quarta-feira, julho 10, 2024

A Orquestra de Bandolins de Esmoriz desenvolveu um projeto único e conceptualmente original, materializado num instrumento denominado Bandopipo, isto é, um bandolim com corpo de pipo que permite tocar e ao mesmo tempo fazer o vinho estagiar.

Rui Salgado Carreira, vice-presidente do Grupo de Bandolins de Esmoriz, explica que, "complementarmente, foi desenvolvido um conceito de concerto musical Pipacústica que integra este instrumento solista".

O novo instrumento é um cordofone, instrumento cujo som é produzido pela vibração de uma ou mais cordas esticadas entre dois pontos fixos - viola, guitarra, violino, bandolim, entre muitos outros, criado a partir de um pipo e com capacidade de armazenamento de líquidos, para além da função de instrumento musical.

O concerto é adaptado ao vinho escolhido e apresenta uma suite musical originalmente composta que apresenta as diferentes etapas do vinho. “Suite Bandopipo” é um concerto inovador que transforma a degustação de vinho numa jornada sensorial inesquecível.

Este instrumento não apenas produz melodias cativantes, mas também contém vinho em seu interior. À medida que a música é tocada, as vibrações afetam o vinho, proporcionando um estágio musical que altera as suas características sensoriais.

"Pretende-se, assim, promover a arte de construção associada à tanoaria e à construção de instrumentos de madeira, o que permitirá uma maior coesão social e territorial relativamente a atividades artesanais que tendem a desaparecer", sublinha o dirigente esmorizense.

Através da música e, em particular, de uma suite musical originalmente composta para Bandopipo, quer-se também "enaltecer o património cultural, quer a nível local, regional e mesmo nacional, o que permitirá a formação de novos públicos, envolvendo a participação ativa das comunidades, numa ótica de promoção da qualidade de vida e da qualificação das populações".

Como nasceu?

Estaríamos por 2018 quando surge a ideia de juntar a arte da Tanoaria, típica em Esmoriz, à arte da música e dos instrumentos da Orquestra. "E porque não criar um cordofone a partir de um pipo?", questionou Eurico Silva, o o criador do conceito. Numa primeira fase parece uma brincadeira, mas "à medida que fazemos a ideia crescer não se vê outra forma mais bela de conservar e exaltar este património de trabalho e cultura".

Passados cinco anos, em 2023, finalmente deu-se início ao projeto juntando dois luthiers. "Mas antes", lembra Eurico Silva, "foi preciso a ideia do meu tio António Silva, que trabalhou toda a vida com a tanoaria, e me disse algo como: “o que queres só funciona com um pipo dividido e com maior tamanho. Só há uma pessoa que conheço que o consiga fazer.”

Essa pessoa é Manuel Magalhães Nunes, o primeiro luthier a construir um pipo adaptado que permite cumprir a premissa de poder armazenar líquidos e ao mesmo tempo poder ser um instrumento vibrante em todo o seu corpo. O segundo, um velho amigo músico, o Tico, que junta ser luthier, engenheiro e disponível para desafios, que já em 2018 disse alinhar nesta criação.

Passados 8 meses de amadurecimento e experiências o Bandopipo fez-se instrumento, um cordofone com afinação igual a uma bandola, com um timbre muito próprio, boa projeção de som por 2 orifícios no corpo do pipo, e que ainda consegue conter mais de dois litros de líquido no interior.

A chegada deste instrumento à Orquestra de Bandolins de Esmoriz tinha que merecer um espaço e um repertório próprio. "Três compositores ou três castas artísticas como o vinho, João Martins, Pedro Martins e Luís Sá, aceitam o desafio e escrevem uma peça para Bandopipo e orquestra composta por três momentos onde recriam com música o percurso do vinho, desde a construção do pipo, a vinha, a vindima, a produção, culminando com a alegria da partilha de um copo em amizade", descreve Eurico Silva.
https://www.ovarnews.pt/bandopipo-transforma-a-degustacao-de-vinho-numa-jornada-sensorial/

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