Saímos de Mar Musa uma semana depois de lá termos chegado com o objetivo de ficar apenas dois dias. Saímos entre abraços e promessas de re-encontros, um dia, em Portugal. Saímos juntamente com outros viajantes que, como nós, ali chegaram para vivenciar o silêncio e o misticismo daquele local. De França, da Coreia do Sul, da Alemanha, do Equador, do Irão, despedimo-nos de todos eles já com saudades.
À nossa frente, o caminho que havíamos feito para ali chegar, desta feita em sentido ascendente. Quando começámos a ver as montanhas cobertas de neve que dividem a Síria do Líbano, sabíamos que, a partir dali, seria quase sempre em terreno plano. Boas notícias para quem já tinha perdido as calorias do pequeno-almoço.
A paisagem não revelava nada de interessante: uma estrada com duas vias para cada lado, repleta de camiões e automóveis circulando com pressa de chegar a algum lugar, apesar de ser sábado e tudo estar fechado. À primeira paragem para remendar um furo na bicicleta da Tanya, o primeiro polícia simpático desde que tínhamos entrado na Síria ofereceu-nos um chá. Momentos depois, uma carrinha parava e oferecia-nos duas laranjas. Mais tarde, um senhor parou e ofereceu-se para conduzir uns quilómetros e depois nos telefonar para nos dizer se o convento que procurávamos ficava para norte ou para sul. Mas ainda bem que não seguimos as suas indicações, ou teríamos pedalado em sentido contrário ao nosso destino desse dia: o mosteiro de Saint Jaques.
Tinham-nos dito em Mar Musa que existia um mosteiro ali perto, a uns quarenta quilómetros, onde estava uma Irmã portuguesa. Encontrar alguém que partilhasse connosco o mesmo idioma, que tivesse as mesmas raízes e que - pensámos nós - ficaria contente por ver compatriotas tão longe de sua casa, era razão mais do que suficiente para parar uma noite naquele local. Depois de quatro sandes de falafel para recuperar a energia perdida, entrámos no mosteiro e perguntámos se podíamos ficar. Fomos acolhidos com uma simpatia sem limites e, quando vimos sair da cozinha uma pessoa com as mãos molhadas, no ar, perguntando “o que é que vocês estão a fazer aqui?”, percebemos que a simpatia continuaria. (Ler mais in «Alma de Viajante»
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