quarta-feira, janeiro 24, 2024

As convenções do Chega no Guinness Book, já! - Por Pedro Nuno Marques
O Chega passa a vida em convenções, congressos, encontros, eleições e reeleições e cenas. Parece que é a forma por eles encontrada de saltar para a ribalta quando começam a cair no esquecimento. Não há memória de um partido ou movimento político que se reúna tamanha quantidade de vezes em assembleias magnas, ordinárias ou extraordinárias.

Devem ter um grupo enorme no WhatsApp onde vão falando de coisas aleatórias e agendando convenções para os momentos mortos. E quando não há matéria sobre imigração, ciganos ou zaragatas entre tipos do Paquistão e da Índia nos arredores de Odemira, ficam cheios de saudades uns dos outros que optam pela ´milésima` convenção.

A malta do Guinness parece desatenta.  Mas pouco importa. À medida que se vão reunindo aqui e acolá, mais figurões a roçar a essência do cartoon mais parodiante vêm à tona, desde um jovem que pensa como o “querido líder” – apesar de afirmar que não lê os pensamentos de pessoas -, passando pela glorificação medievalista daquela gente a André Ventura, até a um homem, pai e avô de família, que, a medo e de voz cerrada e tremida, assume-se como fascista.

Há um pouco de tudo por lá. É um cenário que nada deve a um festival de variedades e de entretenimento. Eu conheço pessoal que pagava para lá estar e, no entanto, houve quem assistisse àquilo de borla, desfrutando de dois dias em que a apologia ao ódio foi tão encriptada como categórica. A plateia rejubilou com tudo aquilo. Parecia em transe.

Alguns dos militantes até verteram um pouquinho de xixi assim que viram André Ventura entrar sala adentro. Foi um momento simbólico e que me trouxe à memória o sentimento agridoce de um vizinho meu que passa a vida a dizer: “Volta, Salazar! Estás perdoado!”. A isto, respondo-lhe: “Oh, amigo, olhe que Salazar já morreu há mais de cinquenta anos!

E vivemos numa democracia. E cenas”. Resmunga para dentro, vira costas e baza dali, triste como um pai ou um avô fascista e angustiado. “É lidar”, penso para mim. E é.

Pedro Nuno Marques
https://www.ovarnews.pt/as-convencoes-do-chega-no-guinness-book-ja-por-pedro-nuno-marques/

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