terça-feira, dezembro 24, 2024

A disciplina de História e Geografia de Portugal (HGP), lecionada no 2.º ciclo do ensino


básico, ocupa um lugar central na construção da identidade cultural e cívica dos alunos.

Contudo, ensinar HGP apenas com base em factos cronológicos e mapas estáticos ignora


uma das suas maiores potencialidades: a valorização do património cultural como


ferramenta de sensibilização para a preservação da memória coletiva. O património —


material e imaterial — é um recurso educativo vivo que aproxima os alunos da sua história,


inspirando-os a compreender, valorizar e preservar o que os rodeia.

Quando falamos de património cultural, referimo-nos a monumentos, sítios históricos,


tradições, histórias orais e até práticas quotidianas que nos definem como sociedade. Estes


elementos não devem ser apenas referidos nos manuais escolares; devem ser explorados


como meios concretos de aprendizagem.

Por exemplo, visitar o Mosteiro da Batalha não é apenas conhecer um edifício. É


compreender a importância da Batalha de Aljubarrota, o contexto da independência


nacional e a riqueza do gótico. Mais do que memorizar datas ou nomes, os alunos


desenvolvem empatia histórica, conectando-se emocionalmente com a sua herança cultural.

A exploração do património cultural nas aulas de HGP tem um impacto direto na formação


dos cidadãos do futuro. Ensinar os alunos a valorizar o património é formar cidadãos


conscientes, preparados para respeitar e proteger os bens históricos e culturais.

Infelizmente, muitos jovens desconhecem a importância de monumentos ou tradições


locais, vendo-os como simples coisas sem relevância.

Quando os alunos percebem que o património cultural conta histórias — as suas, as das


suas famílias — ganham um novo olhar para a sua preservação. Por exemplo, aprender


sobre os azulejos portugueses pode transformar-se numa reflexão sobre a necessidade de


combater o vandalismo ou o abandono de edifícios históricos. Desta forma, o ensino de


HGP torna-se também um veículo para a educação para a cidadania.

Além dos grandes monumentos ou sítios históricos nacionais, é fundamental que os


professores de HGP explorem o património local e imaterial. Cada região possui um vasto


leque de tradições, lendas e memórias que podem ser trabalhadas nas aulas de forma


interativa.

Por exemplo, estudar as festas tradicionais ou as lendas locais ajuda os alunos a reconhecer


o valor das suas raízes e a criar laços com a sua comunidade. A realização de entrevistas


com os mais velhos ou a recriação de tradições locais em projetos escolares aproxima os


conteúdos da realidade dos alunos. Estas atividades humanizam o ensino, mostrando que a


História não está apenas nos livros, mas também nas pessoas e nos espaços que nos


rodeiam.

O professor tem um papel fundamental na mediação entre os alunos e o património,


devendo ser facilitador de experiências educativas, utilizando o património como recurso


pedagógico ativo.

As visitas de estudo a monumentos, museus ou sítios arqueológicos são uma das estratégias


mais eficazes para ensinar HGP. Contudo, estas atividades não devem ser vistas como


simples “passeios”. Devem ser planificadas com objetivos claros, integradas nos conteúdos


e acompanhadas de reflexões pós-visita.

Concluindo, o património cultural é uma ponte entre o passado, o presente e o futuro. No


ensino de HGP, ele não deve ser tratado como um conteúdo secundário, mas como um


instrumento pedagógico central para inspirar os alunos a valorizarem a memória coletiva e


a identidade cultural. Preservar o passado não é apenas uma questão de respeito pelos que


vieram antes, mas uma forma de preparar as gerações futuras para construir um mundo


mais consciente, informado e conectado com a sua herança.

Diogo Fernandes Sousa


Escritor do Livro “Rumo da Nação: Reflexões sobre a Portugalidade”


Professor do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte https://www.ovarnews.pt/patrimonio-cultural-no-ensino-de-hgp-por-diogo-sousa/

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