sábado, abril 16, 2022
Em Ovar, encerrado o tempo do Entrudo, inicia-se um período de recolhimento e reflexão. Pelo menos desde o século XVII, organizam-se grandes procissões com os passos da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
Depois do cancelamento destes eventos seculares da vida religiosa ovarense, ditado pelo coronavírus, em 2020 e 2021, aguardava-se o regresso à normalidade em 2022. No entanto, ainda não foi este ano que a cidade assistiu ao seu regresso.
Muitas têm sido as vozes a questionarem o cancelamento, pelo terceiro ano consecutivo, das celebrações processionais, mas a Paróquia explica que se ficou a dever a motivos de segurança.
“São cinco procissões que exigem uma rectaguarda de preparação importante, na sua maioria, envolvendo pessoas com alguma idade que ainda estão um pouco receosas da pandemia e decidimos não arriscar”, explica Victor Pacheco, o novo padre que assumiu a Administração da Paróquia de São Cristóvão de Ovar após a morte do anterior pároco, Manuel Pires Bastos, vítima de Covid19.
Sendo um pároco jovem, tem a visão de que a Quaresma vareira tem potencial para consubstanciar outro tipo de programação. O padre que assumiu a paróquia em Agosto do ano passado sugere que se pode estar prestes a inaugurar um tempo novo e convida a que se pense neste hiato como um período em que “estamos a ganhar fôlego para regressar com um novo impulso, em 2023, abrindo mais a tradição à comunidade, envolvendo mais as instituições e incluindo um programa cultural que dê outra visibilidade à tradição”.
Victor Pacheco tem-se encontrado com representantes das comissões organizadoras das festividades de Braga, Óbidos ou Idanha-a-Nova "que têm inovado bastante nos últimos anos para colher ensinamentos e trocar experiências para o futuro". "É importante dar um novo impulso, sem perder a sua raiz", frisa.
Não dá para comparar as festividades da Quaresma de Ovar, tal como se faziam, com outras cidades que investem muito na programação, mas há sempre ensinamentos a apreender.
No caso ovarense, os monumentos existem, "mas isso não basta", defende Victor Pacheco, "é preciso ter um produto que atraia, o que não sucedia até agora em que se tratava de um evento de cariz local".
As Procissões
A primeira a sair para a rua seria a Procissão das Cinzas, mais conhecida por Procissão dos Terceiros, com possível origem em 1663, teve várias configurações ao longo dos séculos. Actualmente, envolve 14 andores com as imagens dos Santos Tutelados da Ordem Terceira de São Francisco.
Duas semanas depois sai a Procissão dos Passos, ou do Encontro, que se constitui com o ponto alto das Quaresma ovarense. Organizada pela Irmandade dos Passos, a mais antiga de Ovar (fundada por volta de 1570 ou 1572), esta é considerada a celebração colectiva mais importante do calendário pascal, pela envolvência que as Capelas dos Passos proporcionam nesta tradição secular.
A Semana Santa fica marcada pelas procissões nocturnas, iniciando com o Ecce Homo, na quinta-feira, com origem no séc. XVII, aparece com diversas designações: Terro-Terro, da Cana Verde, dos Penitentes (permitiu a confissão pública de muitos penitentes, de cabeça tapada), dos Farricocos ou dos Fogaréus (homens vestidos de preto com as matracas e fogaréus nas mãos).
A sexta-feira Santa assiste à Via Sacra e ao Enterro do Senhor, sendo que esta última faz o percurso da Paixão de Cristo com dois andores – o esquife com Cristo Morto e Nossa Senhora da Soledade – regressando ao mesmo local para o Sermão final.
https://www.ovarnews.pt/?p=61023
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