O desabafo de um jornalista, dia 30 de Julho de 2005, 08 horas
Até amanhã camaradas
Este é, porventura, um dos emails que mais que custa enviar, por ser,
talvez o último dirigido aos meus camaradas do jornal, em que eu, muito pequeno
comecei a ler as notícias do norte do país, ainda no longínquo 1974. Estávamos
nos meses que se seguiram à revolução de Abril.
Na memória fica-me o Café Império no centro da cidade de S. João da
Madeira, onde o meu pai me levava, para comprar o jornal no quiosque da Glória.
Hoje nada disto existe, nem o Império (agora uma grande e inestético
arranha céus, denominado Parque América), nem a D. Glória, nem o Sr. Zé dos
Jornais (Sogros do treinador de futebol António Sousa, entretanto falecidos)...
nem O COMÉRCIO do Porto, enterrado vivo por uns espanhóis, cruéis e
impiedosos, face aos duros e frios números contabilísticos.
O Projecto era viável, acreditem, porque havia quem desse o litro, mas
não terá tido o mesmo empenho da administração, senão refira-se, apenas, como
exemplo a distribuição que passou a ser feita, com prejuízo dos leitores.
Quase todos os dias eramos citados pelas televisões e rádios nacionais.
Os outros jornais muitas vezes pegavam nas nossas muitas caixas.
Este era o grande potencial deste jornal onde Camilo Castelo Branco
escreveu, bastava ter a arte e o engenho para o aproveitar.
Havia, e há interessados neste projecto, que garantem ser viável. então
porquê enterrá-lo vivo?
Mas, a minha caneta, vermelha (quem me acompanha sabe que é a vermelho
que escrevo), não vai cair, garanto, porque aos 38 anos, ainda me sinto com
força para ser incómodo, pelo menos durante mais 42 anos.
As mensagens de apoio e solidariedade que recebi, foram tantas que nem
sei quantas. Por isso, esta maquiavélica “morte” deixa-me algo de muito
bom: SEI QUE TENHO MUITOS AMIGOS, quer sejam camaradas de profissão, quer sejam
políticos, quer sejam dirigentes sindicais, quer sejam trabalhadores,
quer sejam patronato, quer sejam pessoas anónimas que seguiram, até hoje,
nas páginas do COMÉRCIO a minha caneta vermelha, e a dos meus camaradas, a
quem eu obviamente reconheço a paciência que tiveram para aturar o meu (às
vezes mau) feitio, desde o dia 4 de Outubro de 2003.
Ao meu fotógrafo, meu grande amigo Manuel Azevedo,só posso brincar, e
dizer-lhe que infelizmente quando o telemóvel dele tocar, não ouvirá dizer: Onde
estás? Temos que ir aqui, ou acolá.
Ao Luís Ventura, jornalista que teve pouco tempo para trabalhar comigo,
só tenho uma palavra: Obrigado, por seres meu amigo, e seres um bom
profissional.
Só me apraz dizer: Até Amanhã Camaradas
O Vosso Amigo (Acreditem)
Francisco Manuel
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