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Beth Carvalho de volta ao Brasil

Definitivamente, não é à toa que Beth Carvalho ostenta o título de madrinha do samba. O gênero completou, este ano, nove décadas de existência - considerando- se como marco inaugural a gravação de "Pelo Telefone", de Donga, em 1917. Ela, por sua vez, está comemorando 40 anos de trajetória dedicados a ele, que é tido como o mais brasileiro dos ritmos. É nesse clima de celebração geral que Beth chega a Belo Horizonte para única apresentação, amanhã, na Estação do Conde.
A base do show é o repertório do DVD "Ao Vivo no Theatro Municipal", que, lançado no final do ano passado, juntamente com um CD ao vivo, marcou a estréia de seu próprio selo, o Andança, e tem lhe garantido excelente retorno de crítica e público, além de shows no Brasil e no exterior. Particularmente descontraída e bem-humorada, Beth conversou com a reportagem, por telefone, do Rio de Janeiro, para falar sobre a apresentação de amanhã e o atual momento da carreira, que classifica como espetacular.
"Nesse show em Belo Horizonte não vou mostrar a íntegra do DVD, que é muito grande, mas entram músicas como ‘Se Você Jurar’, ‘Linguagem do Morro’, ‘O Show Tem Que Continuar’, ‘As Rosas Não Choram’, ‘Coisinha do Pai’ e outras. É uma mistura dos clássicos com músicas pouco conhecidas na minha voz", adianta. Uma parte desse repertório também foi apresentada, há dois finais de semana, no Montreaux Jazz Festival, do qual ela participou pela quarta vez. O show de amanhã, a propósito, é o primeiro que faz no Brasil depois que retornou da Europa, onde se apresentou, também, em duas cidades de Portugal.
"Foi tudo maravilhoso, um sucesso. Em Montreaux, a gente acaba de fazer o show e eles já entregam o DVD que foi gravado ali na hora", diz, ressaltando que aguarda para breve o lançamento de um DVD que registra sua participação no festival suíço em 2005. "Em Portugal também foi muito bom, o pessoal lá sabe tudo da gente. Cantei em duas cidades, Ovar e Mealhada, que são consideradas as capitais do Carnaval por lá. É parecido com fazer show no Brasil porque eles sabem cantar tudo", completa.
Ela observa que, se o samba vai bem em Portugal e no resto da Europa, no Brasil também vive um momento de glória, nem agonizante e tampouco moribundo, como Nelson Sargento um dia o cantou, em seu "Agoniza Mas Não Morre". Para fazer essa análise, Beth precisa simplesmente chamar a atenção para o que está acontecendo no atual cenário da MPB.
"O samba está em alta como há muito tempo não se via. Todas essas cantoras novas que estão surgindo aparecem justamente cantando samba - a Teresa Cristina, a Mariana Aydar, a Roberta Sá, a Nilze Carvalho. Até a Marisa Monte este ano ganhou um Prêmio Tim como melhor cantora de samba por causa do disco ‘Universo ao Meu Redor’. Eu gosto dessa turma nova e destaco os grupos que têm um trabalho mais de raiz, como o Galo Cantou, do qual sou madrinha, e o Quinteto em Branco e Preto, que também ajudei a botar na roda", orgulha-se.
Se por um lado ela diz interessar-se pela nova geração, por outro não hesita em listar os nomes que considera fundamentais nesses 90 anos de samba: "Dona Ivone Lara, Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola, Candeia, Arlindo Cruz, Sombrinha, Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Luiz Carlos da Vila... É muita gente". A empolgação que ela demonstra com as efemérides relativas ao seu ofício é potencializada pelo que considera ser o início de uma nova fase em sua carreira, com o lançamento de um selo próprio. Beth diz que sempre foi uma artista inquieta e, consequentemente, marcada pelo pioneirismo e que a criação do Andança apenas reflete essa postura.
"Fui a primeira cantora a ter um site e - o que pouca gente sabe - fui a primeira cantora a gravar um CD de samba no Brasil, logo quando esse suporte surgiu para substituir o vinil. Tudo bem que aí foi coincidência, coisa da gravadora, mas tenho esse espírito de pioneirismo e até reconheço que demorou para eu fundar um selo. É importante para o artista porque ele fica sendo o dono do próprio ‘master’ (o registro original de um disco, a partir do qual se fazem as cópias)", diz, ressalvando que o empreendimento ainda está engatinhando, depende de parceiros para distribuição e promoção, mas que já conseguiu emplacar dois importantes projetos - o DVD/CD "Ao Vivo no Theatro Municipal" e o disco "Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia", que tem lançamento previsto para outubro e sobre o qual ela prefere não adiantar muita coisa. "Só o que posso dizer é que está a turma toda comigo, Gil, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown", adianta. (Ler mais aqui)