quarta-feira, outubro 22, 2025



Bandopipo — Da Aduela ao Brinde: quando a cultura também se prescreve
A Escola de Artes e Ofícios de Ovar acolhe, de 15 de outubro a 31 de dezembro de


2025, a exposição “Bandopipo: Da Aduela ao Brinde”.

É uma mostra fotográfica com instalação multissensorial que cruza a tanoaria e a música, com 20 imagens de Mário Lisboa, videoarte de Carla Varanda, a presença física do instrumento Bandopipo e a


audição da “Suite Bandopipo – Da Aduela ao Brinde”. Horários: segunda a sexta,


10h00–12h30 e 14h00–17h00.

Mais informação:


https://obesmoriz.wordpress.com/exposicao/

Exposição e saúde pública: factos e prática


Escrevo este artigo não apenas como cocurador do projeto, mas como médico de


família. Acredito na prescrição social e cultural como parte do cuidado em saúde:


orientar pessoas para atividades culturais — participar ativamente ou simplesmente


observar — melhora bem-estar e, em muitos casos, saúde mental. A evidência


acumulada é clara: maior energia e vitalidade, melhor autoestima, melhor relação com


os outros, aumento da motivação e do autocuidado, entre outros resultados


documentados. Estes ganhos não se restringem a quem “faz”; também quem ouve, vê


e frui beneficia, sobretudo quando a experiência é regular e integrada na vida


quotidiana.

No Alentejo Central, um projeto-piloto de prescrição cultural sistematizou um


percurso operacional: referenciação, prescrição pelo médico de família, abordagem


motivacional por um interlocutor local, encaminhamento para agentes culturais e


avaliação. O manual do projeto descreve critérios de elegibilidade (isolamento social,


ansiedade/depressão ligeiras a moderadas, desemprego, hiperfrequentação de


consultas, polimedicação, entre outros), sublinha o papel dos cuidados de saúde


primários e destaca que tanto atividades observacionais (visitar uma exposição,


assistir a um concerto) como de participação ativa (workshops, clubes, grupos


artísticos) têm impacto positivo quando regulares e adequadas ao perfil do


participante.

Porquê o Bandopipo como “prescrição cultural”?


Porque é concreto, local e acessível. A exposição liga indústria tradicional (tanoaria) e


criação musical contemporânea. Mostra o Bandopipo — instrumento híbrido


conceptualizado por mim e construído pelo luthier Agostinho Rodrigues — e


documenta como a música “estagia” com o vinho, materializando uma narrativa que é


património, arte e ciência de materiais. É um ponto de entrada claro para a fruição


cultural em Ovar: sem barreiras técnicas, com horários fixos e conteúdos que apelam


a diferentes idades. Orquestra de Bandolins de Esmoriz

Como transformar esta visita em cuidado


Objetivo: usar a exposição para (re)ligar-se às raízes de Esmoriz e Ovar, contactar


com a inovação, fruir música e vídeo, e desencadear sensações que promovem bem-


estar — sozinho ou em boa companhia.


1. Raízes do concelho: Pare diante das fotografias procure ligações pessoais: memórias de família,


ofícios, lugares. Faça perguntas simples: “O que daqui reconheço?” e “O que


quero voltar a ver melhor?”


2. Inovação que aproxima: Observe o Bandopipo como objeto novo nascido de saberes antigos. Note


materiais, forma e função. Depois, veja a videoarte: identifique um pormenor


técnico e um pormenor poético.


3. Música e vídeo que ativam o corpo e a memória: Escute a “Suite Bandopipo – Da Aduela ao Brinde” com atenção focal. Note sensações físicas (respiração, tensão/descontração), imagens mentais e


emoções despertadas.


4. Prescrição relacional: vá acompanhado.


Convide 1–2 pessoas amigas a visitar consigo. A presença de outros potencia


a experiência e combate o isolamento. No final, conversem sobre o que cada


um sentiu e o que gostaria de ver/ouvir a seguir.


5. Depois da rotina: continue a procurar cultura — em Ovar e fora.


Use a exposição como âncora e, a partir daí, construa um mapa pessoal de


cultura (lugares, horários, pessoas com quem ir). Replique o ciclo a cada 2–3


meses, variando formatos.

Convite!!!


Como médico de família e como cocriador do Bandopipo, convido todos —


profissionais de saúde, decisores locais e cidadãos — a uma imersão neste projeto


cultural. A cultura não substitui terapêuticas clínicas quando necessárias, mas


complementa e, muitas vezes, previne: reduz sintomas ansiosos e depressivos


ligeiros, combate o isolamento e melhora a qualidade de vida.

O Manual de


Prescrição Cultural do Alentejo Central (2022) descreve o processo e a evidência


que sustentam estas afirmações. Recomendo a sua leitura como referência


operacional para replicação responsável em Ovar.


Venham ver como o vinho estagia como música!


Como cultura é também saúde!

Eurico Silva


Médico de Família — defensor da prescrição social e cultural; cocriador do Bandopipo https://www.ovarnews.pt/bandopipo-da-aduela-ao-brinde-quando-a-cultura-tambem-se-prescreve/

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