Miss Sheila, Disc-Jockey (DJ)
«Machismo não é exclusivo português»
Na vida real ela chama-se Sheila Lopes, mas quando coloca os auscultadores, as pistas de dança explodem. Transforma-se em Miss Sheila, “DJ” de créditos firmados em Portugal e não só. Nascida há 26 anos na África do Sul, fixou residência em Esmoriz, no concelho de Ovar. Fomos ao seu encontro.
Como é que surgiu a oportunidade para entrar no mundo dos DJ's, normalmente dominado por homens?
Eu comecei no meu bar, numa altura em que adquiri algum material de DJ. Nessa época, o Sérgio Oliveira ensinava-me as bases do “Djing” e pouco tempo depois já estava a fazer minha primeira actucão ao vivo num clube perto de minha casa. Como correu bem, passei a pertencer a uma agência de DJ’s, onde tudo acabou por acontecer muito rapidamente.
Como se sente sendo, normalmente, a única mulher neste ramo? Acha que tem alguma vantagem por isso?
Acho que sim, que tenho algumas vantagens em ser mulher mas, por outro lado, também acho que temos o dobro do trabalho para conseguir que olhem para nós como “DJ’s” e não só e apenas como mulheres. E falo no plural porque, de longe, não sou a única mulher no ramo, pois já há muitas mulhers “DJ´s”, felizmente, e acho que todas nós lutamos pela mesma coisa...
Há machismos ou é sempre bem recebida? Lá fora, onde também é convidada a tocar, há mais mulheres DJ?
Normalmente sou sempre bem recebida, mas, sim, há muito machismo apesar de considerar que houve tempos em que foi pior. Acho que cada vez mais começa a haver respeito pelas mulheres “DJ’s”, pelo menos muitas têm feito por isso, e isso vê-se nos “sets” que elas têm feito por “clubs” em todo lado. No estrangeiro, há mesmo muitas mulheres a passar música e muitas delas bem reconhecidas, mas a questão do machismo está sempre presente e sente-se pelo mundo fora, não é um exclusivo de Portugal. Mas, por fim, digo só: «A Música Não Tem Sexo»...
Que estilos de música é que gosta mais de passar? Numa sessão, passa aquilo que gosta ou o que a «casa» pede?
O estilo de música que mais gosto é o “House Progressivo”, mas dentro deste há vários ritmos, sons, vocais, etc. Por isso, procuro sempre passar música para a casa, mas sem fugir ao meu gosto pessoal.
Em que países é que já tocou e qual o que gostou mais? Qual foi a casa que mais a marcou?
Já toquei na Espanha, Bélgica, Holanda, Suiça, e América do Norte. Tenho que dizer que gostei muito de actuar em Roterdão. Foi incrível a forma como as pessoas entraram na festa. Aliás, nunca vi tanta gente gira e com espírito tão em alta num festival. Mas também devo dizer que em Espanha, o público não fica nada atrás. Mais recentemente adorei de tocar no «Spectra», na cidade de Vigo, também cheio de gente alegre e com os ouvidos afinadíssimos... Não tenho a menor dúvida que os espanhóis sabem ouvir e curtir.
Pode viver-se da música em Portugal? Considera-se uma “DJ” de top?
Não é nada fácil, nos dia de hoje, viver só da música, mas de facto eu vivo. Tenho que trabalhar muito porque não me considero uma “DJ” de top... mas sem dúvida que estou e vou continuar a fazer por isso. O meu objectivo é fazer ainda mais concorrência aos grandes nomes que andam nisto pelo mundo fora. Claro que não é fácil, mas é indubitavelmente um desafio irresistível.
A música que toca quando está a trabalhar é aquela que ouve em casa? É preciso muito treino para chegar ao patamar em que se encontra?
A música que ouço em casa é precisamente aquele que toco nos "sets", porque não há muito tempo para ouvirmos outras coisas, pelos simples facto de que todas as semanas sai muita música nova que temos que ouvir, escolher e, claro, praticamente decorar para as conhecermos bem e nada falhar nos espectáculos. Para isso, é verdade que é preciso muito treino, porque a experiência é a nossa maior arma.
Pode dizer-se que as mulheres têm uma sensibilidade diferente para este tipo de profissão de meter discos?
Eu acho que as mulheres têm de facto muita sensibilidade para isto, mas também há muitos homens que a possuem também. Eu acredito que um bom “DJ” simplesmente nasce com jeito para a coisa.
Como se define como mulher?
Bem essa deve ser a pergunta mais difícil aqui (risos)… Não sei porque não gosto de falar muito de mim…
Ainda lhe sobra tempo para se dedicar ao seu bem-estar físico e psicológico?
Sim, tento sempre conciliar a minha profissão com aquilo que me confere estabilidade física e emocional. Não é fácil, mas tento.
Como reagiu a sua família à sua opção profissional? Era a sua vocação?
Naturalmente, no princípio tiveram algumas dúvidas, mas depois rapidamente deixaram de as ter. Posso dizer que se não fosse o apoio deles, ainda hoje, não sei se teria aguentado!! (risos) (Publicado originalmente no «Espaço Mulher», do Diário de Aveiro)
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