segunda-feira, abril 20, 2009

Maceda: O AM1


«Durante a última semana, por razões familiares, estive muito perto do AM1 - Maceda/Ovar.
Perto é algures numa casa com varanda privilegiadapara a floresta onde a base está devidamente "embrulhada", numa linha recta que me separa da pista pouco mais que um par de quilómetros.
A povoação de Maceda, hoje uma vila com 2 ou 3 mil habitantes, vive um pouco alheada da base.
Nalguns cruzamentos da localidade, podem ler-se as placas indicadoras de "Base Aérea da NATO", quase todas, e algumas arriscam um inexpressivo "AM1".
Nesses dias, tive a oportunidade de percorrer as imediações da base, nomeadamente a antiga ligação por via férrea que existia e que não consegui aquilatar se chegou alguma vez a operar de facto.
Mas tudo isto me reporta, mais uma vez, para o imaginário fértil da guerra fria.
Terei passado por aquela zona, a primeira vez, algures em finais da década de oitenta, de comboio, rumo ao Porto. Sabia que entre a estação de Ovar e o apeadeiro de Maceda, à esquerda da linha tomado o sentido do Porto, existia a Base Aérea, uma infraestrutura pertencente à NATO, oponente do Pacto de Varsóvia.



O AM1 será a base aérea portuguesa "mais europeia," quero com isto dizer, mais britânica, mais cinzenta e enevoada, como eram os dias da guerra fria. Sabia que nela não havia bombardeiros em permanência, ou caças em riste de ataque, mas que por ali manobravam e operavam aeronaves da NATO, sempre que fosse necessário, situação que num provável conflito se consubstanciaria fortemente.
Há dias vi, então, o ramal desactivado, onde pacatamente um rebanho de cabras pastava à sombra dos postes da catenária, olhando de soslaio os comboios a 160 km/h na Linha do Norte, mesmo ali ao lado.
A base, essa, durante os dias em que por lá estive, permaneceu mergulhada num silêncio de mortos, apenas uma vez "animada" pela escala de um Tornado que aterrou 4ª Feira às 12:47h e descolou nesse mesmo dia, por volta das 15:40h, com o estrondo habitual.
Hoje, passada a guerra fria, a base mantém o seu cunho de sempre. Aeródromo de Manobra nº 1, entrecortado nos seus silêncios habituais pelos F-16 da FAP, o Alouette III de alerta e aviões militares em escalas várias».
(in «Pássaro de ferro»)

Sem comentários: