terça-feira, setembro 13, 2022
O conflito armado na Ucrânia está a provocar elevados impactos ambientais, além dos humanitários e económicos, o que poderá conduzir a um ecocídio, ou seja, à destruição do ambiente natural por ação humana deliberada ou negligente. O alerta é dos investigadores Ronaldo Sousa e Janine Silva, do Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Escola de Ciências da Universidade do Minho, num artigo agora publicado na conceituada revista científica “Frontiers in Ecology and the Environment”.
Conflitos armados desta dimensão causam efeitos negativos na biodiversidade e nos ecossistemas. Na Ucrânia, os principais problemas são a possível contaminação dos habitats terrestres e aquáticos por derrames de petróleo e metais pesados, entre outros, fruto da destruição de zonas de armazenamento de combustíveis, infraestruturas de transporte e complexos industriais e urbanos, explica Ronaldo Sousa.
Por outro lado, várias espécies de peixes e mamíferos como o icónico bisonte europeu, com amplas distribuições geográficas e que estão ameaçados, podem ser fortemente prejudicados pela fragmentação do habitat e perda de concetividade causados pelo conflito, realça.
Outro problema prende-se com a deslocação de pessoas e o movimento de soldados e equipamentos militares, que podem ser responsáveis pela introdução de espécies não nativas. Segundo Ronaldo Sousa, os efeitos de longo prazo podem incluir igualmente o declínio nas populações de animais selvagens, através do aumento da caça ilegal, pesca e exploração de recursos naturais, a fragmentação de habitats devido à construção de muros ao longo das fronteiras, a presença de minas terrestres e a desflorestação.
A grande dificuldade na exportação de cereais, dos quais a Ucrânia é um grande produtor mundial, poderá ter impactos em países mais pobres e até distantes, levando a uma maior exploração de recursos noutros locais, vinca o também professor do Departamento de Biologia da UMinho.
UNESCO sem sistema de apoio à biodiversidade perante a guerra
A juntar a isto, foram tomadas muitas ações a nível político, financeiro e comercial para encerrar projetos de colaboração com organizações russas, interrompendo projetos científicos e com consequências diretas na conservação da biodiversidade ucraniana e russa. Finalmente, a Ucrânia opera 15 reatores nucleares e a Rússia possui um vasto arsenal, havendo por isso o risco de um desastre nuclear.
Com uma guerra “sem fim à vista”, os dois investigadores do CBMA consideram “importante chamar à atenção das pessoas sobre os danos irreversíveis aos ecossistemas, não esquecendo os humanitários”. A UNESCO tem implementado um sistema de ajuda para o património arquitetónico, quando este é destruído em contexto de conflito, mas o mesmo não acontece com a conservação da biodiversidade, concluem.
Universidade do Minho
https://www.ovarnews.pt/?p=65472
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