O debate de ontem
Morno, muito morno
Os seis candidatos à Câmara Municipal de Ovar perderam ontem uma oportunidade dourada para entrarem no coração do eleitorado num debate que foi morno, depois morno e, por fim, frio.
Nenhum dos contendores em presença escondeu, durante a semana - excepto um, naturalmente -, alguma apreensão com a alegada conotação política do semanário que já foi(?) propriedade do candidato social-democrata e do facto da moderadora principal do debate e directora do jornal, ser esposa do candidato «laranja» à Junta de Freguesia de São João de Ovar.
Os receios acabaram por se revelar infundados, desde logo porque o modelo adoptado sequestrou qualquer tentativa de discussão ou debate de ideias ao ter predeterminado a ordem das intervenções e a entrada em cena dos temas. Sofia Stoffel limitou-se a introduzir as áreas programáticas e a ordem das intervenções, com tempo cronometrado.
Sem querer retirar o mérito da iniciativa, a coisa ficou amorfa, o que acabou por beneficiar o partido que se encontra instalado no poder. Assim, Manuel de Oliveira (PS) praticamente não teve de se esforçar para rebater os pseudo-ataques da oposição.
Álvaro Santos (PSD) foi uma semi-desilusão. Esperava-se mais de um dos dois candidatos que tem possibilidades de se sentar na cadeira presidencial dos Paços do Concelho. O estilo que adoptou teve todo o aspecto de ter sido estratégia programada no sentido de se mostrar confiante, mas resvalou e pareceu demasiado automático, sem emoção. O tom monocórdico com que pautou as suas intervenções não ajudou a fazer passar a mensagem. Ficaremos sempre na dúvida de como seria um debate entre Oliveira e Santos.
José Lopes (BE) transfigurou-se e esteve alguns furos acima do que seria de esperar, o mesmo sucedendo com Fátima Ramalho, dos Independentes Pelo Concelho (IPC). O BE deverá obter um resultado eleitoral à boleia da onda de entusiasmo nacional em torno de Louçã, mas Fátima Ramalho revelou-se uma surpresa ao agarrar a oportunidade com unhas e dentes, com discurso virado para as freguesias, quando os restantes se centravam na Ovar cidade.
Miguel Viegas foi discreto e em, termos de marketing, aquele sotaque francês também não ajuda, assim como Fernando Camelo Almeida que mostrou bairrismo de vareiro, e já cantará vitória se conseguir manter os eleitos de há quatro anos.
Em suma, exceptuando um pico ou outro de emoção, que em linguagem televisiva seriam os momentos de maior audiência, os candidatos limitaram-se a verter as propostas já apresentadas nos respectivos programas eleitorais, sem novidades e sem chama.
A Rádio «Antena Vareira» transmitiu, mas isso não explica a reduzida afluência de público ao Palácio da Justiça registada ontem à noite. Se não fossem as claques dos vários candidatos, posicionadas na plateia, sempre prontas a aplaudir para que o seu «mais que tudo» ficasse bem na fotografia radiofónica, é quase certo que mais cadeiras brancas estariam vazias. Público anónimo, simplesmente à procura de ser elucidado, foi pouco. Verificou-se, mais uma vez, que o público confia cada vez menos nos políticos e não sai de casa para os ver ou ouvir. Dá para reflectir...
Perante o cenário, a animação ficou a cargo de algumas «bocas» de espectadores que não resistiram a deitar cá para fora o que lhes ia na alma, e que alguns se apressaram a chamar de «bêbedos». No final, é natural que os candidatos se tenham cumprimentado todos, mas não devem ter ido juntos «beber um copo».
1 comentário:
gostei do sr. álvaro, ter tratado o pessoal que lá estava por meninos...
..."pois eu digo-vos meus meninos..."
que postura.....
Enviar um comentário