sexta-feira, junho 07, 2024
Em resposta aos desafios prementes que as atividades humanas e as alterações climáticas colocam aos ecossistemas marinhos, a União Europeia financia o projeto BioProtect com oito milhões de euros para proteger e restaurar a biodiversidade marinha no Oceano Atlântico e no Ártico. A Universidade de Aveiro, através do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), é parceira.
O projeto é coordenado pela instituição de investigação Matís na Islândia e reúne 18 parceiros de oito
países dos quais se destacam cinco instituições portuguesas: o Centro Interdisciplinar de Investigação
Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR-UP), a Universidade de Aveiro, o INESC TEC,
o Okeanos da Universidade dos Açores e o AIR Centre. Durante os próximos quatro anos, estes
parceiros irão colaborar no desenvolvimento de soluções inovadoras, ajustáveis e escaláveis,
centradas num conjunto de ecossistemas marinhos, com o objetivo de conservar a biodiversidade nos
mares europeus.
Segundo Sophie Jensen, investigadora no Matís e coordenadora do BioProtect, trata-se de “um projeto
inovador que visa responder à necessidade urgente de soluções globais e sustentáveis para atenuar
os efeitos das pressões induzidas pelo homem e das alterações climáticas nos ecossistemas
marinhos. Através da investigação, da inovação e de parcerias estratégicas, pretendemos criar
soluções que não só preservam como também recuperam a biodiversidade marinha.”
Como se distingue o projeto BioProtect?
No passado foram implementadas abordagens de proteção e restauro de biodiversidade marinha
centradas na gestão sectorial e desenhadas para escalas espaciais únicas que não representavam as
características de diferentes locais. Estas abordagens “one size fits all” não refletiam a diversidade dos
ecossistemas marinhos e por isso não foram capazes de travar a perda de biodiversidade. A estratégia
do projeto BioProtect é não só inovadora como flexível ao integrar diferentes escalas espaciais e
fontes de dados, permitindo o ajuste ideal a diferentes regiões. Para isso, o BioProtect considerará um
conjunto de cenários, incluindo alterações climáticas, estratégias de proteção e exploração, e avaliará
os seus impactes ecológicos e socioeconómicos. O projeto irá ainda colaborar ativamente com a
sociedade e com um vasto leque de partes interessadas, de gestores de recursos naturais a decisores
políticos, para garantir a implementação efetiva e a utilização das suas soluções. Ao aumentar a sua
consciencialização e permitir que estas entidades, assim como os cidadãos, participem no processo
de tomada de decisão, o BioProtect capacita-os para proteger e restaurar os ecossistemas marinhos e
a biodiversidade.
Soluções de apoio à gestão testadas em toda a Europa
O BioProtect irá consolidar as soluções de proteção e restauro de biodiversidade marinha
desenvolvidas no âmbito do projeto num quadro de apoio à decisão que será apresentado em cinco
locais de estudo em toda a Europa, incluindo Portugal.
Este quadro incluirá métodos para monitorizar e prever alterações na biodiversidade marinha, mapear
as pressões humanas, dar prioridade a áreas de proteção e restauro e medir os impactes ecológicos e
socioeconómicos das ações de conservação. Ao capacitar o público e entidades locais com impacto
no sector, este quadro incorporará também as suas perspetivas e conhecimentos para apoiar a sua
implementação e explorar ao máximo as soluções de conservação.
O papel de Portugal
Desenhado tendo em conta os objetivos da UE para 2030 e o Pacto Ecológico Europeu, o projeto
BioProtect reuniu uma rede de parceiros robusta e desenhou uma abordagem colaborativa para
caminhar para uma nova era de conservação e recuperação da biodiversidade marinha nos mares
europeus. Portugal, com a sua vasta ligação ao mar e um espaço marítimo nacional tão extenso,
tem um papel preponderante quando se considera a conservação e restauro da biodiversidade
marinha no Atlântico.
Joana Xavier, Investigadora do CIIMAR materializa a dinâmica do BioProtect em Portugal
destacando o potencial conjunto das competências de todos os parceiros: “Para além da dimensão
internacional, este projeto também permitirá consolidar a colaboração entre os parceiros nacionais
que possuem competências complementares nas áreas da exploração e observação de habitats
marinhos, experimentação com organismos de mar profundo, desenvolvimento de tecnologia e
robótica marinha, bem como socio-ecologia e governança marinha. Este trabalho em rede é crucial
para avançarmos não só o conhecimento mas também soluções e estratégias que apoiem a
gestão sustentável deste bem comum que é a biodiversidade marinha“.
Os cinco parceiros Portugueses esperam ter impacto no mapeamento de biodiversidade de
ambientes do mar profundo e implementação de áreas marinha protegidas resilientes às
alterações climáticas em estreita colaboração com os principais utilizadores do meio e recursos
marinhos. “Por exemplo, o mapeamento será feito a partir de embarcações de pesca permitindo
uma co-aquisição de dados científicos para uma tomada de decisão política que a todos diz
respeito” refere Ana Hilário, Investigadora no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM)
da Universidade de Aveiro.
Serão também desenvolvidas ferramentas de baixo-custo (câmaras de vídeo, sensores de ADN
ambiental), cuja aplicabilidade será demonstrada na região dos Açores e na região centro-norte do
continente e replicadas noutras regiões oceânicas através de uma coordenação de sinergias com
outros projetos da Missão “Oceano” que será assegurada pelo AIR Centre, enquanto farol da
BlueMission Atlantic & Arctic e responsável pela chamada BioProtect para Regiões Associadas.
Alfredo Martins do INESC TEC realça ainda o potencial da tecnologia aliada às ciências do mar
para a proteção da biodiversidade: “A tecnologia marinha inovadora que desenvolvemos em
Portugal está ao mais alto nível em termos internacionais e tem um papel crucial que em conjunto
com a ciência de excelência na área ciências do mar produzida nas instituições nacionais
evidencia neste projeto as elevadas competências nacionais que sustentam o “desígnio do Mar de
Portugal” no qual o problema da proteção da biodiversidade é um eixo fundamental de atuação.”
(Alfredo Martins, INESC TEC).
Marina Carreiro-Silva, do Okeanos, remata alertando que “os efeitos cumulativos das atividades
humanas estão a degradar os ecossistemas marinhas, colocando em risco a biodiversidade
marinha e os serviços ecossistémicos prestados pelo oceano”.
Assim, o projeto visa também compreender os impactos cumulativos das alterações climáticas,
pesca e poluição do lixo marinho através da experimentação em aquário, e da identificação de
áreas mais suscetíveis a estes impactos, a fim de apoiar o desenvolvimento de políticas de gestão
para o uso sustentável dos oceanos e a preservação de zonas de refúgio climático.
O consórcio do projeto BioProtect reuniu pela primeira vez a 22 e 23 de maio de 2024 em
Copenhaga, Dinamarca. Este evento reuniu todos os parceiros do projeto num esforço de
colaboração para planear os próximos passos do projeto e começar a desenvolver soluções
orientadas para o impacto, que abordem eficazmente a perda de biodiversidade e as alterações
climáticas.
https://www.ovarnews.pt/projeto-europeu-envolve-cinco-parceiros-portugueses-para-proteger-e-conservar-a-biodiversidade-marinha/
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