terça-feira, outubro 21, 2008

TRICANAS 1870 , 1900 , 1915 - OVAR (BEIRA LITORAL)

A Tricana de 1870


Tricana era uma qualidade de tecido, mas passou a designar-se por "Tricana" a mulher do povo que envergava uma peça de vestuário confeccionada com esse mesmo tecido.
A Tricana de 1870 era a mulher da Murtosa, normalmente filha de lavradores abastados, que caprichava quando se vestia para ir a qualquer festa popular ou à igreja.
A Tricana de 1870 vestia:

Saia preta de lã, pregada a toda a volta, com uma barra de veludo preto; Casaquinha preta de lã, debruada a veludo preto; Capoteira de Baieta – tecido de lã debruado a veludo, liso ou lavrado - muito rodada, que descia até ao joelho e se usava pelas costas;
Lenço branco de bobinete, com nó singelo à frente;
Chinelas pretas;
Meias brancas de algodão, rendadas e feitas à mão;
Muitas vezes a mulher vestia desta maneira no dia do casamento e esse mesmo traje servia para a acompanhar até à morada final.

A Tricana de 1900

Com o passar do tempo, o traje da Tricana foi sofrendo algumas alterações, acompanhando a evolução do modo de vida da população.
Esta Tricana vestia-se da seguinte forma:
O xaile de barra de seda substituiu a Capoteira;
A saia passou a ser de seda lavrada, ainda que com roda até ao tornozelo;

O lenço passou a ser de seda e de cor, amarrado à frente e atrás;
Blusa de algodão fino, com espelho e renda;
Meias de algodão brancas, rendadas, feitas à mão; Chinelas pretas.
Quando ia para a festa, levava o xaile dobrado no braço. Quando ia para a igreja, punha-o pelas costas.

A Tricana de 1915

É nesta Tricana – de 1915 a 1920 – que podemos apreciar uma maior e mais rápida evolução.
A Grande Guerra de 1914-18 trouxe uma muito maior abertura do país à Europa, tendo começado a entrar em Portugal influências diversas, tanto no modo de viver, como, principalmente, na maneira de vestir.
Essa influência traduziu-se, no caso da Tricana, da seguinte forma:
A saia passou a ser feita de lã fina, perdendo quase toda a sua roda e subindo acima do tornozelo;
A blusa abotoa à frente e sem colarinho;

O lenço de seda passou a ser preto;
O xaile é de lã de merino com pontas de seda compridas;
As chinelas são de verniz e salto alto;
As meias passaram a ser de vidro.
Era um traje de festa e de cerimónias religiosas.


Fonte: Museu Etnográfico de Ovar in «Folclore de Portugal»

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