quarta-feira, agosto 22, 2007

Será?

O weblogue do candidato à presidência do PSD, Luís Filipe Menezes, continha,
até ontem ao final do dia, vários plágios de textos publicados em sites da
Internet, nomeadamente na Wikipédia, sem qualquer referência à origem. Em
alguns artigos assinados por Menezes, que é presidente da Câmara de Gaia,
não há uma única linha da sua autoria.
A 7 de Agosto, por exemplo, Luís Filipe Menezes quis assinalar os 62 anos da
tragédia de Hiroxima e socorreu-se da maior enciclopédia online. "No 33.º
dia após o aniversário dos Estados Unidos e às 8h35, do dia 6 de Agosto, o
Enola Gay lançou a primeira bomba", começa o texto "Hiroshima, meu amor",
sublinhando mais à frente que o material "radioativo [brasileirismo não
corrigido da Wikipédia]" se espalhou numa "espessa nuvem".
Neste caso, apenas houve o cuidado de actualizar o acontecimento,
relativamente à versão da Internet. "Foi há 62 anos", lê-se na frase que
encerra o artigo.
Os obituários de dois dos mais consagrados realizadores do cinema de autor
europeu do século XX também não escaparam à cópia. Um dia após a morte de
Michelangelo Antonioni, a 31 de Julho, dois dias após a morte de Ingmar
Bergman, um post, outra vez assinado por Luís Filipe Menezes, assinala a
ocasião fúnebre: "Antonioni e Bergman: desapareceram dois monstros sagrados
da Sétima Arte".
No caso de Michelangelo Antonioni trata-se da versão da Wikipédia que
existia a 31 de Julho (desde então houve várias alterações). O PÚBLICO notou
apenas a alteração de uma ou outra palavra, como "formou-se em economia" em
vez de "graduou-se em economia".
Com Ingmar Berman aconteceu algo semelhante. Cortou-se apenas parte de uma
frase onde se referia a localidade onde nasceu, logo no início, e depois
fez-se corta-e-cola praticamente até ao fim. Das últimas duas linha da
entrada na Wikipédia retirou-se a palavra "roteirista" , bem como a frase "de
forma tranquila, segundo sua filha, Eva Bergman - e, curiosamente, no mesmo
dia em que faleceu Michelangelo Antonioni."
Na entrada mais recente do blogue, por sua vez, datada de 16 de Agosto,
aquilo que parece uma homenagem ao escritor transmontano Miguel Torga não é
mais do que uma cópia exacta de partes do Dicionário dos Mais Ilustres
Transmontanos e Alto-Durienses, de João Barroso da Fonte, que estão
disponíveis no site BragancaNet, um portal sobre o Nordeste Transmontano.
O autor do livro disse ao PÚBLICO que não lhe foi solicitada qualquer
autorização de transcrição, e não foi feita qualquer referência a esta obra
no texto do autarca de Gaia.
O artigo sobre Torga, que é seguido do registo "Autor: Luís Filipe Menezes",
intitula-se "O Centenário de Torga", tem 22 linhas e 1300 caracteres. Sendo
essencialmente um registo biográfico do autor de "Os Bichos", o artigo
inclui também valorações sobre o escritor.
Regista-se, em particular, o retrato feito por David-Mourão Ferreira, que a
BragancaNet cita e de que o blogue luisfilipemenezes. blogspot. com se
apropria, sem indicar a origem.
"Órfão rebelde, Torga é, no dizer de David Mourão-Ferreira, a 'reencarnação
de um poeta mítico por excelência - daquele que vive na intimidade das
forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água), para celebrá-las com o
seu canto - e alto exemplo de constante rebeldia, numa atmosfera que
pretende asfixiá-lo", lê-se no texto que o autarca de Gaia assina.
Questionado sobre a origem dos textos, José Aguiar, um assessor de Luís
Filipe Menezes, respondeu através de uma mensagem de SMS: "Eventuais
incorrecções na identificação da autoria serão corrigidas e devem ser,
naturalmente, tidas como lapso."

(in "Público")

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas que coisa feia...

Anónimo disse...

Bonito é o pormenor deste post conter "in Publico" será para continuar?