O Blog «Ria de Aveirohc» apresenta a história da Ria de Aveiro que, por ter Ovar como personagem principal até determinado ponto, não podíamos deixar de aqui reproduzir. Com a devida vénia, claro.
Parte 1
Apesar da nossa aparente falta de activide no blog isso não significa que o trabalho foi esquecido. Muito pelo contrário, nestas últimas semanas passámos diversas horas na biblioteca municipal cobertos de livros para apresentarmos a segunda fase do nosso trabalho.
Desta forma revelamos assim a história da Ria que, apesar de completa mas sintetizada, resume as principais fases da sua evolução e das causas e consequências por trás delas.
Assim comecemos:
A Terra é um planeta dinâmico, o que significa que sofre alterações, apesar de lentas e graduais, que vão alterando os seus contornos.
Um dos grandes exemplos desse dinamismo encontra-se no distrito de Aveiro, mais especificamente a estrutura denominada por Ria de Aveiro.
Hoje em dia vemos Aveiro como uma Veneza Portuguesa, uma cidade repleta de canais que se espalham por grande parte da zona mais litoral do distrito, desde Ovar até Mira.
Mas nem sempre foi assim, milhares de anos antes a zona onde a Ria se encontra era uma zona plana que, devido à subida do nível médio da água do mar, foi sendo invadida pelo oceano Atlântico.
Com o passar do tempo a água acaba por alagar a maior parte dessa zona, tornando-a numa zona navegável que, devido à reentrância natural da zona costeira, acaba por formar uma espécie de baía.
A água continua a subir fazendo com que esta zona se torne facilmente navegável levando à criação de portos marítimos que prosperaram muito na altura.
Infelizmente esta subida não tornou somente esta zona mais facilmente navegável.
É de notar que alguns cursos fluviais desaguavam relativamente perto e, a subida do nível da água do mar faz com que estes cursos percam mais cedo a sua “força”, perdendo assim a sua capacidade de transporte de detritos.
Isto aliado às fortes correntes atlânticas que, como têm uma orientação de norte para sul, arrastam mais detritos para este local, tornando esta baía uma zona privilegiada para a deposição de sedimentos de forma orientada.
Apesar de não se ter notado na altura, no início do século X o fundo oceânico da região já tinha sofrido fortes alterações. A deposição de sedimentos do rio Vouga no leito desta baía começa a provocar alterações com grande impacto no futuro e, uma língua de areia, ainda que subaquática, começa a formar-se a norte Ovar.
Parte 2
As correntes marítimas começam a dar forma a esta língua e, a meados do século X já se torna visível, servindo de paredão à zona costeira de Ovar.
Este facto não só é observável a nível morfológico da região como tem impacto a nível económico. Por esta altura Ovar era dos mais importantes portos comerciais, a língua de areia providenciava uma “mini-marina” estupenda, o que fez com que a sua importância aumentasse.
Por outro lado a água estava agora mais estagnada fazendo com que um dos produtos mais facilmente criados fosse o sal. Para corroborar este facto relatórios de cariz económico da região indicam que Ovar por esta altura vivia uma época áurea, com as suas diversas salinas e o excelente porto.
A língua de areia parece só ter trazido benefícios para a região mas sem o conhecimento de todos os factos é uma falsa conclusão que se podia tirar.
O dinamismo desta zona não pára e o fundo oceânico continua a mudar drasticamente, a deposição de sedimentos do Vouga torna-se maior pois a existência de entraves ao escoamento dos detritos torna mais difícil a sua eliminação. Por sua vez a corrente marítima cria um fluxo de detritos que origina uma deposição orientada, aumentando a língua de areia que se dirige para sul.
Há medida que este cordão aumenta e surge à superfície os detritos são cada vez mais difíceis de eliminar. Grande parte deles já nem sequer é expelido até à zona do cordão e começa a formar ilhas, criando diversos canais ainda hoje observáveis.
Ovar começa a tornar-se numa zona inacessível e perto do século XII grande parte do seu poder económico já está perdido. O cordão litoral encontra-se na zona da Torreira e, com avançado assoreamento da zona começam somente a passar barcos de calado mais reduzido. Por esta altura a produção de sal começa a ser a única fonte de rendimento da zona.
Parte 3
O tempo não pára e o assoreamento continua a aumentar. Numa questão de 100 anos a língua de areia atinge o local onde hoje está fixada. As condições que 3 séculos antes tornaram Ovar na zona impulsionadora da região passaram para a zona de Aveiro.
O porto marítimo de Aveiro tem agora mais movimento que nunca e a criação de salinas faz com que Aveiro assista a um crescimento económico exponencial, levando-a à sua época áurea.
Mas, Aveiro acaba por assistir ao mesmo desfecho de Ovar. O cordão litoral começa a tornar a água da região cada vez mais estagnada que impede o escoamento dos detritos provenientes do Vouga.
As correntes marítimas continuam com o seu trabalho, arrastam os detritos provenientes da erosão do litoral norte do país e depositam-nos nesta zona, ao mesmo tempo que orientam o cordão litoral, levando-o em direcção a mira.
Os séculos passam e o fundo oceânico altera-se. No século XV a língua de areia já estava na Costa Nova, dificultando o acesso marítimo ao porto de Aveiro fazendo com que o tráfego marítimo diminuísse um pouco. Ovar nesta altura tinha entrado em recessão económica pois a navegação para a região tornara-se muito difícil e as salinas já não tinham tanta importância económica como na altura.
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