sábado, dezembro 08, 2007

A Ria de Aveiro... ou de Ovar
como muitos ainda chamam


Mil anos passaram e tanto Ovar como Aveiro deixaram de tocar as fímbrias das ondas… Segundo Manuel Silva, docente da Universidade de Aveiro, “no tempo dos Romanos isto era uma espécie de enseada aberta”.
O tempo passou e nasceu a ria de Aveiro «que se estende por cerca de 48Km de comprimento, e uma largura máxima de 11Km, no sentido Este – Oeste.» Dos 11000ha que abraça, 6000ha estão permanentemente alagados e desdobra-se em quatro principais canais ramificados em esteiros «qq ue circundam um sem número de ilhas e ilhotes» como citou o Vereador da Câmara Municipal de Aveiro, Luís Capão Filipe.
Esta região, rica em tradições, possuindo um enorme património natural tem vindo a crescer devido ao investimento feito pela Câmara Municipal no nno que diz respeito ao turismo como destacou Luís Capão Filipe: «A Ria é sem dúvida, um grande factor de diferenciação que distingue a região doutros destinos nacionais e até internacionais. Não só a laguna enquanto elemento natural mas também todo o património cultural, natural, etnográfico, arquitectónico e geológico a ela ligado.»

História de Vida

As suas tradições são únicas no país e a forma como ela submerge e se deita sobre a cidade faz com que esta seja conhecida como a Veneza de Portugal.
Após ser questionado acerca das tradições da Ria Vereador da Câmara Municipal respondeu «desde sempre as populações ribeirinhas da região de Aveiro procuraram na Ria um meio de garantir a sua sobrevivência: a apanha do moliço, a pesca, a actividade salícola, a construção naval na própria Ria, são disso exemplo. Devido à sua especificidade e ao facto de serem características apenas desta região, tornaram-se tradicionais e típicas desta zona.» Uma das tradições mais relevantes era feita a bordos dos barcos moliceiros, «usando ancinhos de ferro que arrancavam o moliço desta laguna. Em seguida o moliço, conhecido pela maior parte dos portugueses por “lodo”, era estendido em eiras à magnífica luz do sol que banha esta região para secar e seguidamente ser vendido aos lavradores para regular a acidez dos solos e para fertilizar as terras arenosas de Aveiro.»
Para muitos dos moliceiros esta tradição começou a perder-se devido à força da corrente mexer com as areias fazendo com que não haja moliço. Esta força começou a aumentar com as obras do porto de abrigo, que arrastaram as algas da nossa Ria” como nos citou o Sr. M Mota, pescador da Ria de Aveiro.
De acordo com o Sr. José Augusto, os barcos moliceiros «neste momento servem apenas para as regatas que se realizam na região. Os custos para manter um barco destes são muito elevados. Questionado sobre possíveis apoios das autarquias responde-nos que: “ninguém apoia os moliceiros! Nós acabamos por desistir. Se eu quiser sair com o barco e levar uns amigos e a família para fazer um piquenique na Ria, eles não me deixam tirar o barco do porto. Só posso ir eu e o meu camarada, que somos matriculados.”
No entanto, o vereador da Câmara Municipal de Aveiro conta-nos uma história diferente. “Tem-se verificado um esforço, por parte da autarquia local, para procurar dar resposta a questões no âmbito da preservação e promoção da Ria de Aveiro, bem como, como do moliceiro e do moliceiro através de vários fundos doados a associações da região.”
O que se constata realmente é que a actividade está parada porque não existe moliço na ria e este foi substituído por químicos, dando assim razão a este último.

Meio de Sobrevivência

As espécies de peixes, moluscos e mariscos presente nas águas da laguna são de elevado valor comercial e por isso meio de sobrevivência da população ribeirinha deste município.
Estas espécies pescadas segundo os pescadores são: a lampreia, o choco, o linguado, o berbigão, o mexilhão, a enguia, a amêijoa e as enxovas.
O mundo da pesca nesta região, como narrou o Sr. Mota “já esteve bem melhor. Desde que vieram fundear a Ria e que em vez de retirarem a lama a deixaram ficar a ria ficou estragada”
Outra perspectiva apresentada é que este é o meio de sobrevivência “…de muita malta. Antes era mais a malta idosa que estava por aqui. Os mais jovens começaram no bacalhau, e chegavam aos 39, 40 anos e já não queriam andar no mar pelo que nos agarrávamos à Ria. Agora, que os navios do bacalhau e as fábricas estão a fechar, isto passou a ser o meio de sobrevivência de muita gente!” – explicou o Sr. José Augusto.
Para Luís Capão Filipe “A Ria, com todas as suas características, permitiu ao homem, desde cedo, tirar proveito do que esta lhe oferecia, não só para garantir a sua sobrevivência, mas também como forma de lazer e diversão.”

As Suas Pérolas

Existem vários ecossistemas de referência nesta região, entre eles, as Dunas de S. Jacinto e o Percurso Bioria, ou de Salreu.
Questionadas as duas partes só o Percurso de Salreu se prontificou a responder às questões propostas.
De acordo com o Professor Catedrático da Universidade de Aveiro, Manuel Marques “este percurso foi publicitado pela Câmara Municipal de Estarreja, que colocou, ao longo de todo o itinerário, painéis que explicam aspectos deste ecossistema. O que é hoje conhecido como o Percurso de Salreu, trata-se de um caminho rural e que dá uma volta de, aproximadamente, 8 km por uma área conhecida como o Baixo Vouga Lagunar. É um itinerário completamente plano que passa por zonas denominadas sapal e paul. A palavra sapal vem de sapo, espécie que proporciona uma harmoniosa melodia que nos envolve durante todo o percurso e que sofre influência directa das marés. Paul é toda a zona que está permanentemente submersa e que não sofre influência das marés. Muitas das vezes é abrigada por caniços que bailam ao vento”
Relativamente às espécies que habitam esta região temos as animais e vegetais predominantemente de zonas húmidas “ como por exemplo: o arroz, o salgueiro, o amieiro e as acácias. Relativamente às espécies animais existem a cegonha branca, os patos, marrequinhas , garças, gaivotas e depois há duas ou três espécies de aves de rapina como águia de asa redonda e principalmente a águia sapeira. Por fim, há as que se encontram em vias de extinção que é o caso do pimpão, o bigueirão, as enguias e ainda as espécies típicas da região como a vaca marinhoua e os cavalos” C
como disse Manuel Marques
Este termina dizendo: “A Ria é muito linda! Isto é acima de tudo uma região que nós nos habituamos a amar!”

O Suposto Final

Quando todos pensavam que ela não sobreviveria, após tantos ataques externos com produtos tóxicos, a Ria teve uma força inalcançável que a fez renascer das cinzas, com o auxílio dos seus fãs e sempre apoiantes.
“Alguns dos principais poluentes da região são os pesticidas usados na agricultura e as unidades industriais que lançavam aqui, de forma selvagem, os seus afluentes, desde aqueles mais exuberantes lançados pela fábrica de papel de Cacia, até aos mais escondidos, mas muito mais poluentes, como o caso do mercúrio lançado na Ria pelo complexo químico de Estarreja.” Citou o professor.
Nasceu, então, a SIMRIA (Saneamento Integrado dos Municípios da Ria) “com o objectivo de satisfazer as necessidades de recolha, tratamento e rejeição dos efluentes domésticos e industriais pertencentes ao Sistema Multimunicipal de Saneamento da Ria de Aveiro, promovendo a requalificação ambiental da sua zona de abrangência, nomeadamente, dos ecossistemas da Ria de Aveiro e Barrinha de Esmoriz, num quadro de sustentabilidade económica, financeira, técnica e social” como afirmou o engenheiro Jorge Cunha director da SIMRIA.
Este projecto dividiu-se em “… três fases distintas, de maneira a socorrer os 11 municípios que abrangem: Águeda, Albergaria-a-Velha, Aveiro, Espinho, Estarreja, Ílhavo, Mira, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar e Vagos” explica o engenheiro e “Assim, e em virtude da actividade da SIMRIA são, hoje, bem visíveis os benefícios ao nível da qualidade da água da Ria de Aveiro.”
No entanto “esta zona, como todos sabemos, possui cotas muito baixas e se se continuar a verificar a subida do nível das águas do mar, como resultado das alterações climáticas, é natural que daqui a alguns anos esse aumento venha a submergir uma parte da Ria de Aveiro ” como narrou o professor Manuel Marques. Sendo assim este pesadelo pode tornar-se realidade mas “…só daqui a muitos anos…” citou.

Joana Sousa in «O Poder do Jornalismo»

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