sexta-feira, outubro 27, 2023
Um estudo internacional com participação de investigadores da Universidade de Aveiro incidiu em cancros que são transmissíveis no berbigão via células cancerígenas vivas, através da água do mar. Não podem ser transmitidos aos seres humanos, apenas a berbigões que estejam suscetíveis a estas células cancerígenas. O estudo resultou na sequenciação dos genomas destes cancros, pela primeira vez, revelando níveis de instabilidade genómica nunca antes observados para outros cancros.
Os cancros transmissíveis do berbigão (Cerastoderma edule) - cancros marinhos cujas células viajam através da água para infetar outros indivíduos - foram sequenciados pela primeira vez a nível mundial, tendo assim permitido compreender melhor como estes cancros se propagaram entre as populações animais, durante centenas, possivelmente, milhares de anos. A obtenção de uma sequência de referência do genoma desta espécie foi, portanto, um passo essencial para investigar a evolução do cancro contagioso do berbigão.
Verificou-se que estes tumores de berbigão eram altamente instáveis do ponto de vista genético. Em particular, percebeu-se que as células cancerosas de um mesmo tumor continham números de cromossomas muito diferentes. Até à data, foram identificados oito tipos diferentes de cancros transmissíveis em todo o mundo em diferentes bivalves, tais como amêijoas, berbigões e mexilhões.
O estudo, centrado no berbigão, uma espécie muito frequente na costa portuguesa e de elevado valor económico, foi publicado a 2 de outubro de 2023, na revista Nature Cancer, em simultâneo com um outro estudo realizado por investigadores do Pacific Northwest Research Institute, nos EUA, que examinaram um cancro transmissível semelhante que afeta a amêijoa invasora Mya arenaria, também encontrada em águas portuguesas.
Este estudo, liderado pela Universidade de Santiago de Compostela, em Espanha, contou com a participação de investigadores do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), com sede na Universidade de Aveiro, que desenvolvem a sua investigação no Centro de Extensão e de Pesquisa em Aquacultura e Mar (CEPAM) a funcionar no ECOMARE, na Gafanha da Nazaré. A investigação foi parcialmente financiada pelo Conselho Europeu de Investigação.
Os autores recolheram cerca de 7 mil berbigões em 36 locais de 11 países, incluindo Portugal (Ria de Aveiro e Ria Formosa), Espanha, Reino Unido, Irlanda e Marrocos. A partir destas recolhas, a equipa sequenciou geneticamente 61 tumores de berbigão e conseguiu demonstrar a existência de dois tipos diferentes de cancros transmissíveis, cujas células são visualmente distintas quando observadas ao microscópio. Os investigadores identificaram, também, vários berbigões que, inesperadamente, tinham sido co-infetados por células de ambos os cancros, ao mesmo tempo.
https://www.ovarnews.pt/ua-estuda-cancros-transmissiveis-do-berbigao/
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