domingo, janeiro 08, 2006

Trupes de Reis invadem cafés
com cantares populares



Pouco passaria das 20 horas de anteontem quando as ruas do centro histórico de Ovar começaram a viver um movimento fora do habitual. Protegidos do frio com casacos quentes e cachecóis, grupos de homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos calcorrearam os estreitos passeios em calçada portuguesa espreitando as janelas de cada café ou restaurante por que passavam. Se o espaço já estivesse ocupado por outro grupo, seguiam caminho em busca de um outro que os recebesse com o seu calor e a sua atenção. Há mais de 100 anos que é assim.
Na 12ª noite, Ovar vê as tradicionais Trupes de Reis saírem à rua para espalhar os seus cantares. Não são simples grupos de "Cantar as Janeiras" munidos das músicas do costume cantadas ao som de bombos e ferrinhos. No Café Ideal, no Paradise, no Ovarense ou na Toca, os violinos, as guitarras, os violões e esporádicas flautas e até clarinetes acompanham vozes transbordantes de alma portuguesa que entoam versos e notas sempre novos.
Cantam homenagens à terra, cantam o espírito de Natal e terminam em estilo galhofeiro, não fosse Ovar terra d e foliões.
Pode pensar-se que se trata de um ou outro grupo de homens e mulheres a lutar pela sobrevivência de uma centenária tradição. Puro engano. São mais de mil pessoas, incluindo dezenas de crianças e outros tantos jovens, que afirmam com todo o orgulho que o "Cantar os Reis" em Ovar está vivo e com mais força do que nunca.
"O boom das trupes de Reis deu-se há cerca de duas décadas e, a cada ano que passa, surgem novos elementos. Não é à toa que cada trupe tem cerca de 45 a 50 elementos cada", explicou João Costa, fundador da tradicional Trupe de Reis JOC/LOC.
"Há até quem procure fazer canções de intervenção, mas, o teor da mensagem, esse, não mudou. O objectivo das trupes continua a ser levar a cada instituição, a cada família, uma mensagem de paz, de amor e de fraternidade", concluiu o pároco Manuel Bastos, violinista e responsável pela direcção musical da JOC/LOC.

Número
17

trupesforam quantas subiram, anteontem à noite, ao palco do salão nobre dos Bombeiros Voluntários de Ovar no Encontro Anual de Trupes de Ovar. Ao todo, terão sido mais de mil as pessoas envolvidas.

História com mais de 100 anos

Tudo começou há mais de 100 anos quando o poeta António Dias Simões, João Cerqueira e alguns companheiros de tuna resolveram pregar uma partida aos amigos. Com as suas letras originais e instrumentos nobres, o grupo de amigos criou a primeira trupe de Reis de Ovar indo cantar e tocar às casas das famílias mais tradicionais de Ovar. Desde então, muitas foram as trupes que nasceram e morreram. As regras, essas, foram-se delineando cada trupe tem, pelo menos, três solistas, e interpretam sempre três canções ("Apresentação", "Mensagem" e "Agradecimento"), todos os anos originais.
Ao longo dos tempos, muitos foram os nomes dos compositores e letristas que se destacaram e destacam. Zé da Vesga (JOC/LOC) e Helena Edviges são dos mais admirados, enquanto a jovem Lúcia Almeida (Trupe da Música Nova), de apenas 18 anos, é uma das revelações.(«JN»)

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