeiras décadas da sua segunda metade, as xávegas quase que desaparecem.
Mas, nas últimas dezenas de anos, com a política de abate de navios, favorecida pela Comunidade Europeia, em consequência da implantação de zonas económicas exclusivas e de uma tentativa de fazer com que se adequem as capacidades de captura aos recursos piscícolas sobre-explorados, em águas de países terceiros, está-se a assistir ao renascer da arte de xávega na nossa costa e ao recrudescer das pescarias artesanais, não só no litoral, como no interior da Ria. É que milhares de pescadores perderam, por causa destas mudanças, o seu emprego nas pescas industriais.
E aí, Rocha Madahil não acertou no seu vaticínio, que até corresponderia a um desiderato correcto. A xávega renasceu, mas nem por isso deixa de ser uma arte, como sempre foi, economicamente muito aleatória e por muitos considerada nociva para as maternidades. Por regra, o peixe capturado é de dimensões reduzidas. E os rendimentos dos pescadores são insatisfatórios, por insuficientes e não regulares. Este renascer de uma arte tão pouco segura, economicamente considerada, é sinal de doença social, que carece de diagnóstico adequado e de medidas curativas, que não passam, somente, pelo seu hipotético valimento como atracção turística.
Como actividade económica com futuro válido, por certo que não o é, pelo menos na nossa perspectiva apesar de os pescadores, no seu atavismo, poderem gritar que sim, como o têm vindo a fazer nos últimos tempos, pois não vislumbram, só por si mesmos, alternativa de vida.
E, contudo, o espectáculo está aí, nas nossas praias, na alacridade das belíssimas imagens que as objectivas gulosas, ávidas, dos turistas vão roubando ao suor de quem pratica tão ingrata arte».
Adaptado do artigo de Gaspar Albino – Prof2000.
Sem dúvida, o barco de mar é um dos exemplos da riqueza marítima de Portugal e dos vários povos que acabariam por formar o país até hoje. Normalmente ninguém pensa muito sobre isto, somos todos Portugueses, mas não deixa de ser extraordinário olhar para o passado e descobrir a origem de coisas que temos hoje como nossas e os barcos de pesca e trabalho ao longo de todo o Portugal são um dos temas que melhor retratam esse passado.
Tenho varrido país a país da Europa que tem costa e mar e os seus barcos tradicionais e isso deu-me uma imagem geral pela qual passei a medir Portugal na sua riqueza marítima. Não conheço outro país com tamanha variedade de barcos de diferentes raízes no seu passado e sendo Portugal país de passagem entre Mediterrâneo e Norte da Europa, ganhamos com isso a riqueza naval dos dois. Saibamos pois mantê-la viva fora dos museus e presente na língua do povo.
Aconselho a visita ao site MARINTIMIDADES, da Drª Ana Maria Lopes, onde é possível encontrar um excelente artigo sobre um modelo dum barco de mar já bastante antigo e restaurado recentemente pelo hábil Capitão Marques da Silva. Uma notável pequena obra-prima.
A merecer uma prolongada visita está também o site a Arte Xávega na Torreira, de onde é a foto nº 2. Contém fotos que documentam esta pesca desde há vários anos e é de grande valor etnográfico.
A arte de xávega, do árabe “xabaka”, é um aparelho de pesca de arrasto demersal que, na nossa costa é lançado pelo barco de mar. Partindo da praia, desloca-se até à distância consentida pelo aparelho e à praia regressa, iniciando-se então o arrasto propriamente dito.
A xávega é portanto uma arte envolvente de arrastar pelo fundo e alar para a praia, constando o aparelho, ou arte, de um saco prolongado por duas asas ou mangas, nos extremos das quais se amarram os cabos de alagem ou calas.
É constituído por um extenso pano de rede de malha quadrangular, interceptado ao centro por um saco do mesmo género: o espaço da intercepção corresponde à boca do saco e designa-se pelo nome de bocada: às duas fracções do pano, que se desenvolvem para cada lado desta, dá-se o nome de mangas, que, desde a junção à bocada, decrescem em largura até à extremidade oposta, que tem o nome de calão, ponta da manga onde se prendem as calas. que são os cabos de alagem deste sistema de aparelho de pesca.
Esta é a descrição da arte, como nos é dada pelo etnógrafo Domingos José de Castro, na sua obra "AVEIRO – Pescadores", editada pelo Instituto para a Alta Cultura em 1943.
Por essa altura, o saco, de forma trapezoidal, andava pelos 70 metros de circunferência, 40 de profundidade e 8 de largura, na cuada ou fundo do saco. A malhagem era somente de 1 cm na cuada, até atingir 6,5 cm na bocada, que era guarnecida na sua parte superior por uma cortiçada – flutuadores de cortiça – e, na sua parte inferior era lastrada por tijolos.
Cada uma das mangas tinha 230 metros de comprimento, começando por uma largura de 25 metros na parte do saco e decrescendo até 20 metros no calão. As mangas eram constituídas por panos de fio singelo de malha, que só era dobrado junto à bocada.
Ao longo das mangas, pela parte de cima e por um e outro lados, corriam paralelamente duas linhas a uma distância de 35 cm e guarnecidas com pandas, bocados de cortiça que suspendiam o aparelho a uma altura de água que nunca deveria exceder a da bocada. Pelo lado de baixo, mais duas linhas guarnecidas de discos de barro cozido – pandulhos ou bolos – lastravam as mangas, de forma a que o aparelho arrastasse mesmo pelo fundo. Nas extremidades de cada uma das mangas, eram presos por uma corda barris estanques, chamados balizas ou arinques. Um outro barril – o clime – era colocado na cuada do saco.
O aparelho era feito, nesses tempos, de fio de linho, que era depois posto numa infusão de casca de salgueiro, ficando com uma cor acastanhada, para não assustar o peixe. As mangas, para além do encasque, eram passadas por um banho de alcatrão.
As calas de alar o aparelho podiam ser de linho ou de esparto e eram divididas em rolos, partes que se emendavam umas nas outras. Estes rolos chamavam-se cordas, quando eram singelos; cabos, quando eram dobrados; e olras, quando eram triplos.
O número de rolos, que constituíam as calas, variava de praia para praia, podendo ir de 160 rolos de 60 metros cada, até 29 rolos de 99 metros cada. Isto define que os barcos de mar se poderiam afastar da praia, de 2.800 até 9.600 metros, para lançar o aparelho de pesca.
As calas eram transportadas do palheiro da praia até ao barco, rolo a rolo por vários grupos de 2 homens munidos de um bordão colocado ao ombro. A rede era levada em procissão pelos tripulantes, colocando-se no barco primeiro a manga inicial, depois o saco seguido da segunda manga; por fim colocava-se a bordo o reçoeiro – isto é: a cala de recolha da arte para terra. Esta é uma descrição sumária dos elementos físicos que constituíam o aparelho da xávega propriamente dito.
Hoje em dia, as artes de xávega, em esquema, são muito semelhantes às dos tempos recuados, diferindo somente nas suas dimensões e nos materiais de que são feitos os aparelhos ou redes. Ao linho sucederam os nylons, os polipropilenos e os polietilenos.
Com efeito, as maiores redes de xávega da nossa costa vão agora somente até cerca de 200 metros. Mas há xávegas mais pequenas que não ultrapassam os 100 metros, se bem que todas mantenham a mesma estrutura básica de outros tempos, quando a arte propriamente dita chegava a ultrapassar os 300 metros.
Em 1993 ainda não havia enquadramento legal da arte de xávega que estava em uso. Nesse mesmo ano, surgiu um projecto de portaria com esse objectivo, da autoria do ex-deputado pelo Distrito de Aveiro, Dr. Olinto Ravara, congeminado a partir da realidade então verificável na arte e de pareceres científicos emitidos pelo Instituto Português de Investigação Marítima. Tal projecto procurava definir as características e dimensões do aparelho ou arte de xávega, de acordo com um mínimo de exigências que já se impunham.
Assim, teríamos que o saco não poderia ter um comprimento superior a 50 m; que a sua largura máxima na boca não poderia exceder os 20 m e na cuada 10 m. A malhagem do saco deveria ter o tamanho mínimo de 20 mm. As mangas ou asas da arte não poderiam exceder o comprimento de 300 m; e a sua largura máxima, nos miúdos, seria de 80 m e, nos claros, 40 m. Os cabos de alagem da arte deveriam ter o comprimento máximo de 3 000 m.
As artes que se usavam efectivamente, nesses não recuados tempos, atraiçoariam porém estas bitolas, particularmente no concernente à malhagem do saco. O que pauta, hoje em dia, a arte de xávega é o Regulamento da Pesca por Arte Envolvente-Arrastante, constante da Portaria n.º 1102-F/2000 de 22 de Novembro, a qual expressamente revogou a Portaria n.º 488/96, de 13 de Setembro.
Conforme aquela Portaria, por “pesca por arte envolvente-arrastante entende-se qualquer método de pesca que utiliza estruturas de rede, com frequência dotadas de bolsa central e grandes “asas” laterais que arrastam e, prévia ou simultaneamente, envolvem ou cercam». Ainda de acordo com a mesma Portaria, esta pesca só pode ser exercida com a chamada arte de xávega, a qual é uma arte de alar para terra. O esforço de tracção necessário à alagem da arte pode ter origem mecânica ou animal, incluindo-se nesta a força braçal humana. A xávega só pode ser largada por embarcações licenciadas para o efeito e estas só podem operar na área da jurisdição da capitania de porto do seu registo”.
Julgamos que já se descreveu de forma bastante pormenorizada este aparelho de pesca, o qual se distingue de outros tipos de artes envolventes arrastantes, como a bujiganga, o chinchorro, etc., pelo facto de a xávega ser de maiores dimensões e apresentar malhagens diferentes nas mangas e no saco, malhagens essas que nas asas, aumentam da boca do saco para as extremidades, onde prendem os cabos de alagem e no saco aumentam do fundo para a boca.
O Barco de Mar ou Xávega
Fácil se torna entender que a arte de pesca empreste o seu nome ao barco com que ela se exercita. Com efeito, assim acontece no caso do barco de mar, que é utilizado na xávega na nossa costa ocidental atlântica desde Espinho até Vieira de Leiria, ao qual os pescadores também chamam tão simplesmente de “o xávega”.
Difícil se me torna, todavia, chamar ao nosso barco de mar de saveiro, como vejo acontecer, por exemplo, no DICIONÁRIO DA LINGUAGEM DE MARINHA ANTIGA E ACTUAL, obra rigorosa do comandante Humberto Leitão e que constitui o mais completo elucidário da especialidade existente em Portugal. Com efeito, nele se define saveiro como embarcação de fundo chato, com as formas semelhantes às do meia-lua, havendo por diferença principal ter a proa mais erguida que a popa.
Os saveiros /.../ não se afastam da costa e servem, especialmente, para conduzir as redes, que são lançadas em frente da praia.
Saveiro também chama ao barco de mar o arqueólogo Octávio Lixa Filgueiras, no seu trabalho THE XAVEGA BOAT – A Case Study in the integration of Archaeological and Ethnological Data, apresentado, em Setembro de 1976, num simpósio levado a cabo no Museu Marítimo Nacional, em Greenwich-Inglaterra, subordinado ao terra genérico de, traduzo, Origens e Técnicas na Arqueologia de Barcos.
Mas saveiro será já tão somente, a nossa bateira de mar, bem distinta do barco de mar na sua forma, se bem que não totalmente na sua função e uso aos olhos dos especialistas, Dr. Manuel de Castelo Branco (EMBARCAÇÕES E ARTES DE PESCA, Lxª, 1981) e Domingos José de Castro, na obra que já citámos no início.
Este etnógrafo define o barco de mar como "aparentemente desprovido de solidez /.../, de bicas exageradamente alteadas /.../, mas que, na realidade, possui um jogo de características especiais que parece explicar as condições que o apropriam à função marítima que lhe é atribuída.
Precisamente porque tem de oferecer às ondas a menor resistência para as galgar de pronto, mal assente na água, como o descreve Raul Brandão, este barco conjuga o seu formato, semelhante a um crescente, com o sistema planiforme de fundo, condições estas que lhe permitem, pela falta de portos de abrigo, o acesso directamente do areal para o mar e vice-versa, e suportar com mais facilidade, pela elevação pronunciada dos castelos da proa e da ré, a violência da pancada do mar, ou quebra das ondas, na manobra arriscada da travessia da faixa de rebentação geralmente forte no litoral de areia que se delimita a Norte, nas primeiras rochas de Miramar e a Sul ultrapassando o Cabo Mondego, nas areias da praia de Vieira de Leiria. Raul Brandão compara-o com "o feitio côncavo do espaço que vai de vaga a vaga" – o seio da vaga, acrescentamos nós.
O barco grande de xávega é ainda hoje, como sempre foi, construído de madeira de pinheiro e tinha nas construções em uso nos meados deste século, 16,5 m de fora a fora, 4,2 m de boca, 3,5 m de largura máxima de fundo entre costados e um pontal de 1,3 m. Deslocava cerca de 15,5 toneladas, calava cerca de 1 metro e tinha um esqueleto de 27 cavernas. O período de vida útil dum barco deste tipo era de cerca de 8 anos, desde que submetido a regulares tarefas de manutenção.
Desde os seus alvores, foi sempre um barco a remos, com grupos de 2 ou de 4 remos. No primeiro caso, os remos chamam-se: o de vante, remo-maião; o outro, remo-proa. Nos barcos de 4 remos, estes chamavam-se, de proa para a ré: remo-castelo-da-proa, remo-maião, remo-proa e remo-castelo-da-ré.
No caso dos barcos de dois remos, a tripulação era de 34 homens e nos de 4 remos, 46 homens. Actualmente a grande maioria, se não a totalidade dos barcos de mar, só tem 2 remos, usados nas manobras de largada e de chegada à praia. São mais pequenos de porte e a sua propulsão, no lance da arte é garantida por motores fora-de-borda da ordem dos 40 cavalos, enxertados na rabada dos barcos.
Quanto à origem destes barcos únicos na nossa costa, muito há que esclarecer.
Rocha Madahil, no seu trabalho “BARCOS DE PORTUGAL”, escreveu: "Na Costa baixa entre Espinho e Mira fixou-se há muitos séculos outro tipo de barco de pesca, graciosíssimo, perfilado em crescente de lua, que mal aflora a vaga e vai a grandes distâncias, sem leme sequer, levado sempre pelos possantes remadores, que o empregam principalmente na pesca da sardinha. Por comparação da sua silhueta com o petróglifo de Häggeby, conseguimos determinar-lhe a ascendência normanda, dos Vikings, que utilizavam barcos assim para viagens de longo curso; do conhecimento da nossa costa por esses povos do Báltico não é lícito duvidar: documentos portugueses do século XI referem algumas das piratarias desses Laudomanes, e aprisionamento de populações das vizinhanças de Ovar, resgatadas, depois, por cabeças de gado, artefactos e moios de sal. Cerca de dois séculos duraram essas piratarias dos normandos nas costas da Península, e nos nossos barcos do litoral vareiro ficou até ao presente a imagem viva dos seus transportes marítimos, que fizeram o terror dos nossos antepassados, mas que ofereciam notáveis condições de navegabilidade, ainda hoje não excedidas para as fainas da pesca local. Esse mesmo tipo de barco, que supera em elegância qualquer outro da costa portuguesa, encontra-se em Lavos, ao sul do Mondego e na Caparica, onde o conhecem por saveiro ou meia-lua; ao norte, irradiou também para a Afurada e Lavadores. Poucos mais anos durará."
Como se enganou Rocha Madahil neste vaticínio, como muito bem se prova com o renascer actual da arte de xávega, por razões que adiante aflorarei.
Rocha Madahil não se terá enganado, somente, neste seu antever das coisas futuras. É que as origens normandas, que ele procurou justificar, são totalmente contrariadas pelo arqueólogo naval Lixa Filgueiras, no trabalho que já atrás mencionei. Com efeito, este Professor Arquitecto tão dado às coisas da arqueologia, à luz de conhecimentos muito mais recentes e profundos, divide o nosso país em duas zonas. E o que o divide é o Douro, afirmando que a Norte deste se verificam influências primevas escandinavo/germânicas nas embarcações de rio e bretãs, nas embarcações da costa. Como exemplo acabado das primeiras, aponta o rabelo do Douro: e das segundas, a lancha da Póvoa, que aquele cientista compara, de forma evidente, com o sinagot bretão.
Para sul do Douro, e em toda a nossa costa, Lixa Filgueiras afirma que o saveiro, para ele o nosso barco de mar, é o tipo de barco mais significativo e o vector principal da mais antiga influência mediterrânica. Referindo-se a uma origem mesopotâmica, ele realça a identidade espantosa – técnica e formal – entre o nosso barco de mar e um barco da antiga cidade babilónica de UR (foto à esquerda), que ainda sobrevive no baixo Eufrates e que, pela rota comercial até Ugarit (via Eufrates, Aleppo, Alalakh), terá chegado até ao Mediterrâneo.
Avança ainda com evidências iconográficas: selos cretenses reproduzindo barcos do mesmo tipo, pinturas da tumba de Hagia Tríada e possivelmente. os murais de Thera, que garantem a presença de barcos idênticos no mar Egeu numa progressão para ocidente devidamente documentada.
Mais procura alicerçar a sua tese, verdadeiramente enriquecedora do nosso imaginário histórico recuado, avançando com o problema da origem étnica das comunidades piscatórias, que praticam a xávega com o nosso barco de mar, fundamentando-se com as suas peculiaridades, na coincidência das áreas de distribuição destes barcos, com as principais áreas de refúgio dos povos do sul da Ibéria, depois da queda de Tartesso. Tudo isto, repondo a questão em aberto da influência cretense na desaparecida Tartesso.
Não resisto a citar, recorrendo ao texto inglês, de Lixa Filgueiras, já citado: "Acredito que será muito mais gratificante rever a teoria de Schulten quanto à origem cretense dos povoamentos pré-tartessianos do sul de Espanha, desde os primeiros passos da metalúrgica local, cerca de 2700 a.C., até à chegada cerca de 1 100 antes de Cristo, dos fenícios a Cádis, capital proposta por Schulten para Tartesso, período em que se verificaram importantes acontecimentos na zona do mar Egeu e que, por certo, se reflectiram na costa mediterrânica ibérica. Os selos cretenses com barcos de meia-lua, datados de cerca 2.200 a 2.000 a. C., coincidem com a emergência da talassocracia cretense e subsequente estabelecimento do seu comércio nas praias peninsulares. A rota do estanho e da prata funcionou e é o arqueólogo Schulten, a quem se recorre mais uma vez, que afirma que há vasos, colares e braceletes encontrados no SE da península e que são de origem cretense: assim como adagas de cobre peninsulares datadas do III milénio a. C. foram também encontradas naquela ilha de Creta. Tudo isto mercê do tráfego dos barcos de meia-lua, antepassados dos saveiros, nossos barcos-de-mar. A frota, em que assentava a talassocracia cretense, terá chegado a Tartesso, e daqui até à nossa costa, como já veremos.
Recorrendo a Fernando de Almeida (in Enciclopédia Verbo), Tartesso terá sido um lendário estado monárquico peninsular, que abrangia uma vasta área, que iria desde a actual Cartagena até à foz do Tejo e cuja capital, possivelmente do mesmo nome, se localizaria em Cádis ou Sevilha. Tartesso manteve vastos contactos com os povos do oriente mediterrânico, por força dos quais terá surgido uma escrita semi-silábica, de que são conhecidas inúmeras inscrições, encontradas no Algarve e no Alentejo.
Mercê das suas riquezas mineiras, manteve este reino contactos com fenícios, etruscos, cartagineses, gregos, celtas e romanos. Tartesso entrou em decadência e sucessores do seu último rei, Theron, terão sido os turdetanos e depois, os túrdulos. E terá sido um grupo de túrdulos que, segundo Estrabão, acompanhou um bando de "célticos", numa campanha em direcção ao norte da Península. Conforme Matoso, terão sido os Túrdulos Velhos (Turduliveteres), citados por Mela e Plínio, que ocuparam as regiões do Vouga e do Mondego, alastrando até junto do Tejo.
Entre as suas cidades, contavam-se entre outras, Aeminium (Coimbra), Conímbriga e Talábriga. A nossa Talábriga, topónimo formado por TALA + BRIGA, tendo o primeiro elemento, possivelmente, origem na lingua tartéssica e que significa "barro", "argila”; o segundo, "briga", é de origem céltica e quer dizer “monte".
Ora, Talábriga ficaria, segundo o itinerário de Antonino, a 40.000 passos de Aeminium, (Coimbra), na estrada romana que iria desta até "Cale", hoje Gaia: mais ou menos a 59 Km por norte de Coimbra, aqui mesmo, na Branca, ao lado de Albergaria, onde ainda se vêem restos de via romana. Concluindo-se, para incitar a novas buscas: a dispersão das populações do sul peninsular, depois da queda de Tartesso, pode-se comparar com as rotas de unificação dos barcos de meia-lua, os nossos barcos-de-mar, que se orientaram em primeiro lugar, para a nossa região e depois, refluíram, por razões bem diferentes e em épocas bem posteriores, para as várias praias de areia da nossa costa ocidental e do Algarve.
Homens da xávega
A história da arte de xávega é em larga medida, a história do povoamento das areias litorâneas portuguesas do Atlântico ocidental e algarvio, particularmente no grande areal da costa norte de Espinho, até Vieira de Leiria e mais para baixo, na Costa da Caparica, Santo André e Monte Gordo.
Habitando em precários palheiros construídos na praia ou até sob os seus próprios barcos ao longo dos séculos, começando muito antes até da constituição da nossa nacionalidade, há provas do uso de redes lançadas desde terra e recolhidas, também para terra, só à força de braços; com barcos e com ajuda de braços e com juntas de bois ou, como acontece hoje, com tractores.
Os discípulos de Jesus, pescadores da Galileia, praticaram esta pescaria. Assim como os fenícios, os gregos e os romanos; os árabes, os catalães, os franceses e espanhóis e os andaluzes, também.
Contudo, as redes de xávega, tais como as descrevemos, terão sido trazidas para Portugal, por catalães, tanto do lado da França como do lado de Espanha, que aperfeiçoaram a arte nas águas mediterrânicas.
Nós estamos numa terra que se pode também considerar o centro de irradiação da xávega. Possivelmente, e já agora invocando Jaime de Magalhães Lima, por causa da influência tartéssica. Por volta de 1925, Magalhães Lima, com efeito, já sugeria que os pescadores de Ílhavo, uma das mais importantes comunidades piscatórias da Ria de Aveiro, descenderiam do povo de Tartesso.
No século XI, já se amanhavam marinhas de sal na nossa Ria. Ovar, Aveiro, Ílhavo, Vagos e Mira já tinham deixado de ser povoações bordejando o Atlântico, para passarem a ser terras da Ria.
No século XII, a nossa barra estava na Torreira; e só séculos mais tarde é que a restinga de areia, crescendo do norte, a empurra até Mira. Os nossos pescadores são pescadores-camponeses e os palheiros da nossa costa só os abrigam nos períodos da safra. No século XII, há provas de que já havia pescadores de Ovar a fazer pesca de mar, assim como em Buarcos, Lavos e Mira.
À medida que a Barra avança para sul, deixa de haver marinhas de sal em Ovar; as espécies de água salgada começam a rarear na laguna e a sua pesca começa a empobrecer. Os homens de Cabanões, Ovar, no século XVI, começam a trabalhar no Furadouro, pois que era a praia mais próxima. Depois, avançam para a Torreira e São Jacinto. A capela da Nossa Senhora das Areias é anterior a 1549. Por essas alturas, usam o chinchorro, uma arte mais pequena que a xávega e cujo pescado mais significativo era a sardinha. No século XVIII, Aveiro não teria mais de 1 400 casas em ruinoso estado, e a população morria de fome e de febres.
Mas, antes, no século XVI, Aveiro, no seu apogeu, armava mais de 150 barcos para o comércio do sal e para a pesca do bacalhau e não há notícia de emigração de pescadores. Já não assim no século XVIII, século da miséria das nossas terras, com a Barra praticamente fechada. Os Ílhavos fundam, em 1770, uma colónia na Caparica. O século XIX é um período mau para a economia da Ria. A barra está má e dá-se a migração dos nossos pescadores. Formam-se mais companhas ao longo da nossa costa: na Costa Nova, na Vagueira, no Areão; os palheiros de Mira começam a ser construídos por pescadores de Ílhavo, no princípio desse século; e depois, surge a Tocha.
É um Ílhavo de nome Barreto que leva para a Cova, a sul do Mondego, em 1808, a sua companha. Um outro Ílhavo, logo de seguida, funda a companha de Lavos. E um outro, seu neto, chega à Leirosa. Na mesma levada, é gente de Lavos e de Mira que começa a trabalhar com a xávega, em Pedrógão. Em Vieira de Leiria, a xávega também surge no princípio do séc. XIX. Nos meados do século, a Costa da Caparica surge como colónia de ílhavos e de algarvios. No virar para o século XX, há lá 10 companhas com mais de 700 pessoas. Depois, é a Fonte da Telha, a Costa da Galé, a lagoa de Santo André, sempre com gente da mesma origem: Ílhavo. Quando o mar não deixa, os pescadores de Ovar e de Aveiro ficam-se por Cascais e, mais adentro no Tejo, nas águas de Vila-Franca: são os avieiros.
Mas a verdade é que, no século XIX, as capturas feitas pelas companhas de entre Espinho e Mira representam, grosso-modo, 1/6 do total das pescas de Portugal. Mais de 5.000 pessoas empregam-se em 90 companhas, que se espalham por 25 praias da nossa costa ocidental. Os barcos e as xávegas aumentam de tamanho e começam a ser utilizados bois na faina. Uma companha, que chegava a empregar 200 pessoas, entre tripulantes e pessoal de terra, com a utilização dos animais, passa para de 80 a 100 pessoas, como consequência do uso das juntas de bois.
As redes chegam a atingir os 700 metros, com lanços que chegam também a afastar-se da costa 6 Km, usando, em cada manga, cordão de alagem que atinge os 10 Km. Os barcos de mar chegam a medir, de fora-a-fora, 16 metros, e os de 4 remos levam a bordo 46 homens, aos remos e aos cambões. Até meados do século XIX, as companhas tinham uma natureza cooperativista, repartindo-se o resultado da pesca em quinhões, uma vez deduzidas as despesas.
Depois, surgem empresas dominadas pelos grandes proprietários, comerciantes e conserveiros, pois que o espírito de companha se perdeu, em consequência de abusos dos arrais, que tinham deixado de ser eleitos e começaram a aparecer como patrões. Os pescadores passam a assalariados, recebendo um salário em dinheiro – a soldada –, mais uma pequena caldeirada e algum vinho. Com o relançamento da pesca longínqua e do arrasto costeiro, em meados do século XX e primeiras décadas da sua segunda metade, as xávegas quase que desaparecem.
Mas, nas últimas dezenas de anos, com a política de abate de navios, favorecida pela Comunidade Europeia, em consequência da implantação de zonas económicas exclusivas e de uma tentativa de fazer com que se adequem as capacidades de captura aos recursos piscícolas sobre-explorados, em águas de países terceiros, está-se a assistir ao renascer da arte de xávega na nossa costa e ao recrudescer das pescarias artesanais, não só no litoral, como no interior da Ria. É que milhares de pescadores perderam, por causa destas mudanças, o seu emprego nas pescas industriais.
E aí, Rocha Madahil não acertou no seu vaticínio, que até corresponderia a um desiderato correcto. A xávega renasceu, mas nem por isso deixa de ser uma arte, como sempre foi, economicamente muito aleatória e por muitos considerada nociva para as maternidades. Por regra, o peixe capturado é de dimensões reduzidas. E os rendimentos dos pescadores são insatisfatórios, por insuficientes e não regulares. Este renascer de uma arte tão pouco segura, economicamente considerada, é sinal de doença social, que carece de diagnóstico adequado e de medidas curativas, que não passam, somente, pelo seu hipotético valimento como atracção turística.
Como actividade económica com futuro válido, por certo que não o é, pelo menos na nossa perspectiva apesar de os pescadores, no seu atavismo, poderem gritar que sim, como o têm vindo a fazer nos últimos tempos, pois não vislumbram, só por si mesmos, alternativa de vida.
E, contudo, o espectáculo está aí, nas nossas praias, na alacridade das belíssimas imagens que as objectivas gulosas, ávidas, dos turistas vão roubando ao suor de quem pratica tão ingrata arte».
Adaptado do artigo de Gaspar Albino – Prof2000.
Sem dúvida, o barco de mar é um dos exemplos da riqueza marítima de Portugal e dos vários povos que acabariam por formar o país até hoje. Normalmente ninguém pensa muito sobre isto, somos todos Portugueses, mas não deixa de ser extraordinário olhar para o passado e descobrir a origem de coisas que temos hoje como nossas e os barcos de pesca e trabalho ao longo de todo o Portugal são um dos temas que melhor retratam esse passado.
Tenho varrido país a país da Europa que tem costa e mar e os seus barcos tradicionais e isso deu-me uma imagem geral pela qual passei a medir Portugal na sua riqueza marítima. Não conheço outro país com tamanha variedade de barcos de diferentes raízes no seu passado e sendo Portugal país de passagem entre Mediterrâneo e Norte da Europa, ganhamos com isso a riqueza naval dos dois. Saibamos pois mantê-la viva fora dos museus e presente na língua do povo.
Aconselho a visita ao site MARINTIMIDADES, da Drª Ana Maria Lopes, onde é possível encontrar um excelente artigo sobre um modelo dum barco de mar já bastante antigo e restaurado recentemente pelo hábil Capitão Marques da Silva. Uma notável pequena obra-prima.
A merecer uma prolongada visita está também o site a Arte Xávega na Torreira, de onde é a foto nº 2. Contém fotos que documentam esta pesca desde há vários anos e é de grande valor etnográfico.
segunda-feira, julho 14, 2008
domingo, julho 13, 2008
A remistura tu-tu-tu-tu-tura
Discografia Duran Duran - 16
'The Reflex' (single), 1984
O terceiro e último single extraído de Seven And The Ragged Tiger “salvou” o que parecia um acumular de erros na etapa de maior popularidade da história dos Duran Duran. Remisturada por Nile Rodgers (dos Chic), The Reflex surgiu no formato de 45 rotações numa versão radicalmente diferente da que se escutara no álbum. Mais intensa, com ritmo capaz de sugerir adesão nas pistas de dança. E liberta de alguns excessos que caracterizavam o tom “barroco” que dominara o som do álbum. A resposta do público a um single que parecia devolver os Duran Duran ao clima de viço pop que haviam conhecido entre 1981 e 82 não se fez esperar. E rapidamente The Reflex acabou transformado no maior êxito do grupo até à data, subindo ao primeiro lugar de tabelas de vendas em países como o Reino Unido, EUA, Canadá, Irlanda ou Holanda, entre outros mais. No lado B do single, sublinhando o facto do grupo ter passado parte dos meses anteriores na estrada, foi incluída uma gravação ao vivo, curiosamente registada não na presente digressão, mas em 1982. Nela escutamos a banda, com Steve Harley em palco, numa versão de Make Me Smile (Come Up And See Me), velho clássico dos Cockney Rebel. O máxi-single incluía uma versão longa da remistura de Nile Rodgers para The Reflex.
O teledisco de The Reflex surgiu das filmagens de palco durante a Sing Blue Silver Tour da qual nasceriam um documentário, um especial de televisão e o filme Arena. Novamente sob a direcção de Russel Mulcahy, os Duran Duran surgem em cena, sobre o palco usado na digressão. As imagens ao vivo são depois cruzadas com efeitos visuais que, modernos na altura, quem dera a muita gente que anda hoje na música...
(in «Sound + Vision»)
'The Reflex' (single), 1984
O terceiro e último single extraído de Seven And The Ragged Tiger “salvou” o que parecia um acumular de erros na etapa de maior popularidade da história dos Duran Duran. Remisturada por Nile Rodgers (dos Chic), The Reflex surgiu no formato de 45 rotações numa versão radicalmente diferente da que se escutara no álbum. Mais intensa, com ritmo capaz de sugerir adesão nas pistas de dança. E liberta de alguns excessos que caracterizavam o tom “barroco” que dominara o som do álbum. A resposta do público a um single que parecia devolver os Duran Duran ao clima de viço pop que haviam conhecido entre 1981 e 82 não se fez esperar. E rapidamente The Reflex acabou transformado no maior êxito do grupo até à data, subindo ao primeiro lugar de tabelas de vendas em países como o Reino Unido, EUA, Canadá, Irlanda ou Holanda, entre outros mais. No lado B do single, sublinhando o facto do grupo ter passado parte dos meses anteriores na estrada, foi incluída uma gravação ao vivo, curiosamente registada não na presente digressão, mas em 1982. Nela escutamos a banda, com Steve Harley em palco, numa versão de Make Me Smile (Come Up And See Me), velho clássico dos Cockney Rebel. O máxi-single incluía uma versão longa da remistura de Nile Rodgers para The Reflex.
O teledisco de The Reflex surgiu das filmagens de palco durante a Sing Blue Silver Tour da qual nasceriam um documentário, um especial de televisão e o filme Arena. Novamente sob a direcção de Russel Mulcahy, os Duran Duran surgem em cena, sobre o palco usado na digressão. As imagens ao vivo são depois cruzadas com efeitos visuais que, modernos na altura, quem dera a muita gente que anda hoje na música...
(in «Sound + Vision»)
sábado, julho 12, 2008
«Acesso Reservado» em exibição
«Acesso reservado» é o título do documentário realizado por Pedro Lemos e Gustavo Ribeiro que tem exibição agendada para o dia 15 de Julho de 2008, às 21.30 horas, no Auditório dos Paços da Cultura em São João da Madeira, na rua 11 de Outubro.
A exibição encontra-se inserida na 1.ª Mostra de Curtas Metragens de São João da Madeira, organizada pela Associação Cultural Teia dos Sonhos.
«Acesso reservado» é o título do documentário realizado por Pedro Lemos e Gustavo Ribeiro que tem exibição agendada para o dia 15 de Julho de 2008, às 21.30 horas, no Auditório dos Paços da Cultura em São João da Madeira, na rua 11 de Outubro.
A exibição encontra-se inserida na 1.ª Mostra de Curtas Metragens de São João da Madeira, organizada pela Associação Cultural Teia dos Sonhos.
sexta-feira, julho 11, 2008
Sabia que...
...a Ovarense é o único clube aveirense que conquistou a principal prova do calendário nacional e em 4 ocasiões. Em 1986/87 venceu o Campeonato Nacional de Seniores da 1ª Divisão. Nesta fase a Ovarense venceu ainda 2 Taças de Portugal de forma consecutiva em 1988/89 e 1989/90.
Já na actual Liga Profissional venceu a prova por 3 vezes, juntando ao seu enorme palmarés mais 6 Supertaças, 4 Taças da Liga e 2 Torneios dos Campeões.
Livro
”História do Basquetebol Aveirense”
...a Ovarense é o único clube aveirense que conquistou a principal prova do calendário nacional e em 4 ocasiões. Em 1986/87 venceu o Campeonato Nacional de Seniores da 1ª Divisão. Nesta fase a Ovarense venceu ainda 2 Taças de Portugal de forma consecutiva em 1988/89 e 1989/90.
Já na actual Liga Profissional venceu a prova por 3 vezes, juntando ao seu enorme palmarés mais 6 Supertaças, 4 Taças da Liga e 2 Torneios dos Campeões.
Livro
”História do Basquetebol Aveirense”
Desculpe, importa-se de repetir?
"... «Wild Boys», «Hungry Like the Wolf», «Come Undone», «Girls on Film» e «Rio» fizeram parte de um alinhamento que convenceu, mas não encheu as medidas do público que ali se deslocou para os (re)ver." - (in Diário Digital)
Como é que é? A sério? Não encheu as medidas?!! A mim, encheu-me as medidas. Em certos aspectos, este concerto até foi melhor do que o de há 2 anos no Coliseu e esta senhora escreve-me que o concerto "não encheu as medidas do público que ali se deslocou para os ver". Isto de fazer críticas a concertos que se vêm da zona VIP, só pode resultar neste tipo de barbaridades. É por estas e por outras a crítica musical neste país está no estado em que está.
Já agora, só uma palavrinha à organização: Como é possível colocarem uma banda que vai a caminho dos 100 milhões de discos vendidos a tocar às 21.40, durante uma hora apenas, e o Mika, que trouxe bonecas de trapos, soldadinhos de chumbo e palhaços, às 1.30 horas, quando o recinto estava meio vazio após a actuação dos Duran Duran e as crianças já deviam estar a dormir e as que resisitiram já não podiam mais? Sinceramente, há aqui qualquer coisa que não bate certo.
(Fotos de Rui M. Leal)
"... «Wild Boys», «Hungry Like the Wolf», «Come Undone», «Girls on Film» e «Rio» fizeram parte de um alinhamento que convenceu, mas não encheu as medidas do público que ali se deslocou para os (re)ver." - (in Diário Digital)
Como é que é? A sério? Não encheu as medidas?!! A mim, encheu-me as medidas. Em certos aspectos, este concerto até foi melhor do que o de há 2 anos no Coliseu e esta senhora escreve-me que o concerto "não encheu as medidas do público que ali se deslocou para os ver". Isto de fazer críticas a concertos que se vêm da zona VIP, só pode resultar neste tipo de barbaridades. É por estas e por outras a crítica musical neste país está no estado em que está.
Já agora, só uma palavrinha à organização: Como é possível colocarem uma banda que vai a caminho dos 100 milhões de discos vendidos a tocar às 21.40, durante uma hora apenas, e o Mika, que trouxe bonecas de trapos, soldadinhos de chumbo e palhaços, às 1.30 horas, quando o recinto estava meio vazio após a actuação dos Duran Duran e as crianças já deviam estar a dormir e as que resisitiram já não podiam mais? Sinceramente, há aqui qualquer coisa que não bate certo.
(Fotos de Rui M. Leal)
"1ª Caminhada Trilho da Floresta" do CCO
Vai decorrer no próximo dia 3 de Agosto, às 9 horas, a "1ª Caminhada Trilho da Floresta "do CCO.
Esta é mais uma iniciativa organizada pelo Clube de Canoagem de Ovar, tendo como objectivo a interacção saudável com o meio ambiente que nos envolve e essencialmente como forma de angariação de fundos para suportar os elevados custos inerentes aos investimentos e actividade do clube.
Vai decorrer no próximo dia 3 de Agosto, às 9 horas, a "1ª Caminhada Trilho da Floresta "do CCO.
Esta é mais uma iniciativa organizada pelo Clube de Canoagem de Ovar, tendo como objectivo a interacção saudável com o meio ambiente que nos envolve e essencialmente como forma de angariação de fundos para suportar os elevados custos inerentes aos investimentos e actividade do clube.
quinta-feira, julho 10, 2008
Devaneios de uma carteira bem recheada
Discografia Duran Duran - 15
'New Moon On Monday' (single), 1984
Numa altura em que os Duran Duran mostravam sinais de algum cansaço que a suprema exposição fazia supor, o estatuto conquistado nos anos anteriores, assim como o sucesso de uma digressão mundial em curso, chegavam para manter elevado o seu perfil nos primeiros meses de 1984. Antes de reencontrados reais argumentos pop (o que aconteceria meses depois, com uma remistura de The Reflex), deu para perceber alguns dos equívocos de Seven And The Ragged Tiger. Depois de sovado na crítica, apesar dos bons números de vendas (sobretudo nos EUA e Canadá), o álbum deu à luz um novo single que contribuiu para uma relativa perda de terreno do grupo em territórios europeus. New Moon On Monday, lançado em Janeiro de 1984, apesar de representar uma das melhores canções do álbum, parecia não revelar qualquer potencialidade para se transformar num clássico. Engano. Canção pop sumptuosa, com traços de heranças de um sentido de requinte à la Bryan Ferry, representou, como single, mais um êxito e garantiu presenças no top 10 do Reino Unido, EUA, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia. Pouco, convenhamos, para quem “dominava” o mundo... O teledisco, um dos mais caros da videografia do grupo, mudava a linha visual da banda e anunciava o que aí vinha
O teledisco de New Moon On Monday é mais um exemplo claro de um tempo de gastos excessivos (e nada úteis) que o grupo revelou na sua agenda de comportamentos jet set entre 1983 e 84. Rodado por Brian Grant na pequena localidade de Noyers, em França, em pleno Inverno, mostra o grupo como comando rebelde em acção de protesto num estado dominado por um qualquer regime repressivo. Com ares de pompa de cinema...
(in «Sound + Vision»)
'New Moon On Monday' (single), 1984
Numa altura em que os Duran Duran mostravam sinais de algum cansaço que a suprema exposição fazia supor, o estatuto conquistado nos anos anteriores, assim como o sucesso de uma digressão mundial em curso, chegavam para manter elevado o seu perfil nos primeiros meses de 1984. Antes de reencontrados reais argumentos pop (o que aconteceria meses depois, com uma remistura de The Reflex), deu para perceber alguns dos equívocos de Seven And The Ragged Tiger. Depois de sovado na crítica, apesar dos bons números de vendas (sobretudo nos EUA e Canadá), o álbum deu à luz um novo single que contribuiu para uma relativa perda de terreno do grupo em territórios europeus. New Moon On Monday, lançado em Janeiro de 1984, apesar de representar uma das melhores canções do álbum, parecia não revelar qualquer potencialidade para se transformar num clássico. Engano. Canção pop sumptuosa, com traços de heranças de um sentido de requinte à la Bryan Ferry, representou, como single, mais um êxito e garantiu presenças no top 10 do Reino Unido, EUA, Canadá, Irlanda e Nova Zelândia. Pouco, convenhamos, para quem “dominava” o mundo... O teledisco, um dos mais caros da videografia do grupo, mudava a linha visual da banda e anunciava o que aí vinha
O teledisco de New Moon On Monday é mais um exemplo claro de um tempo de gastos excessivos (e nada úteis) que o grupo revelou na sua agenda de comportamentos jet set entre 1983 e 84. Rodado por Brian Grant na pequena localidade de Noyers, em França, em pleno Inverno, mostra o grupo como comando rebelde em acção de protesto num estado dominado por um qualquer regime repressivo. Com ares de pompa de cinema...
(in «Sound + Vision»)
quarta-feira, julho 09, 2008
terça-feira, julho 08, 2008
«Marinheiros» em digressão
Depois do sucesso da sua aparição na festa do 20 anos da AVFM, o Conjunto Típico «Os Marinheiros» apresenta as datas da sua digressão prevista para este Verão.
- 2 DE AGOSTO - 22H - ESMORIZ;
- 9 DE AGOSTO - 22H - ROÇAS - AROUCA;
- 10 DE AGOSTO - 22H - LANDEIRA - S. PEDRO DO SUL;
- 14 DE AGOSTO - 22H - TROPEÇO - AROUCA;
- 25 DE AGOSTO - 22H - QUINTAS DO NORTE - TORREIRA;
- 6 DE SETEMBRO - 22 H - FURADOURO - OVAR;
- 7 DE SETEMBRO - 22 H HORTA - EIXO
- 2 DE AGOSTO - 22H - ESMORIZ;
- 9 DE AGOSTO - 22H - ROÇAS - AROUCA;
- 10 DE AGOSTO - 22H - LANDEIRA - S. PEDRO DO SUL;
- 14 DE AGOSTO - 22H - TROPEÇO - AROUCA;
- 25 DE AGOSTO - 22H - QUINTAS DO NORTE - TORREIRA;
- 6 DE SETEMBRO - 22 H - FURADOURO - OVAR;
- 7 DE SETEMBRO - 22 H HORTA - EIXO
segunda-feira, julho 07, 2008
domingo, julho 06, 2008
«Só no Balanço» deu show
O grupo vareiro de pagode, «Só no Balanço», deu espectáculo na festa do XX aniversário da AVFM que decorreu na última sexta-feira.
Afinados, ensaiados, óptimos executantes e servidos por duas excelentes vozes, estes "miúdos" têm futuro.
Vamos ter mais fotos da festa brevemente.
O grupo vareiro de pagode, «Só no Balanço», deu espectáculo na festa do XX aniversário da AVFM que decorreu na última sexta-feira.
Afinados, ensaiados, óptimos executantes e servidos por duas excelentes vozes, estes "miúdos" têm futuro.
Vamos ter mais fotos da festa brevemente.
sábado, julho 05, 2008
O monumento e a derrocada
Discografia Duran Duran - 14
'Seven and The Ragged Tiger' (álbum), 1983
A alguns - poucos dias - do regresso dos Duran Duran a Portugal, continuamos a passar a revista à discografia da banda.
O álbum com mais cópias vendidas na carreira dos Duran Duran (12 milhões de discos) representou, em finais de 1983, os primeiros sinais de uma instabilidade que culminaria, dois anos depois, com a separação da formação “clássica” da banda. O disco foi gravado sob um estatuto de popularidade global, foi criado sob evidente ansiedade (sobretudo da editora), desejando-se novo êxito depois de Rio. As somas astronómicas ganhas pela banda em 1982 levaram-nos, receando altos impostos, a viver grande parte de 83 fora do Reino Unido. O álbum começou a ser trabalhado num chalet no Sul de França, mas as festas chamavam mas tempo que o trabalho. Seguiram para as Caraíbas, em concreto para os Air Studios. Houve ainda sessões em Londres e uma recta final, em contra-relógio, na Austrália, onde o Outono esperava a estreia da digressão Sing Blue Silver Tour... Sob a atenção da dupla de produtores Ian Little e Alex Sadkin, o disco revela uma colecção de canções menos inspirada que o que haviam mostrado nos dois álbuns anteriores. Os arranjos são pesados, demasiado insistentes, muitas vezes procurando iludir pela forma as falhas no conteúdo. Há mesmo assim grandes canções no álbum, nomeadamente os (bem escolhidos) singles dele extraídos (sobretudo New Moon On Monday e The Reflex), assim como inesquecível é Tiger Tiger, instrumental atmosférico certamente na raiz da ideia de som que acabaria por conduzir ao projecto paralelo Arcadia. O disco foi descrito como uma aventura, a de uma força de comando constituída pela banda e os dois managers (os sete do título), em busca do sucesso (o tal tigre esfarrapado). O sucesso foi atingido, mas a um preço elevado. Com o álbum o grupo manteve aceso, durante 1984, o estatuto de banda pop mais popular do planeta. Mas perdeu o entusiasmo de muitos melómanos e críticos que os acompanhavam desde o princípio. Levou anos a recuperar alguma confiança aqui perdida, mesmo com bons momentos editados mais adiante, ainda em plena década de 80.
"The 7th stranger" era uma balada incluída neste álbum.
(in «Sound + Vision»)
'Seven and The Ragged Tiger' (álbum), 1983
A alguns - poucos dias - do regresso dos Duran Duran a Portugal, continuamos a passar a revista à discografia da banda.
O álbum com mais cópias vendidas na carreira dos Duran Duran (12 milhões de discos) representou, em finais de 1983, os primeiros sinais de uma instabilidade que culminaria, dois anos depois, com a separação da formação “clássica” da banda. O disco foi gravado sob um estatuto de popularidade global, foi criado sob evidente ansiedade (sobretudo da editora), desejando-se novo êxito depois de Rio. As somas astronómicas ganhas pela banda em 1982 levaram-nos, receando altos impostos, a viver grande parte de 83 fora do Reino Unido. O álbum começou a ser trabalhado num chalet no Sul de França, mas as festas chamavam mas tempo que o trabalho. Seguiram para as Caraíbas, em concreto para os Air Studios. Houve ainda sessões em Londres e uma recta final, em contra-relógio, na Austrália, onde o Outono esperava a estreia da digressão Sing Blue Silver Tour... Sob a atenção da dupla de produtores Ian Little e Alex Sadkin, o disco revela uma colecção de canções menos inspirada que o que haviam mostrado nos dois álbuns anteriores. Os arranjos são pesados, demasiado insistentes, muitas vezes procurando iludir pela forma as falhas no conteúdo. Há mesmo assim grandes canções no álbum, nomeadamente os (bem escolhidos) singles dele extraídos (sobretudo New Moon On Monday e The Reflex), assim como inesquecível é Tiger Tiger, instrumental atmosférico certamente na raiz da ideia de som que acabaria por conduzir ao projecto paralelo Arcadia. O disco foi descrito como uma aventura, a de uma força de comando constituída pela banda e os dois managers (os sete do título), em busca do sucesso (o tal tigre esfarrapado). O sucesso foi atingido, mas a um preço elevado. Com o álbum o grupo manteve aceso, durante 1984, o estatuto de banda pop mais popular do planeta. Mas perdeu o entusiasmo de muitos melómanos e críticos que os acompanhavam desde o princípio. Levou anos a recuperar alguma confiança aqui perdida, mesmo com bons momentos editados mais adiante, ainda em plena década de 80.
"The 7th stranger" era uma balada incluída neste álbum.
(in «Sound + Vision»)
sexta-feira, julho 04, 2008
Rádio AVFM apaga 20 velas
A rádio AVFM, emissora local e concelhia de Ovar, completa hoje 20 anos de vida. A Cooperativa Rádio Antena Vareira (designação oficial) nasceu em Ovar oficialmente há duas décadas e para assinalar esta efeméride, organizou um programa de actividades que se inicia hoje às 19 horas com a celebração de uma missa solene na Igreja Matriz de Ovar, pelo Padre Manuel Pires Bastos.
Às 21.30 horas, o palco instala-se no auditório do Orfeão de Ovar onde está marcado encontro com diversos artistas vareiros de diversos quadrantes e estilos.
A abrir, canta a fadista Joana, de São João de Ovar, seguida do Grupo Cavaquinhos de Valdágua, de Válega. Os Marinhos, um dos conjuntos típicos ovarenses mais antigos ainda em actividade sobem ao palco logo depois. Os Marinheiros contam nas suas fileiras com Maria do Céu Rilho, ela que interpretou, durante muitos anos, um dos hinos de Ovar que abria e fechava as emissões dos 98.7.
Em terra de Carnaval, não podia esquecer-se os ritmos de samba, com o pagode pelo grupo vareiro "Só no Balanço" que vão encerrar, com chave de ouro, a festa do 20.º aniversário da AVFM.
A AVFM acompanha a população vareira, no seu dia-a-dia, procurando ir ao ao encontro dos seus interesses, em programas diversificados por onde passa regularmente a actualidade desportiva, cultura e política.
Por exemplo: Foi nos 98.7 que vivemos a conquista do tricampeonato nacional em basquetebol, vimos o cortejo do carnaval 2008 a passar e assistimos ao desfile das colectividades.
Na música, a AVFM oferece o melhor do Pop/rock mundial e dá o devido destaque à produção nacional, durante grande parte do dia.
A importância da emissora vareira é atestada pelo facto da AVFM ser parceira dos musicais de Filipe La Féria, estando a promover neste momento, «Um Violino no telhado». Em termos musicais, a AVFM apoia o festival Super-Bock Super-Rock, no Porto e em Lisboa.
Por tudo isto e muito mais que ficou por fizer: Parabéns AVFM!
(Oiça a emissão online da AVFM)
Programa:
Joana
Cavaquinhos de Valdágua
Marinheiros
Maria do Céu Rilho
Só Balanço
Auditório do Orfeão de Ovar
Hora: 21.30 h
A rádio AVFM, emissora local e concelhia de Ovar, completa hoje 20 anos de vida. A Cooperativa Rádio Antena Vareira (designação oficial) nasceu em Ovar oficialmente há duas décadas e para assinalar esta efeméride, organizou um programa de actividades que se inicia hoje às 19 horas com a celebração de uma missa solene na Igreja Matriz de Ovar, pelo Padre Manuel Pires Bastos.
Às 21.30 horas, o palco instala-se no auditório do Orfeão de Ovar onde está marcado encontro com diversos artistas vareiros de diversos quadrantes e estilos.
A abrir, canta a fadista Joana, de São João de Ovar, seguida do Grupo Cavaquinhos de Valdágua, de Válega. Os Marinhos, um dos conjuntos típicos ovarenses mais antigos ainda em actividade sobem ao palco logo depois. Os Marinheiros contam nas suas fileiras com Maria do Céu Rilho, ela que interpretou, durante muitos anos, um dos hinos de Ovar que abria e fechava as emissões dos 98.7.
Em terra de Carnaval, não podia esquecer-se os ritmos de samba, com o pagode pelo grupo vareiro "Só no Balanço" que vão encerrar, com chave de ouro, a festa do 20.º aniversário da AVFM.
A AVFM acompanha a população vareira, no seu dia-a-dia, procurando ir ao ao encontro dos seus interesses, em programas diversificados por onde passa regularmente a actualidade desportiva, cultura e política.
Por exemplo: Foi nos 98.7 que vivemos a conquista do tricampeonato nacional em basquetebol, vimos o cortejo do carnaval 2008 a passar e assistimos ao desfile das colectividades.
Na música, a AVFM oferece o melhor do Pop/rock mundial e dá o devido destaque à produção nacional, durante grande parte do dia.
A importância da emissora vareira é atestada pelo facto da AVFM ser parceira dos musicais de Filipe La Féria, estando a promover neste momento, «Um Violino no telhado». Em termos musicais, a AVFM apoia o festival Super-Bock Super-Rock, no Porto e em Lisboa.
Por tudo isto e muito mais que ficou por fizer: Parabéns AVFM!
(Oiça a emissão online da AVFM)
Programa:
Joana
Cavaquinhos de Valdágua
Marinheiros
Maria do Céu Rilho
Só Balanço
Auditório do Orfeão de Ovar
Hora: 21.30 h
Cobras e lagartos
Discografia Duran Duran - 13
'Union Of The Snake' (single), 1983
Em Outubro de 1983, sete meses depois de Is There Something I Should Know, e então já com um novo álbum de originais gravado e misturado, um novo single anunciava nova etapa na vida do grupo que, no último ano, ganhara estatuto de grande projecção global. O álbum, Seven and The Ragged Tiger, em grande parte gravado e misturado entre as Caraíbas e a Austrália, era revelado por um single que em tudo traduzia o tom de sofisticação formal, quase barroca, das novas canções, agora produzidas por Alex Sadkin. Sob matriz rítmica white funk, mas sem nunca perder a identidade pop, Union Of The Snake é uma canção de sentidos e significados nunca verdadeiramente explicados. Em vários momentos, entre entrevistas, surgiram sugestões sobre um eventual retrato de uma luta entre o bem o mal ou até uma ode à masturbação... Nada de conclusivo, contudo. Para a história do single, cuja mistura foi terminada a contra-relógio, com as datas de edição já à vista, fica também o seu lado B, um dos mais interessantes da carreira do grupo. Secret Oktober, curta sugestão de melancolia pop para voz e teclas, surgiu numa noite de trabalho, entre Simon le Bom e Nick Rhodes. Noite com uma característica particular: a que antecedia a entrega das fitas à editora... Union Of The Snake foi considerável sucesso, atingindo o número três no Reino Unido e EUA e chegando mesmo ao primeiro lugar em muitos outros países, como o Canadá.
O teledisco de Union Of The Snake, apesar de concebido por Russel Mulcahy (então ocupado com a preparação do filme Arena), acabou dirigido por Simon Milne. Rodado no deserto, na Austrália, juntando a banda a um estranho homem-lagarto e a algumas figuras secundárias, traduz sugestões da letra, sublinhando ainda o tom “sofisticado” da canção. O teledisco foi o primeiro da história a ser rodado em película de 35mm. E chegou à MTV uma semana antes de ser estreado nas rádios.
(in «Sound + Vision»)
'Union Of The Snake' (single), 1983
Em Outubro de 1983, sete meses depois de Is There Something I Should Know, e então já com um novo álbum de originais gravado e misturado, um novo single anunciava nova etapa na vida do grupo que, no último ano, ganhara estatuto de grande projecção global. O álbum, Seven and The Ragged Tiger, em grande parte gravado e misturado entre as Caraíbas e a Austrália, era revelado por um single que em tudo traduzia o tom de sofisticação formal, quase barroca, das novas canções, agora produzidas por Alex Sadkin. Sob matriz rítmica white funk, mas sem nunca perder a identidade pop, Union Of The Snake é uma canção de sentidos e significados nunca verdadeiramente explicados. Em vários momentos, entre entrevistas, surgiram sugestões sobre um eventual retrato de uma luta entre o bem o mal ou até uma ode à masturbação... Nada de conclusivo, contudo. Para a história do single, cuja mistura foi terminada a contra-relógio, com as datas de edição já à vista, fica também o seu lado B, um dos mais interessantes da carreira do grupo. Secret Oktober, curta sugestão de melancolia pop para voz e teclas, surgiu numa noite de trabalho, entre Simon le Bom e Nick Rhodes. Noite com uma característica particular: a que antecedia a entrega das fitas à editora... Union Of The Snake foi considerável sucesso, atingindo o número três no Reino Unido e EUA e chegando mesmo ao primeiro lugar em muitos outros países, como o Canadá.
O teledisco de Union Of The Snake, apesar de concebido por Russel Mulcahy (então ocupado com a preparação do filme Arena), acabou dirigido por Simon Milne. Rodado no deserto, na Austrália, juntando a banda a um estranho homem-lagarto e a algumas figuras secundárias, traduz sugestões da letra, sublinhando ainda o tom “sofisticado” da canção. O teledisco foi o primeiro da história a ser rodado em película de 35mm. E chegou à MTV uma semana antes de ser estreado nas rádios.
(in «Sound + Vision»)
quinta-feira, julho 03, 2008
“Enterraram o Senhor na Areia”…
TEXTO: Albano Alferes
A maior afronta que se pode arremessar à fronte de um bom e legítimo vareiro é acusar os seus antepassados de terem enterrado o Senhor na areia, como se ouve, para aí, a cada passo, nos domínios da troça ou mesmo do insulto, como se os antigos vareiros, num movimento neo-judaico, fossem capazes de cometer tão hediondo crime, o que iria, além do mais, brigar com os pergaminhos e as gloriosas tradições cristãs do Povo Vareiro.
Deve ter, no entanto, uma origem este ultraje à memória vareira, e assim, eu, apegado ao Padre Oliveira Pinto, insigne investigador, não tenho o menor receio em afirmar que a origem em questão se topa nas invasões francesas e se prende com as mesmas.
Senão vejamos: Napoleão Bonaparte, encontrando-se no Palácio de Milão, em 3 de Dezembro de 1807, em plena invasão francesa, decreta, dali, um imposto de guerra de cem milhões de francos sobre a Nação Portuguesa “para resgate da sua propriedade particular”; Junot sabendo que Portugal não tinha possibilidades de realizar essa importância astronómica, e muito solícito em assuntos de pilhagens publicou, logo, ou seja em 1 de Fevereiro de 1808, um decreto determinando a recolha, no prazo de 15 dias, na Casa da Moeda, interpostas as recebedorias das décimas “de todo o ouro e prata das igrejas, capelas e confrarias do país, exceptuando apenas “as peças necessárias à decência do culto”.
Nesta emergência, houve algumas pessoas e entidades que esconderam muitas alfaias de culto, enterrando-as.
Consta que, na vizinha freguesia de Souto, estiveram enterrados, durante as invasões, um cálice “ricamente trabalhado” pertença da Capela de Tarei, uma píxide de estilo rococó, e uma custódia de certo valor, pertencentes à Igreja Paroquial, e ainda hoje existentes.
Ora é da tradição que os-de-Ovar enterraram bastantes dessas alfaias, entre as quais algumas cruzes paroquiais com o Cristo Crucificado e daqui teria nascido o vexame imputado aos Vareiros de terem “enterrado o Senhor na areia”.
É curioso lembrar a extensão deste “desvio”; só da freguesia de Souto foram para não mais voltar: seis tocheiros, seis varas de pálio, um turíbulo com naveta, um lampadário, uma cruz paroquial, e uma vara de juiz, tudo em prata.
Com todas estas peças de prata e ouro recolhidas, Junot carregou dois barcos que lá foram pela barra fora…
É ainda curioso e triste lembrar que muitas pratas saídas das freguesias não chegaram às “recebedorias das décimas”, ficaram pelo caminho…
Alguns de cá estavam a trabalhar em sintonia com os de lá…
Modalidades da fraqueza humana.
(in «Artigos do João Semana»)
A maior afronta que se pode arremessar à fronte de um bom e legítimo vareiro é acusar os seus antepassados de terem enterrado o Senhor na areia, como se ouve, para aí, a cada passo, nos domínios da troça ou mesmo do insulto, como se os antigos vareiros, num movimento neo-judaico, fossem capazes de cometer tão hediondo crime, o que iria, além do mais, brigar com os pergaminhos e as gloriosas tradições cristãs do Povo Vareiro.
Deve ter, no entanto, uma origem este ultraje à memória vareira, e assim, eu, apegado ao Padre Oliveira Pinto, insigne investigador, não tenho o menor receio em afirmar que a origem em questão se topa nas invasões francesas e se prende com as mesmas.
Senão vejamos: Napoleão Bonaparte, encontrando-se no Palácio de Milão, em 3 de Dezembro de 1807, em plena invasão francesa, decreta, dali, um imposto de guerra de cem milhões de francos sobre a Nação Portuguesa “para resgate da sua propriedade particular”; Junot sabendo que Portugal não tinha possibilidades de realizar essa importância astronómica, e muito solícito em assuntos de pilhagens publicou, logo, ou seja em 1 de Fevereiro de 1808, um decreto determinando a recolha, no prazo de 15 dias, na Casa da Moeda, interpostas as recebedorias das décimas “de todo o ouro e prata das igrejas, capelas e confrarias do país, exceptuando apenas “as peças necessárias à decência do culto”.
Nesta emergência, houve algumas pessoas e entidades que esconderam muitas alfaias de culto, enterrando-as.
Consta que, na vizinha freguesia de Souto, estiveram enterrados, durante as invasões, um cálice “ricamente trabalhado” pertença da Capela de Tarei, uma píxide de estilo rococó, e uma custódia de certo valor, pertencentes à Igreja Paroquial, e ainda hoje existentes.
Ora é da tradição que os-de-Ovar enterraram bastantes dessas alfaias, entre as quais algumas cruzes paroquiais com o Cristo Crucificado e daqui teria nascido o vexame imputado aos Vareiros de terem “enterrado o Senhor na areia”.
É curioso lembrar a extensão deste “desvio”; só da freguesia de Souto foram para não mais voltar: seis tocheiros, seis varas de pálio, um turíbulo com naveta, um lampadário, uma cruz paroquial, e uma vara de juiz, tudo em prata.
Com todas estas peças de prata e ouro recolhidas, Junot carregou dois barcos que lá foram pela barra fora…
É ainda curioso e triste lembrar que muitas pratas saídas das freguesias não chegaram às “recebedorias das décimas”, ficaram pelo caminho…
Alguns de cá estavam a trabalhar em sintonia com os de lá…
Modalidades da fraqueza humana.
(in «Artigos do João Semana»)
quarta-feira, julho 02, 2008
Os blogs removíveis
«Um blog,- povoaonline.blogspot.com, (aqui, ainda em cache no Google) -alojado no Blogger, foi "removido", por decisão de um tribunal cível de Lisboa que para tal notificou a Google.
Os fundamentos da decisão, ironicamente, podem ser lidos num outro blog, -povoaoffline.blogspot.com - criado para substituir aquele.
O que esta decisão, algo insólita, de um tribunal cível português, permite comentar, além do mais, é o seguinte:
Em primeiro lugar, a inutilidade de uma medida deste género, cautelar ainda por cima e a que se seguirá obrigatoriamente, a acção cível (e não penal, como já li por aí no blog da causa), tendo em conta a facilidade de criação de blogs deste género, animados por quem quiser, numa liberdade quase absoluta de expressão.
Sendo discutível a validade intrínseca deste género de blogs (em Braga, há pouco mais de um ano, havia um, ainda mais ácido e com um objectivo de civismo um tanto ou quando duvidoso: dedicado à Câmara Municipal local e ao seu presidente de décadas de poder), também será inútil tentar travar por via judicial, a necessidade estrita de algumas pessoas, em escrever e anunciar os gritos de revolta pelo que vêem à sua volta e que aliás todos vêem, mas preferem fazer de conta que não vêem.
O direito à indignação, por vezes, surge em manifesto de blogs, assim organizados anonimamente . Alguns, chamam-lhes cobardes. Mas esquecem a coragem de quem ,sabendo de desmandos no governo da coisa pública, preferem calar a denunciar.
Por outro lado, merece ainda uma nota, o facto de este género de blogs, fazerem o papel dos antigos "pasquins", em modo de panfleto escrito ou até em modo oral, de voz disfarçada e que nas aldeias antigas, serviam para divulgar pela calada da noite, em modo anónimo, os escândalos que todos conheciam mas ninguém se atrevia a enunciar publicamente.
Atingindo indubitavelmente a consideração alheia, denotam também uma impunidade reinante. Não a que se prende com a responsabilização dos seus autores anónimos,mas de um modo mais subtil e evidente, a que se mostra a todos e que passa pela impossibilidade de os poderes públicos, moralizarem a vida política, pública, em certos lugares.
Os tribunais, cada vez mais, não servem para esse efeito. A prova simples e directa, reside na pequeníssima quantidade de corruptos julgados e condenados.
Por outro lado, a sociedade de outras instituições, mormente as políticas, tudo parecem fazer para escamotear e abafar as situações conhecidas, publicamente escandalosas e que deveriam fazer soar todas as campainhas de alarme público.
Na ausência de moralização, e perante a evidência de completa ausência de eficácia dos poderes públicos, alguns optam pela via dos blogs anónimos, para tentar equilibrar os pratos da justiça social.
Não os aplaudo em pé e publicamente. Mas também não serei eu quem lhes atira pedras.»
(«Grande Loja do Queijo Limiano»)
«Um blog,- povoaonline.blogspot.com, (aqui, ainda em cache no Google) -alojado no Blogger, foi "removido", por decisão de um tribunal cível de Lisboa que para tal notificou a Google.
Os fundamentos da decisão, ironicamente, podem ser lidos num outro blog, -povoaoffline.blogspot.com - criado para substituir aquele.
O que esta decisão, algo insólita, de um tribunal cível português, permite comentar, além do mais, é o seguinte:
Em primeiro lugar, a inutilidade de uma medida deste género, cautelar ainda por cima e a que se seguirá obrigatoriamente, a acção cível (e não penal, como já li por aí no blog da causa), tendo em conta a facilidade de criação de blogs deste género, animados por quem quiser, numa liberdade quase absoluta de expressão.
Sendo discutível a validade intrínseca deste género de blogs (em Braga, há pouco mais de um ano, havia um, ainda mais ácido e com um objectivo de civismo um tanto ou quando duvidoso: dedicado à Câmara Municipal local e ao seu presidente de décadas de poder), também será inútil tentar travar por via judicial, a necessidade estrita de algumas pessoas, em escrever e anunciar os gritos de revolta pelo que vêem à sua volta e que aliás todos vêem, mas preferem fazer de conta que não vêem.
O direito à indignação, por vezes, surge em manifesto de blogs, assim organizados anonimamente . Alguns, chamam-lhes cobardes. Mas esquecem a coragem de quem ,sabendo de desmandos no governo da coisa pública, preferem calar a denunciar.
Por outro lado, merece ainda uma nota, o facto de este género de blogs, fazerem o papel dos antigos "pasquins", em modo de panfleto escrito ou até em modo oral, de voz disfarçada e que nas aldeias antigas, serviam para divulgar pela calada da noite, em modo anónimo, os escândalos que todos conheciam mas ninguém se atrevia a enunciar publicamente.
Atingindo indubitavelmente a consideração alheia, denotam também uma impunidade reinante. Não a que se prende com a responsabilização dos seus autores anónimos,mas de um modo mais subtil e evidente, a que se mostra a todos e que passa pela impossibilidade de os poderes públicos, moralizarem a vida política, pública, em certos lugares.
Os tribunais, cada vez mais, não servem para esse efeito. A prova simples e directa, reside na pequeníssima quantidade de corruptos julgados e condenados.
Por outro lado, a sociedade de outras instituições, mormente as políticas, tudo parecem fazer para escamotear e abafar as situações conhecidas, publicamente escandalosas e que deveriam fazer soar todas as campainhas de alarme público.
Na ausência de moralização, e perante a evidência de completa ausência de eficácia dos poderes públicos, alguns optam pela via dos blogs anónimos, para tentar equilibrar os pratos da justiça social.
Não os aplaudo em pé e publicamente. Mas também não serei eu quem lhes atira pedras.»
(«Grande Loja do Queijo Limiano»)
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