Comunidades vareiras
Maria da Cruz é "mãe dos portugueses"
na Córsega há quase 50 anos
A abertura do escritório consular em Ajaccio vem aliviar Maria da Cruz, conhecida como a "mãe dos portugueses" na Córsega, onde há quase 50 anos resolve os problemas dos emigrantes na ilha francesa.
"Só fiz a escola primária, mas chegou para prestar muitos serviços à minha pátria", afirma esta portuguesa de 71 anos, natural de Ovar, que se instalou há 48 anos na Córsega.
O seu papel foi ontem elogiado pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, que lhe reconhece o título de "primeira cônsul de Portugal na Córsega" pelo trabalho que desempenhou.
Desde muito cedo, Maria da Cruz foi o primeiro recurso dos emigrantes portugueses que tinham problemas com patrões que não queriam pagar salários ou funcionários públicos que dificultavam os processos nas instituições francesas.
A fama chegou longe e ainda hoje chegam portugueses do continente que procuram o "Bar da Maria", o café onde continua a trabalhar três horas por dia para se manter activa.
A espontaneidade e simpatia valeram-lhe amigos importantes, como o presidente da Câmara Municipal de Bastia, o deputado Emile Zuccarelli, em cujo escritório entra com a mesma facilidade com que se move em casa.
"Faço tudo pelo meu país e pelos portugueses", confessa, não escondendo o desgosto que causou a escolha de Ajaccio para instalar a representação diplomática, em vez de Bastia, "depois de tudo o que eu fiz".
"Ficou doente", asseguram os seus amigos próximos, que lhe dão todo o valor, reconhecido também pelo Estado português, que lhe atribuiu a Ordem Infante D.Henrique.
"Ninguém tem nada de mal a dizer sobre ela, só fez coisas boas", garante Carlos Campos, emigrante na Córsega há 32 anos.
De fiadora na compra de casa a madrinha de casamento, Maria da Cruz gastou muitas vezes do seu bolso para ajudar compatriotas em dificuldades e sem meios para pedir ajuda ao consulado mais próximo, em Marselha, recorda.
Adepta ferrenha do Sporting, Maria da Cruz instalou-se na Córsega depois de uma digressão europeia como bailarina clássica, ao apaixonar-se por um jornalista corso com quem ainda vive e pai do seu filho.
No próximo ano pretende ir com a neta a Portugal, onde não vai desde a morte dos pais, há 24 anos, para "aproveitar enquanto ainda posso andar", queixando-se das mazelas numa perna deixadas por um acidente de viação.
Embora reconheça muitas semelhanças linguísticas, gastronómicas e culturais entre a pátria portuguesa e a sua terra de adopção, a Córsega, Maria da Cruz mantém uma diferença essencial - "dos corsos sou tia, dos portugueses sou mãe", exclama.
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