terça-feira, julho 04, 2023

Saudade… - Por Sérgio Lamarão Pereira
É com enorme gosto e muita satisfação que regresso ao jornal Ovarnews para escrever

quinzenalmente na rubrica O Mundo é a minha Terra.

Um regresso, várias vezes, adiado por múltiplos fatores e vicissitudes da própria

existência. Existimos, mas temos o dever de viver. Viver bem! Quando digo viver bem, digo

viver com dignidade!

Senti alguma saudade em publicar estas breves palavras, estas humildes frases que, e

não o digo por modéstia, não vão muito além de simples introspeções.

A saudade é comunicável. Pode ser transmitida através da linguagem. Só existe

linguagem porque existe pensamento. Só existe pensamento, porque existe linguagem.

Esta nostalgia dá-nos a consciência de algo ausente. Alguns indivíduos poderão ser

mais saudosos que outros, mas todos têm esse sentimento em comum; seja em relação a

pessoas ou objectos. Saudade…esse conceito intraduzível e tão português, tão lusitano.

Este sentimento também se manifesta através de inúmeras formas de arte. Manifesta-

se quando partimos em viagem, quando estamos em movimento. É deslocarmo-nos e

mantermos o pensamento focado em algo que não queremos deixar para trás. É partir, mas

sentir de imediato a necessidade de regressar. Estar longe e ter vontade de continuar; pois não

tendo a presença física de quem gostaríamos, temos essa presença sempre na consciência e

esse facto incentiva-nos a caminhar cada vez mais. Se ao regressarmos não encontramos o que

esperávamos teremos sempre a recordação dos momentos vividos.

Segundo Teixeira de Pascoaes… pelo desejo, a saudade converte-se em esperança e

pela dor converte-se em Lembrança; Esperança e Lembrança são assim duas características

básicas da alma portuguesa, tornando-se a Esperança sonhada ou desejada em forma feminina

de Vénus (ariana) e a Lembrança em forma feminina de Virgem dolorosa (semita).

Sinto saudade! Esta constância ou inconstância. Sentimentos que vão mudando. Foste,

és e serás, para sempre, a única flor no meu jardim. O resto, que direi? O resto são simples

ervas bravas e rudes que nascem e crescem ao acaso. Uma flor delicada e meiga. Muito bela e

perfumada. És a flor do meu jardim! Sim, sinto saudade!

Existiram dias em que não te reguei. Outros dias em que não te cuidei. Ao contrário de

ti, que foste meiga e cuidadosamente selecionada, fui semeado ao acaso. Uma planta rude,

agreste e bravia. Todavia, interiormente, muito frágil e delicada.

Os opostos atraem-se e ambos necessitam ser polonizados. Sinto saudade! Sinto muita

saudade…

Para ti “Mixinha”…

Sérgio Lamarão Pereira (Texto e Foto)
https://www.ovarnews.pt/?p=72798

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