Os blogs removíveis
«Um blog,- povoaonline.blogspot.com, (aqui, ainda em cache no Google) -alojado no Blogger, foi "removido", por decisão de um tribunal cível de Lisboa que para tal notificou a Google.
Os fundamentos da decisão, ironicamente, podem ser lidos num outro blog, -povoaoffline.blogspot.com - criado para substituir aquele.
O que esta decisão, algo insólita, de um tribunal cível português, permite comentar, além do mais, é o seguinte:
Em primeiro lugar, a inutilidade de uma medida deste género, cautelar ainda por cima e a que se seguirá obrigatoriamente, a acção cível (e não penal, como já li por aí no blog da causa), tendo em conta a facilidade de criação de blogs deste género, animados por quem quiser, numa liberdade quase absoluta de expressão.
Sendo discutível a validade intrínseca deste género de blogs (em Braga, há pouco mais de um ano, havia um, ainda mais ácido e com um objectivo de civismo um tanto ou quando duvidoso: dedicado à Câmara Municipal local e ao seu presidente de décadas de poder), também será inútil tentar travar por via judicial, a necessidade estrita de algumas pessoas, em escrever e anunciar os gritos de revolta pelo que vêem à sua volta e que aliás todos vêem, mas preferem fazer de conta que não vêem.
O direito à indignação, por vezes, surge em manifesto de blogs, assim organizados anonimamente . Alguns, chamam-lhes cobardes. Mas esquecem a coragem de quem ,sabendo de desmandos no governo da coisa pública, preferem calar a denunciar.
Por outro lado, merece ainda uma nota, o facto de este género de blogs, fazerem o papel dos antigos "pasquins", em modo de panfleto escrito ou até em modo oral, de voz disfarçada e que nas aldeias antigas, serviam para divulgar pela calada da noite, em modo anónimo, os escândalos que todos conheciam mas ninguém se atrevia a enunciar publicamente.
Atingindo indubitavelmente a consideração alheia, denotam também uma impunidade reinante. Não a que se prende com a responsabilização dos seus autores anónimos,mas de um modo mais subtil e evidente, a que se mostra a todos e que passa pela impossibilidade de os poderes públicos, moralizarem a vida política, pública, em certos lugares.
Os tribunais, cada vez mais, não servem para esse efeito. A prova simples e directa, reside na pequeníssima quantidade de corruptos julgados e condenados.
Por outro lado, a sociedade de outras instituições, mormente as políticas, tudo parecem fazer para escamotear e abafar as situações conhecidas, publicamente escandalosas e que deveriam fazer soar todas as campainhas de alarme público.
Na ausência de moralização, e perante a evidência de completa ausência de eficácia dos poderes públicos, alguns optam pela via dos blogs anónimos, para tentar equilibrar os pratos da justiça social.
Não os aplaudo em pé e publicamente. Mas também não serei eu quem lhes atira pedras.»
(«Grande Loja do Queijo Limiano»)
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