Foi hoje a enterrar um grande vareiro, um apaixonado por Ovar. José Maria Graça, com quem tivemos o privilégio de conviver, era também um homem inteligente e possuidor de enormes virtudes humanas e cívicas. Em vésperas do Dia do Município, talvez tenha chegado a hora - porque nunca tarde, de ser homenageado por tudo o que fez e defendeu por Ovar.
Do sítio da Internet da Junta de Freguesia de Ovar respigamos este texto em sua memória. Que descanse em paz!
«Fascinante. Esta será, provavelmente, a palavra que melhor define a personalidade de José Maria Graça. Vareiro de gema, filho e neto de gente nascida em Ovar, sempre nutriu um grande amor pela sua terra e vai até ao fim do mundo, se preciso for, para enobrecer o nome desta localidade.
Do alto dos seus 88 anos de vida (nr: faleceu aos 90 anos), confessa não ter muitas memórias da sua instrução primária, mas lembra-se de apanhar peixes à mão no rio do Casal, de correr com a vizinhança e de jogar à bola.
Aos 14 anos a sua vida sofre uma reviravolta, pois é assaltado por uma doença óssea que o imobiliza até aos 18 anos e que lhe deixou marcas para sempre. Uma partida muito dura para um jovem, mas que nunca lhe esmoreceu a vontade de lutar e de ser independente. Passou pela Tesouraria das Finanças mas foi no Turismo que exerceu a maior parte da sua carreira profissional.
Fez parte do trio que idealizou o 1º Cortejo Carnavalesco organizado em Ovar, evento que chegou até onde chegou devido à imaginação e empenho destes homens. “O nosso projecto foi concebido contando com a ajuda dos bairros e com a ajuda do Notícias de Ovar” que usamos para fazer a nossa propaganda. Em finais de 1951 fomos apresentar a ideia ao presidente da Câmara Municipal, que era o sr. Coentro de Pinho, pois precisávamos de dinheiro. Éramos novos, estávamos cheios de confiança. E ele prometeu-nos ajuda e deu 150 escudos”, recorda.
José Maria Graça também esteve envolvido na organização das Procissões Quaresmais, na década de 60, tempo que lhe deixou as melhores recordações. “Fizemos um trabalho espantoso, porque conseguimos dar às procissões aquele aspecto que elas tinham tido há muitos anos”. Para angariar fundos para a compra de hábitos e opas, este grupo de homens organizou diversos eventos, de entre os quais se destaca um Torneio de Tiro aos Pratos, onde marcaram presença os melhores atiradores portugueses, como Armando Marques, o primeiro português que ganhou uma medalha olímpica de prata.
A estes eventos de sucesso somam-se muitos outros como as Marchas Sanjoaninas. “Foi um espectáculo. Desde os arcos até ao guarda-roupa, passando pelas músicas, algumas delas originais, foi um evento maravilhoso”, recorda.
Ao longo da sua vida nunca se decepcionou com as gentes da sua terra. “O povo de Ovar é bom, o que precisa é de ser falado pessoalmente, apelando sempre ao interesse da terra. Era assim que eu conseguia motivar as pessoas. Mas eu falava e ia à frente, não ficava em casa!”.
Outra curiosidade: em 1981, José Maria escreveu ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa sugerindo que fosse dado o nome de “Rua de Ovar” a uma artéria da capital, uma vez que “as varinas, de que tanto e tão justificadamente Lisboa se ufana, são oriundas desta vila”. José Maria escreveu ainda, nessa carta, que “posso garantir de que por volta de 1900 o maior número de fragateiros e proprietários de fragatas em Lisboa eram naturais de Ovar”. Devido a esta missiva, foi realmente aplicado o nome Rua de Ovar a um arruamento da capital.
No final da conversa, ficam alguns apelos. “Eu tenho duas netas. Só queria que elas gostassem de Ovar 25 por cento do que eu gosto e que amanhã se interessassem por fazer alguma coisa pela terra. Gostava que a população de Ovar sonhasse com Ovar como eu sonho, tivesse ideias e as pusesse em prática”.
Nem um livro chegaria para falar sobre esta figura vareira que tanto nos legou e vai continuar a legar. Mas de qualquer forma fica aqui o pequeno contributo da Junta da Freguesia de Ovar a este grande homem que é José Maria Graça».
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