Roteiro Turístico de Ovar (1940)
Nos finais dos anos de 1940, a ROTEP (de: Roteiro Turístico e Económico de Portugal), com sede na Av. da Boavista, 1424, no Porto, editaria desdobráveis de papel forte com indicações geográficas e económicas dos concelhos do país (fechados mediam 16,8 x 22,4 centímetros; abertos oito vezes aquela dimensão). Não sei se foram editados todos os concelhos, mas tenho indicações de, pelo menos, 229 o terem sido.
Como se pode observar (...), as capas representavam espaços paisagísticos ou edifícios facilmente reconhecíveis dos concelhos, como a Câmara Municipal. No interior, havia uma pequena história do concelho.
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Respigo algumas linhas do desdobrável de Ovar: «As antigas indústrias - fabrico de louças de barro sem vidrar [...] - desapareceram, suplantadas pelo aparecimento dos esmaltes e pela construção de paredões onde os grandes navios, que vêm ao Tejo, acostam comodamente. Oleiros e calafates são, em Ovar, figuras da tradição. As duas olarias sobrevivas dedicam-se, apenas, ao fabrico de vasos para jardim e algumas vasilhas para líquidos. Em sua substituição, todavia, temos uma importante fábrica de telha do tipo de marselha, tijolos e tubagem de grés e botijas. Tiveram larga fama de mestras de bordados a branco e de flores artificiais as mulheres que viveram em Ovar por todo o século passado [leia-se XIX]. Para as pessoas de bom paladar, subsiste a indústria do pão de ló, célebre entre as celebridades das gulodices nacionais».
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E, durante parte do século XX, a fábrica de motores Rabor deu fama ao concelho, como numa das imagens mais pequenas abaixo se consegue descobrir.
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Estas imagens, como se descobre facilmente, eram os mapas com apontamentos económicos, de trajes e tradições, num exemplo perfeito da ideologia do Estado Novo: a ruralidade, a auto-suficiência, a distinção de especificidades: as praias na Barrinha de Esmoriz, em Cortegaça e no Furadouro; as romarias em S. Vicente de Jusã, Senhora de Entre-Águas ou Senhora do Desterro; o chapéu vareiro, a nora, as fábricas.
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Na última página do desdobrável, identificavam-se outros dados do concelho, como população e área do concelho. Em 1949, Ovar tinha estação telégrafo-postal de segunda classe, com horário para o público das 8:00 às 20:00 e serviço permanente de telefones. Então, publicavam-se dois semanários: João Semana e Notícias de Ovar.
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À falta de um termo melhor, cunho como regionalista esta estética numa indústria cultural incipiente - o turismo. A segunda guerra mundial acabara pouco antes, vivia-se por toda a Europa um período de reconstrução e Portugal, apesar de não ter entrado directamente na guerra, procurava reorientar-se económica e politicamente (o que não aconteceu). A estética saída da Exposição nacionalista dos centenários (1940, em que se comemoravam a independência do século XII e a restauração de 1640) vincar-se-ia oficialmente, deixando outras estéticas (como o surrealismo e o neo-realismo) para outros agentes sociais e culturais.
(Texto e imagens fruto de pesquisa de «
Indústrias Culturais»)
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