Mulher vareira
– Beleza que vem de longe
TEXTO: A. P. Nunes
Quando se fala em Vareiros, geralmente são esquecidas as Vareiras. Há, no entanto, quem fale nelas e em termos que, de certo, as envaidece. Mais que isso: todos concordam com as suas graças, cuja origem alguns discutem: fenícia, grega?
Ora bem. Isto é difícil de definir, porque passou por aqui uma data de povos.
Em História (e histórias) vai-se, muitas vezes por aí fora, de marcha atrás, até ao pai Adão. (Neste caso seria até à mãe Eva). Não iremos tanto. Vamos, porém, recuar uns milhares de anos, ver quem andou por cá, e tentar localizar num desses povos a graça vareira. Será possível? Não é fácil!
Não sei se ainda hoje se ensina na Escola quais foram os 1.os povos que habitaram estes sítios. A gente tinha isso de cor: vândalos, suevos e alanos; fenícios, gregos e cartagineses; celtas, celtiberos, lusitanos, romanos, etc.
Todos nós sabemos que não somos uma raça, mas sim uma data delas em mistura. Pelo sangue que nos anda cá dentro – se pudéssemos analisá-lo (não sei o processo) e chamar nomes aos seus milhões de glóbulos – poderíamos chamar a uns fenícios, a outros gregos, etc., etc.
Por Ovar também passou de tudo. Vamos, por exemplo, ver os fenícios. Há cerca de 3000 anos vieram por aí fora, dos lados do Oriente (Líbano), à procura do ferro, do cobre e da prata da Andaluzia. Eram marinheiros, pescadores e mercadores. De certo também traziam para cá tecidos de púrpura, que era a sua especialidade. E que mais? Trouxeram ainda o alfabeto e ensinaram-nos as 1.as letras. – Sim, porque foram eles que inventaram o alfabeto! E, finalmente, nas suas andanças por cá, terão influenciado o tipo de construção dos nossos barcos.
E os grupos? Dizem alguns que o tipo de beleza da mulher vareira será indício da colonização grega. Dizem outros que não há certeza, pois os grupos não deixaram cá grandes vestígios. Supõe-se, no entanto, que no séc. VI A. C. (há 26000 anos) já eles andavam por cá. Mas não andaram muito tempo.
Será, então, que as parecenças gregas das nossas vareiras serão só coincidência?
Raul Brandão diz que a mulher vareira é bonita por causa da luz da ria, produto de beleza feito apenas de água azul trespassada de sol…
Mais diz ele que as vareiras são altas, bem proporcionadas, delicadas, fortes e cheias de predicados domésticos e morais. Mais ainda (que o não saibam as murtoseiras!...): que as vareiras não se confundem com as mulheres da Murtosa, que são baixas e atarracadas (e usam óculos – digo eu) …
O professor Patrício escreveu que dos povos que por cá passaram nada mais existe hoje que a beleza tradicional da mulher vareira, de tipo fenício – grego, e a elegância dos nossos moliceiros, de estilo fenício.
Dias Simões, por sua vez, a respeito das suas conterrâneas, faz rimar com «busto romano» «uns olhos de fazer perder um franciscano…»
Então, em que ficamos? Continue a discutir quem souber. É difícil. E o melhor será continuarmos na tal mistura de raças, e dizer das vareiras com Belmiro Adelino:
Rostos fenícios
Tez muçulmana
Olhos egípcios
Graça romana.
(do «Artigos do João Semana», uma excelente ideia do Fernando Pinto)
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