Julgamento: família cigana escravizou três homens em quinta
«Éramos tratados pior que animais»
«Trabalhei muito, não me pagaram, bateram-me e alimentaram-me mal, fui um escravo”, afirmou ontem Miguel Lopes, de 51 anos, ao Tribunal da Covilhã, onde recomeçou o primeiro julgamento de um caso de escravatura em Portugal.
O homem, natural de Ovar, é um dos três alegados escravos resgatados pela PJ da Guarda nas vésperas do Natal de 2003, a um casal de etnia cigana, em Trigais, Belmonte.
Miguel Lopes acusa Francisco Botelho (arguido, a par da sua mulher) de o ter levado para Espanha para trabalhar na agricultura, não lhe ter pago e do ter maltratado. «Mostrou-me várias vezes a pistola, por isso não tentei fugir, estávamos sempre vigiados!», contou.
A vítima explicou ao colectivo de juízes que antes, ainda em Portugal, o arguido disparou um tiro contra ele: «O Francisco entrou no curral onde vivíamos, fechou a porta por dentro e disparou a arma contra mim. Noutras alturas levei muita tareia. Senti-me pior tratado que os animais que viviam connosco».
Manuel Adolfo, de Ovar, outra das alegadas vítimas, disse que só foi agredido pelo filho do casal cigano, de 15 anos. «O Miguel é que apanhava mais, pois era o que mais se impunha ao casal», disse.
Carlos Fernandes e José Eugénio ambos de Ovar, também «escravizados», mas que escaparam sem necessidade de intervenção das autoridades, confirmaram os casos de maus tratos e sequestro em Espanha e Trigais. A quarta audiência do julgamento é amanhã, com a audição de mais nove testemunhas: cinco de Defesa e quatro de Acusação.
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