A floresta portuguesa, outrora diversa e rica em espécies autóctones, tem vindo a ser progressivamente substituída por extensas plantações de eucalipto, uma árvore exótica de rápido crescimento, mas também de alto risco quando falamos de incêndios.
Esta aposta contínua na monocultura do eucalipto, impulsionada por interesses económicos ligados ao setor das celuloses, tem-se revelado desastrosa para o equilíbrio do território e a segurança das populações.
Portugal, em particular a sua região Centro, tem sido ciclicamente devastado por incêndios florestais de proporções alarmantes. O problema, como muitos especialistas têm vindo a alertar, não reside apenas nas condições climatéricas, como ondas de calor e ventos fortes, mas também numa gestão florestal que privilegia o lucro imediato em detrimento da sustentabilidade a longo prazo.
O eucalipto, apesar de ser altamente rentável para a indústria de papel e celulose, não oferece a mesma resiliência que as espécies autóctones, como o sobreiro, o carvalho ou o pinheiro-manso. Estas árvores, além de terem um impacto mais positivo na biodiversidade e no ecossistema, são naturalmente mais resistentes ao fogo.
No entanto, é precisamente essa resistência ao fogo e a promoção de uma floresta mais diversa que parece ser continuamente ignorada. Os interesses económicos que estão por detrás da venda da madeira de eucalipto prevalecem, levando à perpetuação de uma monocultura que, em vez de mitigar os riscos, acaba por ampliá-los.
Não podemos desconsiderar que o mercado de eucalipto movimenta milhares de pequenos e grandes produtores, mas o que está em causa não é apenas o lucro imediato de uns poucos, é a segurança e proteção de todos.
As monoculturas de eucalipto, pela sua densidade e pelo comportamento desta espécie, funcionam como autênticas bombas-relógio. Quando o calor aperta e o vento sopra, estas florestas tornam-se numa catástrofe à espera de acontecer. Ao contrário das espécies autóctones, que conseguem retardar a propagação das chamas, os eucaliptos libertam óleos altamente inflamáveis que aceleram o fogo e tornam o seu controlo muito mais difícil. Além disso, as grandes manchas contínuas de eucalipto contribuem para a degradação do solo, comprometendo o futuro do território.
Face a isto, a questão que se impõe é até quando continuará a ser permitida esta aposta cega no eucaliptal? Até quando os interesses económicos se sobrepõem ao bem-estar das populações e à preservação do nosso território?
A falta de vontade política para mudar este paradigma é evidente, como demonstram várias propostas de reordenamento florestal que são engavetadas ou ignoradas. A implementação de medidas para reduzir a área de eucalipto e promover o regresso de espécies autóctones tem sido travada por lobbies poderosos que continuam a influenciar a política florestal.
A aposta no eucalipto, em detrimento de espécies mais adequadas ao nosso clima e ecossistema, não pode continuar a ser vista como uma solução viável. Os incêndios florestais que têm assolado Portugal nas últimas décadas são prova disso mesmo. A mudança é urgente, e passa por uma gestão florestal que priorize a diversidade, a segurança e o futuro sustentável e resiliente das nossas florestas.
Enquanto o interesse económico imediato continuar a sobrepor-se a estes valores, Portugal continuará a ser vítima das suas próprias escolhas. Não podemos continuar a arder violentamente todos os verões por causa de uma árvore que, apesar de rentável, tem um custo incalculável para o país. (Foto: Paulo Novais)
Diogo Fernandes Sousa
Docente do Instituto Politécnico Jean Piaget do Norte
https://www.ovarnews.pt/monocultura-de-eucaliptos-incendios-e-interesses-economicos-por-diogo-sousa/
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